Crueldade

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Ceslina sorria confiante ao segurar o pó entre suas mãos ao entrar nos aposentos do rei. Ela tinha plena consciência do que fazia e do perigo que corria, mas nada disse soava tão perigoso quanto retornar a Trecis sem a coroa. Seu olhar permaneceu fixo na porta a espera do rei, e ao vê-lo entrar sem expressão reprimiu um sorriso vitorioso.

— Vejo que me parece feliz – Lucien disse ao encará-la com cuidado. Seu olhar foi em direção ao vinho e logo se viu recusando a ideia de ir até ele. Aprendera da pior forma possível não confiar nas nobres.

— Estou meu rei, pois passarei a noite em sua presença – Comentou com um leve sorriso ao apertar a mão com ainda mais força – Me permite aproximar-me? – Lucien assentiu confuso ao vê-la ir até ele – Seja gentil comigo, meu rei – Sorriu mais uma vez antes de erguer a mão e soprar o pó na face do rei.

Lucien cambaleou ao sentir o gosto amargo em sua garganta. O pó entrava pelas suas narinas de forma grosseira e não demorou para se sentir tonto.

— Irei mata-la – Grunhiu ao se apoiar na parede mais próxima enquanto tentava ir até a porta. Sua mão estava próxima a porta quando se virou e a viu. Quem estava atrás de si não era Ceslina e sim Safira. – O que faz aqui? Como... ? – Sua confusão era evidente ao ver Safira se aproximar de si ao mesmo tempo em que retirava suas próprias roupas.

— Me faça sua – Pediu com um fio de voz ao tocar em seu rosto.

***
Na manhã seguinte, o guarda que abriu a porta juntamente com a dama de companhia de Ceslina sorriram contentes ao ver Lucien na mesma cama que a nobre. Em poucos instantes todos do palácio já sabiam o que havia acontecido.

Hadan respirou fundo antes de abrir a porta dos aposentos de Safira, e assim que avistou a Princesa acordada se sentiu triste por ela. Todos já comentavam a forma como o rei abraçava a nobre de Trecis e sobre ela ser a nova rainha de Vantis.

—Bom dia, minha senhora – Hadan a cumprimentou séria e não demorou para Safira sorrir – Vejo que esta contente.

— O que houve? Não é boa em esconder as coisas – Safira disse ao perceber que algo estava errado. Desde cedo escutara conversas pelo corredor.

— O rei Lucien deitou-se com a nobre de Trecis. Dizem que ela deve ser a escolhida por ter sido a única com quem o rei deitou-se.

A expressão na face de Safira assemelhava-se a incredulidade ao desviar o olhar de Hadan. Ela sabia que seria daquela forma. Desde o início soubera que o rei escolheria alguém dos reinos. Em nenhum momento obteve uma visão clara sua com o rei, e por isso sentia que o destino havia se cumprido de uma forma ou de outra.

Como sempre.

Ergueu a cabeça ao se recordar de sua primeira visão ao entrar em Vantis. Em sua visão retornaria para Landivia.

— Retornarei para Landivia – Anunciou inexpressiva ao olhar para Hadan – Esconda isso de todos.

Hadan assentiu insegura.

— E se desejar pode me acompanhar ao meu reino - Sorriu ao ver a expressão de gratidão na face de Hadan – Lá será como qualquer outra pessoa, eu lhe prometo.

***
Garsiel caminhava altivo pelo jardim do palácio apesar de não suportar os olhares dos guardas. Sua missão era manter Safira a salva, disse a si mesmo ao olhar para os homens indagando-se qual deles poderia ter matado a jovem Vieli. Ao olhar para a entrada, estranhou uma carruagem estar sendo carregada por pertences. Aproximou-se com cuidado e indagou a um dos homens que colocava o baú.

— Quem está saindo?

— A princesa de Landivia. – Disse com tranquilidade ao imaginar que o rei havia permitido. Ninguém ousava fazer algo sem a permissão do rei.

