08| Mensagens estranhas

289 44 74
                                    

Resmunguei quando senti um bafo quente na minha cara, que parecia estar a levar com salpicos de algo molhado e frio. Senti depois algo áspero raspar a minha pele e contorci-me no colchão, levando com um peso abrupto em cima do corpo. Parecia que tinha um saco de batatas em cima de mim, mas era um saco de batatas irrequieto e com um cheiro terrível a água da sanita. Fui obrigada a abrir os olhos quando umas garras enormes me arranharam o braço, no entanto preferi não o ter feito, pois rapidamente saltei de susto quando vi um cão parado à minha frente, com a língua de fora e uma espécie de sorriso demoníaco na boca. Ele levantou as orelhas quando eu o fitei de olhos esbugalhados, provavelmente passando-lhe uma impressão defensiva e ameaçadora. Não sabia de onde raio tinha ele aparecido, ou até se era a minha única companhia naquele momento, mas enxotei-o com as mãos e tentei rastejar para fora da cama, observando as paredes cor-de-rosa cobertas de posters de bandas femininas e atores em tronco nu. Havia uma moldura em cima da mesa-de-cabeceira com uma fotografia antiga dos gémeos com Rose, abraçados junto a um enorme lago.

Caminhei devagar pelo quarto, lembrando-me instantaneamente do meu antigo e do quão parecidos eles eram antes de eu ter tido a brilhante ideia de negligenciar o incêndio que se alastrou pela minha casa, em Sydney. Depois de me certificar que não estava mais ninguém no quarto, à exceção do cão que me seguia para todo o lado, despi o pijama que Rose me emprestou na noite anterior e procurei as minhas roupas na pilha situada em cima da cadeira ao canto do quarto. Só encontrei vestidos e calças que não me pertenciam, por isso parti do princípio que tivessem posto a minha roupa para lavar. Vesti um macacão cinzento, que milagrosamente me assentava melhor do que a maioria das minhas roupas, e tentei arranjar o meu cabelo junto do toucador. Não havia muito para arranjar, felizmente. Passei a escova nele e sacudi-o no fim, dando-lhe volume. No momento a seguir a porta abriu-se, provocando um desvio de atenções por parte do cão, que saltou como um louco quando Rose lhe apareceu à frente.

"Bom dia!", ela sorriu a ambos, dando festinhas no dorso do animal. Este era castanho claro e de grande porte, chegando-me quase aos ombros quando se empoleirava em cima das pessoas. Acho que era um labrador, mas nunca foi uma perita em raças de cães. "Cloe! Dormiste bem?"

"Sim. Por acaso dormi.", encolhi os ombros. Estava tão cansada na noite anterior que nem dei por ter adormecido, foi só chegar à cama e encontrar o vale dos lençóis. "As minhas roupas? Eu vesti isto, espero que não te importes..."

"Oh, claro que não! Fica-te muito bem!" Rose parecia fazer de tudo para me agradar, o que se tornava irritante. "A minha madrasta levou-as para lavar.", confirmou as minhas suspeitas. "Mas, hm... posso fazer-te uma pergunta?"

"Sim, claro..."

"Aquele casaco... ah...", hesitou, pousando o dedo indicador sobre o queixo, como se refletisse muito profundamente acerca do que a arreliava. Soube imediatamente que se estava a referir à peça de roupa que Matty me tinha emprestado, mas resolvi estar calada antes de dizer porcaria. Nem sequer tinha a certeza se era dele, podia ser de Kurt ou de Jason. Lembro-me que os três rapazes me ajudaram, portanto podia ser de qualquer um, apesar de eu ter quase a certeza de ter visto Matty com ele vestido. "Ele não é teu, pois não?"

"Ontem quando eu desmaiei não o tinha vestido, mas de qualquer forma ele veio parar aos meus ombros, por isso não, não é meu... mas se me perguntares se de quem é, eu também não te sei responder.", encolhi os ombros, "Mas há algum problema? Eu sei que devia devolvê-lo ao dono mas, se não o encontrar, é mais um casaco para..."

"Eu sei!", ela interrompeu-me, fechando os olhos com força. Quando os abriu, parecia estranha. "Eu sei de quem é..."

"Ah, sabes?", franzi o sobrolho.

Social Casualty II ಌ m.cOnde histórias criam vida. Descubra agora