Dir-me-ia inquieta, talvez ansiosa. A minha cabeça explodia e os meus dedos frenéticos não paravam de batucar tudo quanto fosse superfície plana. Podia dizer-me à beira de um esgotamento, tal como em tantas outras ocasiões, mas ainda assim, com um toque refinado e novo. Um sabor áspero invadia-me a boca, e a minha pele suava. Só podia dizer nervos. Só podia dizer eu.
"Ele tem de vir. Ele tem mesmo de vir. Quer dizer... eu quero muito que ele venha. Apenas... será que vem?", divagava eu, com o telefone pressionado ao ouvido enquanto tentava dar um nó aos atacadores. Richard permanecia de queixo cerrado ao meu lado, a murmurar palavras censuradas e a ordenar em queixumes para que eu me despachasse, que os primos já estavam à espera e se eu não queria levar uma palmada para ver o que era ter responsabilidades, mas eu só conseguia ouvir a voz na minha cabeça e o som terrível vindo do outro lado da linha.
"É muito improvável. Tu sabes isso, Cloe.", Rena suspirou, com aquele seu tom carinhoso e assustador ao mesmo tempo, que nos arrepiava e deixava em alerta. "Acho que nem o Luke está a pensar ir. Ele diz que não quer abandonar o Michael, e até tem a sua certa razão."
"Mas vocês veem!", ripostei, levantando-me da cadeira finalmente. Richard acompanhou-me até à porta, passou-me a mochila para as mãos e expulsou-me de casa, gritando um pedido de desculpas aos meus primos, que bufavam dentro do automóvel. "Rena, se vocês veem porque é que eles não podem vir!? Vá lá, poupa-me!"
"SABES HÁ QUANTO TEMPO ESTAMOS À TUA ESPERA, SENHORA DONA RAINHA DE AUSTRÁLIA!?", um dos gémeos gritou, não soube distinguir qual; ainda assim ignorei-o, tentando entender as palavras da minha amiga, que arquejava e suspirava como quem só tem um pulmão.
"Cloe, é do Michael e do Luke que estamos a falar. Não eleves muito as tuas expectativas. Com aqueles dois é sempre bom estar de pé atrás."
"Mas..."
"NEM MAS NEM MEIO MAS!", pela agressividade, desconfiei que se tratasse de Kurt, ainda assim não podia ter a certeza, até porque não costumava ser ele o condutor, mas hoje, especialmente, tudo parecia estar fora do lugar, sobretudo a minha cabeça. "ESTAMOS ATRASADOS, COMO SEMPRE. UGH!", e carregou no acelerador, conduzindo como um doido.
"Quem é que está aos berros ai?", Rena interrogou, com um riso pelo meio.
"Um dos meus primos terrivelmente chatos.", suspirei, lançando a Rose um revirar de olhos. A morena riu-se, sendo a única a não protestar quando se tratava de atrasos. Hoje, até Axl parecia mal disposto, mesmo que eu ainda não soubesse exatamente qual deles era. Apenas me pareciam ambos muito mal-humorados.
"UH! Estou ansiosa por conhecê-los! Preciso de arranjar um namorado à Nia com urgência!"
"Oh meu deus, nem penses.", bati com a mão na testa, imaginando a histérica da Nia com um destes rapazes; provavelmente acabavam os três num hospital psiquiátrico, mas preferi não pensar muito na situação.
"Está bem, está bem... logo se vê se eu não faço casamento.", riu-se maleficamente, deixando-me de sobrolho franzido. "Mas vá, vou desligar. Pelos vistos estás em boa companhia e eu não quero atrapalhar. Acabamos esta conversa depois."
"Sim, está bem, é melhor.", sorri. "Mas até lá, Rena, tenta convencer o Michael a vir."
"Vou ver o que posso fazer.", assegurou, "Adeus!"
Assim que arrumei o telemóvel dentro do bolso e me recostei no banco, um dos rapazes virou-se para trás e fitou-me com uns olhos azuis muito arregalados, como se eu fosse algum tipo de experiência científica em estado de apreciação. Rose, que se encontrava ao meu lado, bateu-lhe no nariz e ele rapidamente se contorceu de dor, o que me fez rir, mas depois, quando voltou à expressão séria, percebi que algo de muito importante iria sair dos seus lábios cor de salmão.
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Social Casualty II ಌ m.c
Humor❝Eu odeio ter de fazer isto, e desejava somente ficar perto de ti, mas talvez tu tenhas razão. Talvez eu seja realmente errada. Tinha medo que to dissessem, mas ainda mal que não o fizeram. Tu devias tê-lo ouvido, pois talvez assim parasses de me qu...