12 - Queimando, parte 2

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Dei de ombros. Eu estava tão descontraída ali, tão bem como há tempos já não ficava. Tudo em Marte era tão complicado e um problema era seguido do outro. Eu estava otimista, embora eu não soubesse direito pelo quê.

Minha mente divagava e no fim, não chegava à nenhuma conclusão.

Sim, parecia que eu estava sobre efeito de alguma droga muito poderosa. No entanto, eu também não parei para pensar muito sobre.

Voltei à comer e degustar aquele pedaço de carne de carneiro.

Carne de carneiro.

Carne de carneiro bem passada. Crocante como chocolate.

Mas não era chocolate que eu comia anteriormente?

Minha mente tornou-se confusa. Não doía, mas incomodava o fato da minha total ignorância.

Eu não conseguia distinguir o que eu comia ou eu estava comendo tudo que eu imaginava e queria?

"Perigo!"

"Perigo!"

"Perigo!"

"Perigo!"

"Perigo!"

Outra vez a voz em minha mente.

Parei de comer e encarei a tigela. Obviamente eu não via nada além do amarelo, mas me esforçava para ver algo mais.

"Ajuda!"

E daquela vez, a voz de Ash fora como um ruído doído em minha cabeça. Não era mais como se ele falasse normalmente, era como se sua voz estivesse embutida à um arranhar de unhas em um quadro negro.

Todo meu corpo estremeceu e a tigela caiu no chão, não ouve barulho, o que me fez pensar sobre que material era feito para não quebrar.

Eu dei de costas para à mesa, sem nem querer saber se havia algo a mais para comer e me agachei indo em direção de onde estava deitada. De onde meu corpo tinha sido deixado.

Mais ágil, por ter comido, eu entrei novamente no espaço de antes, percebi pela cor amarelo mudar de tom, de um mais límpido e brilhante, à um mais escuro. E ficava cada vez mais escuro enquanto eu, engatinhando, andava para frente.

Meus joelhos doíam mais que minhas mãos arranhadas e a cada passo "engatinhado" que eu dava, mais doía. Ardia.

De um amarelo intenso e bonito, que deixava-me levemente em paz, sem pensar nos problemas e todo o resto, eu passei para um vermelho¹ forte... Que esquentava.

Levantei-me da maneira mais rápida que pude e alguém colocou uma mão imponente em meu ombro.

– Claire? – era a voz sutil de Ash – É você?

– Como você sabe?

Ele riu, mas não fora um riso bom, era quase um riso dolorido.

– Eu sempre enxerguei cada um de verdade.

Toquei a mão dele sobre meu ombro e senti sua pele quente.

– O que está acontecendo aqui? – perguntei com minha voz soando fraca, baixa e cansada.

Parecia que eu tinha corrido uma maratona, tanto que minha pele esquentava e suor descia pelas minhas costas. Eu não estava acostumada ao calor e sentir a temperatura aumentar gradativamente era angustiante.

– Queimaduras. – Ash respondeu com um fiapo de voz antes de cair ao meu lado.

Claramente eu não o vi caindo, mas sua mão em meu ombro me impulsionou para baixo junto a ele.

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