Social Casualty II ಌ m.c

25| Uma má influência

Eu estava a falar a sério quando disse que não podia ir a um concerto de barriga vazia; não posso ir a lado nenhum, para ser mais precisa. Ainda me doíam os braços e as pernas por causa daquele triste episódio dos cães, que me atacaram à vinda para os aposentos de Luke, e as roupas que o loirinho me emprestara começavam agora a mostrar-se incapazes de satisfazer as minhas necessidades básicas. Para começar, davam-me comichão na pele, algo que eu desconfiava acontecer devido à falta de amaciador. Luke podia ser uma fada do lar muito bonita mas certamente não sabia como lavar propriamente as suas vestimentas, que desproviam desse toque reconfortante e cheiroso do amaciador. Depois havia a questão do tamanho. Numa escala elaborada, e tenham em atenção que eu sou péssima a matemática, Luke é um duzentos e eu sou um dez, portanto imaginem a desproporção. A t-shirt escorregava-me pelos ombros e mais parecia um vestido, pelo que tive de a amarrar com um nó para me parecer menos ridícula, e as calças pareciam fazer-me mais gorda. Claro que tive de me contentar com o que havia, pois não era sequer opção andar por aí como vim ao mundo, exposta aos olhares perversos de quem passasse por mim na rua, e o meu vestido, aquele eu alegremente atirei pela janela, já há muito que tinha sido resgatado por um sem-abrigo, que agora o utilizava como cobertor.

"Vês, tem utilidade.", apontei, vendo o sorriso do senhor enquanto se abraçava àquela peça de rouba imunda. O cheiro a cocó de cão parecia não o incomodar, portanto fiquei feliz por ter dado alguma alegria a alguém... para variar. "Fiz uma boa ação!"

"Não me parece que atirar um vestido para plena praça pública seja uma boa ação, mas se é assim que pensas...", Luke tentou concordar, balançando os braços enquanto suspirava pelo ar.

"O que foi? Ainda estás a pensar nela?", franzi o nariz. Odiava vê-lo assim, até porque era raro. Não sabia o que fazer para o deixar mais animado, mas talvez conversar pudesse curar as feridas.

"Só um bocadinho..."

"Como é que se pensa em alguém só um bocadinho?", questionei, intrigada com aquela teoria. "Ou pensamos ou não pensamos!"

"Estou a tentar atirar outras coisas para a minha cabeça, como o facto de tu teres dado aquecimento a um vagabundo.", sorriu, querendo enganar-me com falinhas mansas.

"Sim, Luke, isso é fantástico. Ouve, não há problema nenhum em odiar alguém, e neste momento essa Sarah parece-me um alvo bastante fácil. Porque é que não tentas descarregar a energia?"

"Como é que é suposto eu fazer isso?", perguntou, parando à frente da passadeira para ver se vinham lá carros. Passámo-la depressa, avistando uma hamburgueria mesmo em frente.

"Tens dinheiro?", um sorriso cobriu os meus lábios, deixando Luke com um ar aborrecido. "Vá lá, estou a tentar ajudar-te!"

"És demasiado previsível. Vou ter de te pagar o jantar, não é?"

"Descobres assim que entrarmos.", apontei para a hamburgueria, que na verdade ainda se encontrava muito vazia. Àquela hora era normal, pois ainda faltava algum tempo para o jantar. Eram mais ou menos seis e meia, mas a minha barriga pedia comida e eu não podia simplesmente ignorá-la, além disso, havia ali grande potencial para descargas energéticas.

Contrariado, Luke entrou comigo na hamburgueria, sentando-se rapidamente na primeira mesa que nos surgiu pela frente. A empregada que se encontrava ao balcão apressou-se a desaparecer dali, provavelmente não estando à espera de clientes, e Luke revirou os olhos ao reconhecer que tinha sido uma boa ideia parar um pouco para comer e descansar. Quando a empregada voltou a aparecer, já com um chapéu da empresa a adornar-lhe a farda, sorriu e dirigiu-se até nós, dando-nos uma ementa.