Ela

9.6K 582 103
                                    


Ir para uma área aberta e escrever nunca foi meu forte. Geralmente eu preferia trabalhar no meu quarto, escutando alguma música. Desenvolvi esse habito desde que comecei a trabalhar com o blog. Ainda estava no ensino médio, e apenas escrevia sobre coisas do meu cotidiano e o meu eterno vício: música. Mas de uma hora para outra a página começou a ter muitas visualizações e o que antes era lazer, se tornou trabalho.

Recebi um e-mail de uma gravadora interessada em investir no meu blog, aumentar o alcance do site, mais conteúdos e ganharia meu próprio assistente. Na época tinha acabado de entrar para a faculdade de biologia e usava o blog apenas como um escape da realidade. Um espaço no qual eu poderia fazer o que quisesse, no caso, escrever sobre bandas e possíveis novos sucessos da música brasileira e internacional.

Com um ano de curso vi que a biologia não era para mim, e segui o concelho do meu chefe na gravadora, porque sim, apesar de blogueira ser um trabalho autônomo, às vezes temos que responder à algumas pessoas. Troquei de curso para Relações Públicas. A princípio não era o que queria e desmotivei bastante com o curso, mas então percebi que estava ali apenas para ter uma graduação: eu já tinha profissão e emprego garantido, e enquanto continuasse dedicando a meu hobby tudo ia se encaminhar.

Me formei no final do ano passado. Estava com vontade de sair viajando pelo mundo, mas não poderia sair de perto do meu computador. Tinha passado os últimos quatro anos sem uma férias de fato, pois tinha os recessos da universidade, mas então eram viagens para cobrir shows de bandas, festivais, divulgação de álbuns. Muita gente pensa que viver nos bastidores era o paraíso, conhecer todos os artistas, assistir aos shows nos melhores lugares, as vezes ter um relacionamento com algum famoso. Mas a realidade não era essa.

Conheci muitos artistas, alguns bastante simpáticos, outros que me decepcionei. A gente rala tanto nos bastidores que nem tem tempo de aproveitar o show de fato, entrar na música e esquecer que o mundo existe. Eu continuava com meu blog, meu pequeno espaço que não era tão pequeno mais. Meu nome era conhecido em rede nacional. Recebia milhões de tweets perguntando de quem seria o próximo show internacional.

Depois da minha formatura, pedi a gravadora que eu tivesse seis meses de férias. Nesse tempo, o site seria mantido pelos meus assistentes (porque sim, quando sua página cresce o suficiente para exigirem conteúdo inédito de hora em hora, e responder as redes sociais, você precisa de ajuda). Conversei com meus pais e minha tia. Iria fazer um intercâmbio de línguas, e apesar de ficar hospedada em uma escola, teria familiares por perto. Eles concordaram. Peguei a minha mala e vim sem pensar duas vezes para uma cidade na Alemanha chamada Munique.

O principal time de futebol da Alemanha era daqui. Não que eu entendesse muito de futebol, eu não entendia nada. Nem Copa do Mundo acompanhava mais, meu trabalho não deixava. Mas eu tinha um irmão que me obrigou a assistir a Copa de 2014 justamente no fatídico jogo do 7 a 1.

Mas também o reconheci da final desta mesma Copa de 2014 no Rio de Janeiro. Meu chefe pediu para eu ir fazer algumas fotos da cerimônia de encerramento, para escrevermos sobre os shows. Não que tenha sido grande coisa, mas acabei assistindo o jogo da área de imprensa. Um locar privilegiado para o campo e os jogadores. E eu tinha sim reparado em um rosto que se destacava dos demais. Não que isso tenha feito alguma diferença, afinal.

Fui para o parque tentando sair da bagunça que estava a casa da minha tia. Não que eu seja mal-agradecida, como estávamos no recesso das festas de final de ano, passaria com minha família. Mas desde que cheguei na Alemanha comecei a escrever um livro sobre pessoas que conheci e convivi nos últimos anos, e realmente queria aproveitar o recesso para dedicar a esse projeto.

As preparações para o Ano Novo estavam a todo vapor, e o entre e sai de gente não estava me ajudando a concentrar na escrita. E sim, mesmo de férias eu queria escrever sobre música. Porque escrever é um vício, se você não escreve é como se tivesse uma crise de abstinência, e então seu cérebro começa a pensar coisas irracionais. Eu não poderia ter um ataque no meio de tanta gente que eu convivia a apenas poucas semanas e que me recebera tão bem. Precisava me soltar.

