56 - Nostalgia Do Tempo

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Meus olhos imploram por descanso, mas ainda assim, minha mente teimosa insiste em continuar trabalhando. Pensamos vão e voltam como ondas em uma praia agitada e o estranho órgão situado ao lado esquerdo do meu peito não para de bater violentamente, causando um desconforto extremo em meu corpo. Não são como aquelas borboletas incandescentes que costumavam voar por toda a extensão de minha barriga; são como dinamites queimando segundo por segundo, até que chegue a hora de explodir.

Viro-me mais uma vez sobre o colchão duro de Niall e me cubro com um cobertor tão macio que compensa a rigidez abaixo de mim.

Ouço alguns sons vindo do lado de fora do seu quarto e com esse pensamento, decido por parar de ficar enrolando. Me sento na borda da cama e varro as paredes brancas cobertas por quadros variados; um deles mostra uma foto de Niall com uma criança loira em seu colo, outra contém uma foto tremida dele chutando uma bola em direção ao gol, mas uma em particular me chama mais a atenção, meus fios escuros contrastam com os seus claros enquanto eu estou agarrada em seu pescoço e pregada em suas costas, nossos sorrisos parecem querer rasgar nossas faces e nenhum dos dois parecia estar preocupado com o futuro incerto que o destino estaria preparando.

- Não conseguiu dormir? - Uma voz atrás de mim faz com que eu de um salto do lugar de onde estou.

- Não. - Respondo, observando seu semblante encostado no batente da porta. - Não sabia que você ainda tem essa foto guardada, ela é tão velha. - Encaro-a novamente.

- Fala sério, nós tínhamos treze anos, nem é tão velha assim. - Com curtos e calmos passos, ele para ao meu lado, roçando seu braço no meu. - Quem diria que essas crianças iriam ter de enfrentar tantos problemas? - Ele diz, com um sentimento de nostalgia transbordando de seus olhos.

- Passamos por tanta coisa. - Encosto minha cabeça no seu ombro, porém ele ergue os braços o que faz com que ela pouse em seu peito. - O mundo foi meio injusto com a gente em alguns momentos, mas aqui estamos nós. - Dou um longo suspiro.

- É, aqui estamos nós. - Concorda.

Rodo meu corpo, ficando de frente para ele, prestes a fazer uma pegunta que nunca chegamos a nos fazer em alto e bom som.

- Você acha que se tudo aquilo não tivesse acontecido, nós não seríamos amigos como somos hoje? - Niall pisca algumas vezes, tentando processar minha pergunta. As lembranças dos dias escuros devem ter voltado à sua mente, assim como voltam as minhas, quando penso demais no passado.

- Você sabe, seu problema com a bebida, meu problema com a alimentação. Você acha que tudo isso influenciou para que ficássemos ainda mais unidos? - As primeiras palavras são como espinhos em minha garganta, mas de qualquer maneira, foram uma triste realidade que tivemos que aguentar.

- Sinceramente? Acho que sim. Qualquer um que nos visse de fora diriam que nós éramos apenas dois adolescentes mimados que tinham tudo o que queriam, mas ainda assim inventavam desculpas para chamar a atenção de todo mundo. Porém, ao mesmo tempo em que você me entendia e me ajudava a passar por tudo, eu também fazia isso. Nós sabíamos da verdade, e, naquele momento, éramos tudo o que tínhamos. Um ao outro. - Seus braços me envolvem novamente e sou puxada para um abraço. - Nunca te agradeci por tudo o que você fez por mim. - Ele encosta o queixo no topo de minha cabeça antes de se afastar e me olhar diretamente nos olhos. - Muito obrigado por nunca ter desistido de mim, mesmo quando eu era o maior dos idiotas e tentava te afastar quando você apenas me dizia a verdade que eu precisava ouvir, mas nunca aceitava.

Algumas lágrimas brotam em meus olhos negros e eu as enxugo antes que elas possam cair.

- Não foi nada. Eu sabia que por trás daquela mascara de álcool que você se escondia, teria um carinha que tinha medo e que só queria um pouco mais de compreensão. - Digo. - Eu é que tenho que agradecer. Você também me ajudou, e muito. Você me fez perceber que eu não estava sozinha no mundo e que apesar de todas as perdas, eu ainda tinha você para me apoiar. - Dessa vez, as lágrimas desabam sobre minhas bochechas e caem em meus lábios, que formam um sorriso.

I Miss You       H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora