06 - Verde, parte 3

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O sofá verde. O cheiro de comida. A vontade de uma pizza quadrada. Loren.

O que isso estava relacionado a Loren? Minha mente divagava, tentando assimilar aquelas coisas, aparentemente ilógicas.

Repeti aquilo comigo mesma três vezes.

Sofá verde. Cheiro de comida. A vontade de uma pizza quadrada. Loren.

Tutor.

Sofá verde. Cheiro de comida. A vontade de uma pizza quadrada. Loren.

Professor.

Sofá verde. Cheiro de comida. A vontade de uma pizza quadrada. Loren.

Paterno.

Tutor. Professor. Paterno. Loren.

Naquele instante minha tensão se esvaiu um pouco, dando lugar a falta absurda de Loren. Por que eu sentia tanta falta dele se eu mal o conhecia? Ou conhecia?

Minha cabeça doeu e meus olhos sem explicação tornaram-se marejados.

Eu queria ter um pai como Loren.

Loren.

Por que eu estava sentindo falta dele?

Nesse segundo eu gritei de dor. Minha cabeça estava preste a explodir e eu estava me lembrando de Loren, a figura paterna que ele naturalmente se mostrou para mim. Eu lembrei dele perfeitamente e o sentindo fraterno que eu tinha por ele, voltou junto com uma falta absurda, mas agora explicável.

Meu grito não fora baixo e eu não sei o que tampava minha boca antes, mas agora, nada me calava e eu podia gritar enquanto me debatia na cama, até cair no chão, de cara.

Parecia que nada me segurava, além de minha própria mente.

Tentei me levantar, mas fiquei apenas de joelhos, sentindo, uma nova enchente de dor em minha cabeça enquanto as lágrimas de meus olhos desciam.

Eu chorava de dor.

Eu queria que aquilo acabasse.

Eu queria xingar.

Por que aquilo não acabava? Por que eu estava ali? Por que eu tinha que sentir tudo aquilo?

Coloquei as mãos em minha cabeça e gritei tão alto que meus próprios tímpanos doeram e eu não sabia que era possível sentir tanta dor assim.

– Lu-ke! – tentei chamá-lo, ele tinha que me tirar dali.

Luke tinha que me ajudar!

Por Zeus, por que Luke me colocou aqui em A-Zero na sala de Loren?

Eu não queria lembrar! Eu não queria lembrar de Loren e pensar na falta que ele fazia para mim. Eu não queria lembrar dele como a tal figura paterna em minha vida e sofrer sem saber onde ele está. Eu não queria lembrar desses momentos com ele e sentir tanta dor.

Eu não queria nada daquilo!

Gritei e tentei chamar a Luke, mais uma vez. Nada. Ele não apareceu.

Cai no chão, outra vez batendo meu rosto no mesmo. Não forte o suficiente para sangrar e se eu sangrava eu não via, porque minha dor mental era muito maior do que qualquer coisa que eu poderia suportar.

Quando eu estava preste a tentar gritar Luke pela milésima vez, eu vi um par de coturno meio branco e meio cinza perto de meu rosto, mas eu não tinha forças para levantar minha cabeça para olhá-lo.

– Eu sinto muito. – ouvi a voz de Luke e eu gritei algo parecia com um "por quê?" – Se doí agora, enquanto você se lembra de Loren, imagine o quanto vai doer quanto você se lembrar de James.

Mesmo entre a dor e a inconsciência eu entendi que Luke não estava me ameaçando, ele estava... Me alertando. Me alertando para o que eu viria sentir a seguir, o que seria ainda pior do que o que eu já sentia.

Gritei e toquei no coturno dele.

– Eu sinto muito. – ele repetiu com a voz quebrada como se sentisse dor por mim também – Eu não posso fazer nada. Só você poder domar isso, só você pode se curar, Claire.

Gritei e dessa vez tentei bater nele.

Percebi em meio a dor que ele se ajoelhou e logo depois me carregou, me debati, querendo que ele entendesse que tudo aquilo era culpa dele.

Luke se sentou comigo em seu colo no sofá verde.

Verde. Verde. Verde.

Eu definitivamente detestava aquela cor a partir de hoje. Era tanto verde e tanta dor.

Eu continuei me debatendo e tendo espasmos de dor, mas Luke me abraçou e se deixou ser arranhado, mordido e ferido... E não, nada disso de uma maneira sexual. Pelo contrário. Era uma maneira bem deprimente.

A partir daquele momento eu também senti o quanto eu amava aquele anjo selvagem que me abraçava enquanto eu gritava. Ele não reclamou em nenhum segundo. Ele aceitou toda a dor que eu infligia nele e continuava me abraçando e dizendo que sentia muito.

Doía lembrar e doía sentir falta de Loren Green.

Luke me apertou mais em seus braços. Eu não sabia distinguir em que posição estavamos, mas eu ficaria desconfortável de qualquer maneira, então, por quê ligar para isso?

– Eu sinto muito. – ele repetiu – Eu nunca quis te ver sofrer assim.

Porque a culpa era dele mesmo! Ele deveria sentir muito mesmo.

Mesmo. Mesmo. Mesmo.

Meu cérebro estava divagando. Eu não conseguia mais formular boas frases ou parágrafos... Frases boas. Boas frases.

"O quê?" pensei comigo e sorri e gritei e não entendi o que eu sentia mais, mas ainda doía.

Eu odiava a cor verde, mas eu não conseguia deixar de amar Luke.

Mas era um amor puro, bondoso, amigo e... Verde.

Verde. Verde. Verde. Verde. Verde.

***

Acharam o que dessa parte? Haha
Quem quer um POV (Ponto de Vista, em pt br) de Luke? o/o/o/o/

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