Aproveitei o milagre de ter aberto um sol nos últimos dias, e assim ser possível ir ao parque. Não imaginava que tanta gente ia ter a mesma ideia que eu. Aproveitar o raro sol no meio do inverno. Amanhã seria 31 de dezembro e esse seria o meu último momento do ano para escrever. Mesmo de férias, resolvi fazer um post no blog. Um texto curto, apenas relembrando os principais momentos do ano que passou e desejando que o próximo ano trouxesse boas conquistas. Era minha tradição esse post desde o início do blog.

E tudo estava indo bem, até perceber aquele homem sentado no mesmo banco que eu. Caraca, não tinha mais ninguém naquela parte do parque, será que ele não poderia sentar no outro branco? Foi então que o reconheci. Não que eu soubesse seu nome, mas o reconheci da bagunça no final do jogo no Maracanã.

Segurei o riso. Não deixaria que ele percebesse que eu o havia reconhecido. Ele puxou assunto, pouco respondi na esperança dele me deixar sozinha novamente. Ele não deixou. Que cara insistente! Recoloquei meu fone de ouvido e continuei meu texto. Se ele queria ficar sentado em um bando de parque do lado de uma pessoa que ele nem conhecia, era seu problema.

Minha música mudou e agora tocava "So far away" do Avenged Sevenfold. Eu não sabia explicar, mas tinha alguma coisa nas bandas com solos de guitarra que me faziam escrever sem parar. Terminei meu texto, fechei meu computador e levantei para ir embora.

Mario veio atrás.

- Espera! Você disse que não era daqui. O que acha de eu te mostrar alguns pontos turísticos da cidade?

Pensei em aceitar o convite, afinal já tinha dois meses que eu estava na cidade e pouco tinha conhecido. E sei que não era culpa da minha família. Entre aulas e compromissos era mesmo complicado ter tempo e mesmo assim, desde que cheguei estava muito frio, era impossível sair de casa, e agora que esquentou um pouco, estavam todos ocupados com os preparativos para a festa de final de ano.

Mas eu não poderia ser tão fácil assim. Não abriria o jogo tão simples assim. Se tinha uma coisa que a vida nos bastidores tinha me ensinado, que para lidar com pessoas conhecidas pela mídia, você tinha que fingir não saber quem elas eram. E no caso daquele jogador era quase que uma verdade. Eu de fato nada sabia sobre ele, além de que ele era campeão do mundo.

- Vamos fazer assim, se por um acaso a gente se encontrar novamente, eu te passo meu telefone. Pode ser?

Pensei em manter minha pose de difícil. Ou até mesmo passar o meu telefone. Mas eu era uma subcelebridade brasileira, por mais que odiasse admitir isso. Então apenas escrevi em sua mão: "Sei quem você é. Você sabe quem eu sou?".

E continuei andando como se aquilo fosse a coisa mais normal no mundo. Encontrar jogadores de futebol campeões do mundo no parque.

Voltei para casa da minha tia pensando nesse encontro. Agora teria que pesquisar tudo que pudesse sobre ele. Se o visse de novo e ele percebesse que eu mal sabia seu nome, minha estratégia iria toda por água abaixo.

Mas o que eu estava fazendo? Desde quando isso era um jogo para eu fazer isso? Ou pior, por que eu estava na expectativa de encontra-lo de novo?


######

NOTA DA AUTORA: Oii, sejam bem vindos a esse mundo que estou começando a criar. Aos poucos acho que vocês vão me conhecendo, principalmente pelas coisas que escrevo. Mas, já vou avisar que sou viciada em música e tenho um grande amor pela seleção alemã de futebol. Então teremos muita coisa envolvendo esses assuntos por aqui.

Esta primeira atualização  de Home, que, mesmo explicando mais para a frente, o nome vem da frase "Home is where your heart is", aos poucos vocês vão entender o porque hahaha. Foram dois capítulos juntos para vocês conhecerem um pouco dele e dela, não quis escrever um capitulo só como serão as próximas atualizações porque essa primeira cena, por mais idiota que seja falar, tive a ideia dela de um sonho. hehehe Este foi apenas o primeiro encontro e ainda tem muuiita coisa para acontecer!

Por favor não me deixem no vácuo, comentem, criem suas teorias e sejam felizes!!

Ah, e se tem alguma musica que vocês acham que pode ser trilha sonora da história, deixe ai nos comentários. Vou adorar conhecer coisas novas.  =)

Esta fic também estará disponível no Fanfic Obsession.

MUITO OBRIGADA  < 3

Home | Mario GötzeOnde histórias criam vida. Descubra agora