Social Casualty II ಌ m.c

18| Um sonho. Um pesadelo

 Parecíamos peixinhos felizes, nadando e fazendo acrobacias malucas pela água, mas não num aquário, pois a liberdade não nos restringia e isso significava tudo. Luke fazia festinhas na minha cabeça enquanto escutávamos com atenção as histórias rebuscadas que Nia tinha para nos contar, umas acerca da sua vida amorosa, outras apenas resumos do que foi feito durante a minha ausência. Rena tapava a cara com as duas mãos, deixando à mostra os olhos rasgados num semblante de alegria, que se queria desenhar no gesto de uma gargalhada, mas que ela tão bem tentava esconder. Calum, por sua vez, não parava de rir e emitir sons estranhos, completamente alheio à minha ausência, que para todos os efeitos se devia à nostalgia e ao impacto de os ter ali, tão perto de mim.

Olhei para cima. O teto branco fez os meus olhos aconchegarem-se ao conforto daquela cor, e depois vislumbrei o resto do quarto, que parecia realmente apetecível. Nunca tinha entrado num hotel de tão alta categoria, mas parecia-me que apesar do aspeto, estava em conta às poupanças dos meus amigos, que se fosse preciso dormiriam no chão de um parque de campismo. O único que ali não ia ficar era Calum, que dentro de vinte minutos tinha encontro marcado com a sua família, o principal motivo que o trouxe até esta terra. Ainda assim, o seu interesse em abandonar aquele lugar parecia-me nulo, e se ninguém o lembrasse que o melhor era começar a preparar-se para o jantarinho de família que o esperava, ele bem que os podia deixar pendurados.

"Ai ai...", a morena terminou com um suspiro, deixando cair as suas mãos com ênfase em cima das coxas, dando por encerrada a sua enumeração de histórias. "Mas então e tu, Cloe? O que tens feito por aqui?"

"Eu?", ergui ligeiramente a cabeça, apoiando-me nos tornozelos do loirinho atraente, que acabou inevitavelmente por me largar o cabelo. "Realmente nada de especial. É difícil fazer coisas interessantes quando não conheces muita gente."

"Então e os teus primos?", Rena foi rápida a intervir, cerrando as sobrancelhas de modo confuso.

"Oh, sim... eles são as únicas pessoas que me arrastam para sítios.", sorri, embaraçada por já não saber como cativar a atenção destas pessoas. Antes, com Michael junto a mim, era tudo mais fácil.

"Oh, aposto que já fizeste amigos.", Nia encarou-me com uma expressão terna, como se por instantes fosse minha mãe e me quisesse dar esperanças. Eu não queria que tivessem pena de mim, eu sempre me soube desenrascar bem, mas naquele momento, senti que era ridículo sentir pena de mim própria, algo que vinha a acontecer quase desde sempre.

"Sim, bem... fiz um amigo.", sentei-me direita, podendo agora olhar para o rosto de Luke, que franzia as sobrancelhas à medida que me ouvia falar. Calum também adotou uma expressão séria, esfregando as mãos às calças como se por algum motivo tivesse ficado nervoso. "Chama-se Matty. Ele tem um fraquinho por mim."

"Olha, Calum. Concorrência.", Luke atirou-lhe com uma almofada, rindo-se à gargalhada. No entanto, senti um aperto no coração ao lembrar-me do que pensaria Michael se ouvisse aquilo, e nem sequer quis imaginar o que ele faria. Calum revirou os olhos.

"Ele não tem qualquer hipótese comigo. É ex-namorado da minha prima.", concluí, tentando não dar muita importância àquele assunto. "É isto..."

"Claro.", Nia cerrou os olhos e lançou a Rena um olhar comprometedor, deixando-me desconfiada. Calum acabou no entanto por me distrair, levantando-se com um ar muito preocupado. Olhou o relógio e suspirou.

"Eu tenho de ir, pessoal.", comunicou. "Podemos ir sair depois de eu jantar. Acho que estou despachado lá por volta das onze.", sorriu, encaminhando-se até à porta.

"Parece-me bem.", Luke assentiu e as raparigas fizeram o mesmo, despedindo-se do moreno com sorrisos fechados.

"Bem, e nós vamos para os nossos quartos. Precisamos de descansar um bocado.", Rena disse, puxando a irmã até à porta, poucos segundos depois de Calum a ter fechado. "Luke, quando quiseres ir lá abaixo provar o buffet chama-me!"