E então tinha chegado aquela manhã. Era mais uma madrugada, sendo que o relógio da cozinha marcava as 06:04 e não havia um único fio de claridade presente naquela habitação. Os meus olhos estavam inchados devido às lágrimas que vertera durante o resto da noite, e sentia o corpo dormente e pesado, tendo então de me arrastar com dificuldade até à porta. Para piorar tudo, levava atrás de mim uma mala pesada e cheia de roupa, que seria a minha única companhia durante as duas horas que me restavam até ao aeroporto. Queria acender as luzes e acordar toda a gente, mas sabia que se o fizesse seria mais difícil enfrentar a realidade e despedir-me daqueles que amo. Talvez eu estivesse a ser cobarde, tal como Richard fora, mas não havia nada no mundo que me custasse mais do que aquilo.
Em silêncio, abri a porta das traseiras e empurrei a minha mala de viagem pelas escadas abaixo, tentando não causar muitos estragos. Aquela decisão não tinha sido tomada de ânimo leve, apesar de só ter tido quatro horas para a tomar, no entanto, custava-me do fundo do coração estar a abandonar o rapaz que durante toda a minha vida lá esteve para mim. Peguei redundantemente no telemóvel e chamei um táxi. Os meus dedos trémulos limparam as lágrimas presentes no meu rosto, e eu tentei não soluçar. Michael possivelmente não me perdoaria depois disto, mas eu sabia que fugir com ele também não era a melhor opção. Se o fizéssemos, eu estaria a impedi-lo de seguir com a sua vida, e estaria a prendê-lo a mim. Nós nunca nos desenvencilharíamos sozinhos, e acabaríamos por desmoronar lentamente, destruindo o elo que ainda nos une.
Antes de sair definitivamente daquela casa, corri apressadamente até à sala e parei quando avistei Michael adormecido no sofá. Queria despedir-me dele, nem que fosse com um beijo na testa ou com uma caricia na bochecha.
"Eu amo-te.", sussurrei, ajoelhando-me à sua frente. Ele não se mexeu, mas eu continuei a fazer-lhe festinhas na cabeça, desejando profundamente que ele acordasse e me impedisse de ir.
Antes de me levantar, beijei-lhe os lábios e suspirei, observando-o uma última vez. Sabia que os nove meses que se seguiriam não seriam fáceis, e eu nem queria imaginar como iria eu sobreviver sem tê-lo por perto. A verdade é que eu já sobrevivera uma vez, e nem sequer me custou muito, mas agora era tudo tão diferente e eu tinha perfeita noção do que me ia custar entrar naquele avião e voar até Nova Zelândia, indo de livre vontade enfiar-me na casa de um homem que durante uma vida inteira se esqueceu que tinha uma filha.
«Michael,
É a primeira vez que te escrevo uma carta. Nunca pensei que algum dia tivesse inspiração para isto, mas agora tenho motivos e razões que me obrigam a fazê-lo. Tu és a minha maior razão, e adivinha, continuas a ser o meu maior motivo. Eu sei que é tremendamente errado abandonar-te assim, sem uma explicação ou um aviso, mas suponho que um bilhete de despedida seja suficiente para que entendas o porquê das minhas ações e me perdoes.
Nunca amei ninguém tanto como te amo a ti. Espero que não tenhas acreditado quando eu te dizia que odiava, e espero que saibas que eu nunca te quis magoar. Eu apenas não soube lidar com estas emoções; é tudo tão delicado e frágil, e eu sinto que ao mínimo toque eu posso destruir tudo e voltar a atirar-te de um precipício.
Lamento não ter sido quem tu precisavas que eu fosse. Quando eu parti para Londres, eu sabia o quanto tu gostavas de mim, no entanto, algo no fundo do meu ser puxava-me para a outra margem do rio e obrigava-me a distanciar-me de ti. Eu não queria partir o teu coração; nunca quis. E lamento se nunca respondi às tuas cartas. Não o fiz porque sou cobarde, mas como já deves ter percebido isso, por favor não me faças cometer o mesmo erro. Não me escrevas, não me procures, não venhas atrás de mim, não me obrigues a dizer-te algo que eu não queira dizer. E talvez tudo isto sejam coisas duras de se dizer, mas uma parte de mim está congelada e perdida nos confins da escuridão. Eu odeio ter de fazer isto, e desejava somente ficar perto de ti, mas talvez tu tenhas razão. Talvez eu seja realmente errada. Tinha medo que to dissessem, mas ainda mal que não o fizeram. Tu devias tê-lo ouvido, pois talvez assim parasses de me querer.
Mas enfim... eu não queria que as coisas terminassem desta forma. Eu amo-te, Michael Gordon Clifford, e nunca me esquecerei de ti. Segue a tua vida como se eu nunca tivesse passado por ela, e perde-te por aí. Quando não souberes para onde ir, lembra-te que eu estarei sempre aí algures, e faz os possíveis para me encontrar. Isto no sentido metafórico, claro.
E por favor não penses que eu não quis casar contigo por não gostar de ti ou por ter medo de passar uma vida a teu lado. Eu não o fiz por tua causa, Michael... eu fi-lo por causa desta raiva que me consome, fi-lo porque, de uma vez por todas, eu tenho de assumir a culpa dos meus atos e acatar com o castigo que eles trazem. Fi-lo porque me quero redimir.
Não desistas de nada. Faz o que tens a fazer e conquista o mundo!
Para sempre tua,
Cloe.»
»»»»»»»»»»»
E é assim que as coisas são. A Cloe acabou mesmo por ir para Nova Zelândia *sigh*
Espero que estejam tão entusiasmadas com esta história como eu estou, porque eu não podia estar mais empenhada em escrever capítulos e a inová-los. Eu aviso desde já que Social Casuaty II vai ser mais "negra" e dramática que o primeiro (as minhas sequelas são sempre mais deep, *another sigh*), no entanto tentarei encaixar aquela pitada de humor que nós tanto gostamos :) além disso terá aqueles extras de que eu já vos falei, mas eles não vão ser muito regulares, portanto estejam sempre atentas
Não sei se vocês são fãs de animes (eu sou) mas eu inspirei-me muito em Toradora para escrever o final de SC. Quem nunca viu Toradora que vá ver, porque é MESMO muito bom e MUITO engraçado (o Ryuuji e a Taiga são muito parecidos com a Cloe e o Michael tbh, e isso nem foi propositado)
ANYWAY, enquanto ainda estiver de férias vai ser fácil adiantar capítulos e publicá-los, mas não se esqueçam que vou estar mais ausente durante os próximos meses até ao verão :)
GOSTO MUITO DE VOCÊS
ADEUs
p.s. PARABÉNS RITA AMOR ESTA É A MINHA PRENDA PARA TI. EU ADORO-TE MUITO MUITO MUITO MUITO MUITO MUITO (...) MUITO MUITO MUITO E OLHA, NÃO PODIA ESTAR MAIS FELIZ POR TU TERES ENTRADO NA MINHA VIDINHA NEGRA. APROVEITA OS 18 E COMETE MUITAS LOUCURAS À MODA DA CLOE, SIM? <33 @prscrastinatus
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Social Casualty II ಌ m.c
Humor❝Eu odeio ter de fazer isto, e desejava somente ficar perto de ti, mas talvez tu tenhas razão. Talvez eu seja realmente errada. Tinha medo que to dissessem, mas ainda mal que não o fizeram. Tu devias tê-lo ouvido, pois talvez assim parasses de me qu...