Garsiel assentiu antes de correr para o interior do palácio em busca de Safira. Subiu as escadas sem importar-se com o barulho que fazia ao correr e ao parar em frente a porta dos seus aposentos parou ofegante.

Abriu a porta com cuidado e então a viu. Safira encontrava-se vestida com algo peculiar, ao seu ver. O seu vestido marrom não possuía detalhes extravagantes ou beleza. Ele mal cobria as suas pernas e possuía um decote que lhe deixava desconcertado.

—Princesa de Landivia, está fugindo? – Perguntou ao vê-la olhar em sua direção. Garsiel percebeu que algo estranho acontecia.

— Estou indo embora. Não vejo motivos para permanecer em Vantis quando fui trazida para manter o rei afastado das outras nobres – Mentiu ao manter a sua expressão séria.

— Richiston sabe? – Safira negou fazendo-o suspirar – Irei chama-lo.

— Irei embora não importa o que ele diga ou como me ameace – Decretou ao lhe dar as costas e manter o seu olhar no jardim.

Garsiel saiu a deixando-a solitária para atrás e se pôs a procurar por Richiston, e quando o encontrou, o terceiro príncipe encontrava-se sorridente ao beber vinho em seus aposentos.

— Garsiel, a que devo a sua companhia? – Richiston perguntou sorrindo – Veio celebrar a noite do rei com a nobre de Trecis?

— Safira está indo embora – Respondeu sério esperando que Richiston se movesse, entretanto ele deu de ombros.

—Ela não serviu para os meus planos no fim. Eu mesmo terei que proteger Vantis – A seriedade em seu olhar assustou Garsiel. Todos sabiam o quão louco Richiston poderia se tornar.

***
Safira subiu na carruagem com o semblante sério. Ela sabia que deveria ir atrás de Celius, mas se viu hesitando ao pensar em permanecer em Vantis.

Quando retornar a Landivia pedirei a minha irmã para lhe falar. E com isso não precisarei retornar a este lugar. 

Hadan entrou em seguida e sorriu para Safira assim que a carruagem deixou o palácio de Vantis.

***
Lucien andou pelos corredores inquieto ao parar em frente dos aposentos de Safira. Abriu a porta com fúria e empalideceu ao ver tudo vazio. A raiva transbordou e seus olhos demonstravam. Seus passos antes silenciosos agora pareciam raios ao ir em direção a um dos guardas, o qual estremeceu ao ver o olhar do rei.

— A princesa de Landivia, onde está? – Gritou.

— Ela se foi meu rei. – Respondeu baixo ao sentir o medo impregná-lo.

— Não permiti que ninguém deixasse o palácio.

— Ela simplesmente se foi.

Lucien estreitou os olhos ao passar a mão pelos seus fartos cabelos antes de ir em direção a entrada do palácio.

— Meu cavalo! – Gritou mais uma vez e não demorou para o seu garanhão estar a sua frente assim como alguns guardas. Sem hesitar subiu no cavalo seguindo em direção ao porto. O caminho escolhido pelo rei era o mesmo que as carruagens utilizavam, entretanto quando estava prestes a chegar percebeu uma carruagem parada.

Retirou a espada e a empunhou ao descer do cavalo. Nenhuma carruagem com o selo real pararia em um local deserto como aquele. Ao se aproximar escutou o gemido feminino. Assemelhando-se a um grito de dor.

— O que houve? – Lucien perguntou frio ao olhar para Hadan dentro da carruagem com o rosto vermelho e sangue escorrendo de seu braço.

— Eles a levaram – Murmurou imersa em dor ao fechar os olhos. – Eles... a levaram – Repetiu ao deixar as lagrimas caírem pelo seu rosto em abundância.

— Quem a levou?

— Não sei. Não havia selo de nenhum reino – Murmurou.

Lucien assentiu ao sorrir como sempre fazia antes de ir a batalha. Um sorriso repleto de crueldade.

— Levem-na para o palácio – Disse a um dos guardas – E eu irei cuidar de quem a levou com minhas próprias mãos.

Continua... 

Tentação Real [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora