Landivia

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O único som que era escutado na casa do rei de Landivia era o de choro. Todas as princesas choravam pela ida de Safira, a filha mais nova.

— Você não pode ir – a princesa mais velha falou com lagrimas nos olhos. A princesa Lizia possuía cabelos loiros, herdados de sua mãe, olhos negros e sorriso gentil – Eu que devo ir. Sou a princesa mais velha, é o meu dever.

— Eu irei – Safira disse calma apesar das lagrimas caírem pelos seus olhos. Ela amava suas irmãs – E você tem que ficar para governar o nosso pacífico reino.

— Eles vão destruir tudo, nada restara – a outra irmã falou com a voz cansada. Safira se virou e sorriu ao ver os cabelos negros caindo no rosto de Hali, a segunda na linha de sucessão.

— Eles não farão nada.

— Como pode ter certeza? – Hali indagou tremendo.

— Simplesmente sei – confessou ao se aproximar, abraçando-a em seguida – Sempre o que digo acontece, não é? – ela concordou em silêncio – Então confie em mim mais uma vez.

Hali concordou contra a sua vontade. Em seu íntimo sentia que a ida de sua irmã para o novo reino iria acabar destruindo-a.

— Mande notícias.

— Acredito que a águia seria eficiente em trazer cartas suas – a princesa do meio, Muriel, falou ao aparentar frieza. Apesar de Muriel ser reconhecida pela sua frieza, ela era muito calorosa e sentimental.

— Se o nosso pai não for contra, irei leva-lo – Safira disse sem pensar duas vezes. Outra característica de Muriel era estar sempre certa. – Prometo que voltarei para vocês – sorriu confiante. Muriel assentiu, enquanto as outras duas princesas choravam ainda mais. – E nada irá acontecer comigo.

— Deveria levar alguém – Lizia se viu falando – Leve Celius consigo.

Safira tentou sorrir ao recordar-se de seu amigo de infância e responsável pela sua segurança em Landivia. Ela e Celius haviam prometido se casarem quando pequenos.

— Não poderia lhe pedir algo assim. Celius tem uma vida aqui, não posso tirar isso dele.

— Você também tem – Hali gritou frustrada – Estará indo para outro lugar, não conhece nada sobre eles, pode estar em perigo.

— Celius ensinou-me a pegar em uma espada, e a lutar.

—Tem coisas que você nunca saberá – Lizia interveio – Por favor, irmã, leve-o consigo.

— Falarei com ele – disse após pensar – Caso ele não queira, não irei força-lo.

— Ele vai – Muriel disse firme antes de olhar para a porta e avistar o rei entristecido – Meu pai – o saudou como fazia.

— Eu... Ele me pediu para lhe apressar – falou envergonhado de sua posição. O que mais desejava era salvar a sua filha. – Realmente não quero que vá, querida.

— Eu irei em seu lugar – Lizia disse alto.

— Entre você e Safira, a melhor opção é sua irmã mais nova, querida – o rei respondeu para Lizia – Ela sabe se defender, e tenho certeza que ninguém irá lhe fazer mal. Ela é a melhor escolha para essa viagem. – Safira assentiu em silêncio tentando não olhar para a sua irmã, pois sabia que ela gostaria de salvar Landivia. – Precisamos ir – o rei se viu falando com o coração partido. Safira concordou antes de olhar para os baús que havia arrumado com suas irmãs. – Mandarei alguém vir pegar.

Safira voltou a sua atenção para as suas irmãs, e sempre precisar falar mais nada, todas andaram até ela, abraçando-a.

— Sentirei imensas saudades de todas – Safira disse ao sentir o carinho e amor de suas irmãs.

***
Safira não se sentia uma mártir, e muito menos, uma alma bondosa por se propor salvar todos de Landivia, muito pelo contrário. Ela aceitara por saber que aquele era seu dever como governante do reino, e por estar curiosa sobre o mundo que desconhecia. Tudo que ela conhecia se resumia as histórias contadas pelo seu pai quando criança, e pela primeira vez tinha a chance de desvendar a verdade por trás dos contos de fadas.

Seus passos seguiam firme ao acompanhar o general Richiston pela ilha, enquanto iam em direção ao porto. Ela não se importava com a rapidez com que tudo acontecia. Durante todo o percurso avistou acenou para todos que olhava para ela, e ao avistar Celius, estancou. Celius continha uma doçura em seu olhar que contrastava com sua forma rápida de matar alguém. Ele não tinha mais do que 22 anos, possuía cabelos escuros, pele bronzeada e um corpo musculoso. A maioria das jovens solteiras olhavam para ele com desejo, com exceção de Safira que sempre o viu como um irmão.

Tentou segurar o sorriso ao vê-lo correr em sua direção segurando a sua espada.

— Safira, para onde vai? – Celius perguntou ao parar em sua frente. Olhou para os homens que seguravam alguns baús logo atrás dela, e em seguida para o capitão extravagante – É verdade que está sendo levada contra a sua vontade? Basta me dar um sinal que acabo com todos eles – falou ao segurar em sua espada pronto para matar todos.

— Estou indo para outro reino – Safira começou com cuidado afim de evitar confusões – Eles não irão me fazer mal algum. Retornarei após um tempo, mas não precisa se preocupar comigo, está tudo bem.

— Está indo sozinha? – Celius perguntou atônito. Em seu pensamento uma princesa jamais deveria sair sozinha. – O rei sabe disso? Permitiu?

— Sim, ele confia em mim, meu amigo – sorriu ao ver a sua preocupação.

— Deixe-me ir com você, prometo não lhe atrasar. Vou apenas pegar algumas roupas.

—Não posso permitir que largue a sua vida aqui para se aventurar comigo.

— É o meu dever. Prometi ao seu pai que sempre cuidaria de você, e é o que farei.

— Celius... você não precisa fazer isso.

— Eu quero fazer. Eu preciso.

Safira suspirou antes de voltar a sua atenção ao general.

— Podemos esperar um pouco? – o general sorriu concordando ao estudar o casal a sua frente. Levar uma jovem de um reino desconhecido já traria problemas a ele, mas se o jovem fosse o seu amante tudo estaria perdido. Ele iria observar a situação com calma, e caso suas suspeitas se revelassem verdadeiras não hesitaria em matar o homem.

— Coloquem os baús no navio – o general ordenou para os homens, enquanto sorria. Safira permaneceu quieta ao olhar para onde Celius havia se dirigido – Ele é um amante? – indagou sem hesitar. Safira não esboçou reação alguma, apenas se virou e encarou o general.

— Richiston, correto?

— Certíssima – elogiou.

— Não sou como as mulheres que conhece. Não imagino como sejam as relações entre homens e mulheres em seu reino, mas no meu, nos respeitamos. Ele é um amigo, um irmão e protetor. Não ouse diminui-lo para um amante insignificante.

— Perdoe-me – disse surpreso por alguns instantes – É a primeira jovem que ousou me enfrentar. O rei deve gostar de você.

— Como se eu me importasse – resmungou ao voltar a sua atenção para o caminho que Celius havia percorrido.

Ela pode se tornar alguém muito interessante, Richiston pensou sorridente ao ver, enfim, o homem de outrora indo até eles, com uma sacola nas costas.

— Imagino que ninguém mais irá.

— Sim, ninguém mais – ela disse ao sorrir no instante em que avistou Celius. Eles nada falaram ao pararem em frente ao outro, antes de seguirem para o navio. Aquele seria o começo de suas jornadas pelo novo mundo. 


Tentação Real [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora