"Bem, eu acho que se misturares o arroz no caldo da galinha isso ganha o sabor que pretendes.", suspirei.
"Sim, sim, eu já sei isso! Eu quero é saber como é que se faz o arroz."
"Por amor de Todos os Deuses, Luke!", revirei os olhos, enquanto levava a minha mão livre à testa e me tentava controlar para não elevar mais o meu tom de voz. Kurt já começava a olhar-me de lado, como se eu fosse uma maluquinha, e eu não estava a gostar. "Luke, olha para o pacote e segue as instruções."
"Prometes que isto vai ser comestível?", pediu o loirinho, com a sua vozinha carente.
"Prometo.", sorri. "Agora já posso voltar a estudar em paz?"
"Estudar!? Que é feito da Cloe selvagem?"
"Já tivemos esta conversa, meu amigo. A Cloe selvagem morreu no dia em que entrou naquele avião."
"És deprimente.", Luke suspirou. "Estás sozinha?"
"Estou com os meus primos.", olhei para eles, sorrindo-lhes ao perceber que eles estavam mais concentrados na minha conversa do que no estudo, que, incrivelmente, havia sido ideia deles. "E tu, estás sozinho?"
"Que pergunta...", resmungou num tom desdenhoso, como se eu fosse muito burra, e dei por mim a rir-me outra vez. "O que é que achas? Não me ia dar ao trabalho de cozinhar arroz se estivesse sozinho."
"Isso é algum encontro?", levantei a sobrancelha, mesmo que ele não me pudesse ver. Essa era a desvantagem de falar com ele ao telemóvel, mas ainda assim era bom para matar saudades da sua voz, que tantas vezes me recordava como era estar junto dele e de Michael.
"É. Não fiques com ciúmes.", soltou uma gargalhada.
"Eu? Nunca iria sentir uma coisa dessas!"
"A sério? Achei que fosses... quer dizer, é do Michael que estamos a falar."
"Oh... o Michael.", respirei fundo, adotando um tom mais sério. Luke percebeu a minha hesitação, mas manteve-se em silêncio, como se se sentisse arrependido de ter falado. "Não sabia que era dele que estavas a falar...", tentei sorrir, com Rose a olhar para mim como se eu fosse começar a chorar a qualquer momento.
"Devia ter referido para quem ia cozinhar o arroz antes de te ter perguntado como se o fazia."
"Pois...", mordi o lábio, imaginando que Luke estivesse a fazer exatamente o mesmo. "Hm... de qualquer forma, espero que não intoxiques ninguém. Eu agora tenho de desligar.", voltei a suspirar, desta vez baixinho. "Bom almoço."
Pousei o telemóvel em cima da mesa e fiz um esforço descomunal para não começar a chorar ou a lamentar-me como uma carpideira sentimental cujo namorado vai ser envenenado pelo melhor amigo e seu arroz. Olhei para baixo, para os meus dedos, e tentei arrancar o verniz velho das minhas unhas, que saiu com mais facilidade do que eu pensava. Depois, quando percebi que todos olhavam para mim e aquilo devia dar muito nas vistas, pois uma pessoa com a cabeça curvada para a frente é sempre alvo de preocupação, levantei os olhos e puxei o livro de história para mais perto, de modo a poder ler os longos textos. Acabei por observar apenas as imagens, que continham os mais antigos e fascinantes artefactos, mas parei quando Axl pousou a mão no meu ombro, como se me quisesse consolar, e uma lágrima quase invisível desceu pela minha bochecha, influenciada pelo silêncio melancólico que se havia instalado naquela sala de estar.
"Ele não sabe fazer arroz.", disse-lhes, sorrindo dolentemente. Limpei a lágrima e encolhi os ombros, sem saber o que fazer para lhes mostrar que estava bem. "Quem é o anormal que não sabe fazer arroz?"
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Social Casualty II ಌ m.c
Humor❝Eu odeio ter de fazer isto, e desejava somente ficar perto de ti, mas talvez tu tenhas razão. Talvez eu seja realmente errada. Tinha medo que to dissessem, mas ainda mal que não o fizeram. Tu devias tê-lo ouvido, pois talvez assim parasses de me qu...