21| Encontros e reencontros

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Não era definitivamente a melhor noite para eu andar por aí a vadiar, sobretudo andando à solta o meu coração partido, que se revelava na forma da pessoa de Michael. Achei que as hipóteses de nos voltarmos a cruzar antes da meia-noite fossem uma num milhão, mas pelos vistos, se eu fosse apostar na lotaria, perderia. Meti os olhos nele assim que chegámos à Maloy Street, a rua pecaminosa de antros de perdição. Como da última vez, um sem número de jovens da nossa idade vagueava de um lado para o outro, com bebidas e cigarros na mão, cantarolando e bebericando o álcool efervescente, que lhes acendia os cérebros e os tornava em bestas festivaleiras.

"Foda-se.", praguejei, vendo-o acompanhado de Rena e Nia, que pelos vistos já tinham passado para o lado do inimigo.

"O que foi?", Kurt colocou uma das suas mãos no meu ombro, tentando perceber o porquê da minha cara de desespero. Na verdade não conseguia acreditar que o tinha ali tão perto, à distância de uns metros. Podia ir pelo caminho mais sinuoso e dirigir-me logo a ele, obrigando-o a encarar-me e a conversar comigo, como dois adultos, ou podia fazer a jogada da batata quente e empurrar a minha culpa para outra freguesia, ignorando-o e fugindo às casualidades.

"Ele...", apontei, de nariz franzido. Michael parecia triste, apesar de ter os punhos apertados e o maxilar preso numa expressão que o tornava mais zangado que melancólico, mas eu conhecia-o bem para dizer que o seu mal não era raiva nem frustração. Rena acariciava-lhe o ombro, parecendo igualmente desapontada, e Nia saltitava à volta deles, na tentativa de os animar. Nenhum deles me viu, mas ainda assim sentia o meu coração prestes a explodir, como se assim que os seus olhos se dirigissem aos meus o mundo pudesse acabar. "O Michael..."

"O teu ex está ali!?", Axl arregalou os olhos, pondo-se à minha frente para ver melhor, com descaramento. Fui rápida a puxar-lhe a manga da camisa, tentando trazê-lo de novo ao lugar que ocupava antes.

"FALA BAIXO!", sussurrei alto, olhando-o com ferocidade. "Isto foi uma péssima ideia. Vamos voltar!", exclamei, começando a virar costas àquela rua colorida. Assim que o fiz, dei de caras com Luke, que pareceu surpreendido em encontrar-me ali. "Socorro.", suspirei baixinho, avançando na sua direção. Atrás dele vinha Calum, que rapidamente esboçou um sorriso ao ver-me.

"Cloe? Não estava à espera de te encontrar aqui...", suspirou, ainda abalado com o nosso telefonema de há pouco. A verdade é que no segundo em que lhe desliguei o telefone na cara, comecei a sentir remorsos por ter sido tão fria e má com ele, que na verdade não tinha culpa nenhuma da situação que se tinha criado. Nenhum deles tinha, para dizer a verdade, e talvez os nossos ânimos apenas estivessem demasiado alterados.

"Eu peço tanta desculpa, Luke!", corri para os braços dele, sufocando-o num abraço. "Eu fui estúpida e insensível e idiota e burra e... tu és o melhor amigo que alguém pode ter! Eu só não estou a conseguir lidar com tudo isto... o Michael", apontei. "A vinda dele. O facto de ele me odiar. Tudo. Não te quero perder a ti também."

"Eu não mereço um abraço?", Calum encostou o rosto ao ombro do loiro, que me afastou logo depois. Olhei para o moreno com olhos chorosos, dizendo-lhe indiretamente que aquele não era um momento para piadas, mas sim para recomeços e pedidos de desculpa. Luke, por sua vez, respirou alto, parecendo comovido e ao mesmo tempo zangado. Fez uma pausa, e depois, com um gesto quase teatral, apontou para os gémeos.

"Não mos vais apresentar!?", questionou, parecendo uma diva... a minha bailarina, o meu Luke Tutu.

"Luke...", um sorriso pairou nos meus lábios. "Axl e Kurt. Ou Kurt e Axl.", soltei uma gargalhada, ignorando aquele momento para voltar a abraçar o gigantóide de cabelo loiro. Desta vez Luke correspondeu, colocando o seu braço em redor da minha cintura. "Desculpa."

Social Casualty II ಌ m.cOnde histórias criam vida. Descubra agora