The World is not a Box

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 Ele POV

Alguns dias se passaram desde que encontrei aquela garota no parque. Nem me lembrava mais o seu nome. Ou pensava que não lembrava. Voltei para minha rotina de treinos. Muitos garotos e garotas ao redor do mundo tinham o sonho de serem jogadores de futebol. Se eles soubessem como é a rotina, tenho certeza que escolheriam alguma carreira mais sólida.

Entretanto, não troco minha profissão por nada nesse mundo. E diria que também não troco meu time, mas nem sempre querer ficar em um lugar é conveniente. Às vezes, temos que escolher o que é melhor para a gente, e apesar de amar o time, não era mais a mesma coisa. Claro que para quem já está no meio há um tempo, é normal que o elenco varie, sempre tem rostos novos e vários amigos acabam indo para outros clubes. Mas eu gosto da vibração da torcida nos jogos. Cada uma tem uma vibração diferente, e a do Bayern de Munique é única.

Estava dirigindo para casa. Já era quase noite. Uma pessoa mais preocupada em nomear as coisas diria que estávamos no crepúsculo, quando ainda estava claro mas não tinha sol, e ao mesmo tempo ainda não era noite. Ou se é que poderia dizer que existia esse período do dia nessa época do ano.

Janeiro estava quase no fim, mas o frio ainda estava presente. O recesso do final de ano já estava acabando e logo mais o campeonato voltaria. Estava ansioso por pisar de novo nos gramados. Era uma sensação única que nada mais me fazia sentir essa emoção. Tínhamos voltado a treinar, apesar de, por causa do frio, ficamos mais na musculação e demais exercícios internos. Além disso, eu aproveitava para fazer outros exercícios, como correr no parque e de vez em quando pedalar. Acho que se não fosse um atleta de alto rendimento por profissão, eu ia ser um desses viciados em exercício.

Resolvi parar em uma lanchonete e comprar alguma coisa para comer. Geralmente pedia algo em casa, ou então cozinhava. Estava escolhendo um pão quando escutei aquela voz, a mesma voz do dia do parque, falando algo em uma língua que eu não entendia. Provavelmente português. Sorri ao me lembrar da sua promessa.

Olhei por cima da prateleira e ela estava bem na minha frente. Seu cabelo estava preso de uma forma desajeitada que lhe dava um ar mais jovial. Ela usava um casaco marrom por cima de uma blusa branca. Sorri ao ver aquela imagem. Essa garota sabia ser bonita sem ter ideia de que era. Só então me lembrei de seu desafio: precisava descobrir quem ela era. Porém ela também tinha dito que me passaria o seu contato se nos encontrássemos de novo. Acho que teria que deixar esse jogo nas mãos dela por enquanto.

Fiquei na minha aguardando para que ela me notasse. Parecia concentrada em escolher coisas na prateleira, apesar de eu perceber um pouco de dificuldade com o alemão. Esperei que as pessoas que estavam com ela se afastassem.

- Esse é de chocolate com baunilha. – traduzi o que estava escrito no pacote do biscoito recheado que ela segurava.

Ela se assustou. Pensei que fosse soltar um palavrão, mas se conteve. Sorriu ao me reconhecer, mas logo em seguida a expressão tranquila voltou ao seu rosto. Ela voltou a atenção para a prateleira e eu tinha certeza que ia me ignorar, mas acabou me respondendo.

- Thanks.

Deixou um pequeno sorriso escapar. Fiquei sem reação por um tempo. O que falar com ela? Havia esquecido de pesquisar qualquer coisa na internet, mesmo não fazendo ideia de onde começar a procurar. Digitar "brasileira na Alemanha" com certeza não me levaria a lugar algum.

- Você precisa de mais alguma ajuda?

Era a coisa mais óbvia a perguntar. Provavelmente ela deveria estar achando eu estava intrometendo de novo.

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