*ASLEEP*

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"SLEEP WHEN I'M DEAD, SLEEP WHEN I'M DEAD/ GONNA LIVE WHILE I'M ALIVE/ I'LL SLEEP WHEN I'M DEAD. SEVEN DAYS OF SATURDAY/ IS ALL THAT I NEED/ GOT NO USE FOR SUNDAY."

"Michael.", lancei-lhe um olhar ameaçador, sem conseguir disfarçar minimamente o sorriso divertido que teimava em curvar os meus lábios. Ele olhou para mim, continuando a sua dança estúpida.

"'CAUSE I DON'T REST IN PEACE/ I WAS BORN TO LIVE/ YOU KNOW I WASN'T BORN TO DIE. BUT IF THE PARTY DOWN IN HEAVEN/ I'LL BE SURE TO BE ON TIME."

"MICHAEL!", gritei, desta vez de forma zangada. Aquela sua alegria começava a contagiar-me, e eu não tencionava ser infeta pelo vírus da parvoês.

"Tu és incrivelmente chata, Cloe.", respondeu de imediato, desligando finalmente a música que tocava na aparelhagem.

"Eu não sou chata, só tento prevenir uma surdez prematura. Sou demasiado nova para aparelhos auditivos."

"No fundo, tu adoras ouvir-me cantar.", um sorriso traiçoeiro curvou os seus lábios, deixando-o com um ar convencido. As suas sobrancelhas balançaram e eu acabei por revirar os olhos, nada chocada com a sua petulância. "Não negaste."

Depois da sua constatação desnecessária, Michael levantou-se da minha cama desarrumada e caminhou até à estante dos livros, do outro lado do quarto. Eu observei-o em silêncio, sabendo que seria uma questão de tempo até ele começar a remexer nas minhas coisas e a pô-las fora do sítio.

"Capuchinho Vermelho, The Great Gatsby, O Diário da Nossa Paixão.", Michael enumerou os títulos de alguns dos meus livros, sorrindo ao passar o seu dedo indicador pela lombada destes. "Onde estão as Crónicas de Nárnia? E os Zombie Assassinos: Parte III?", questionou ele, parecendo chocado.

"Por favor, Michael, arranja um gosto literário melhor.", rosnei.

"Sim, Cloe, o meu gosto literário é mau.", sorriu ironicamente, parecendo vagamente ofendido.

"Tu nem sequer lês.", revirei os olhos, brincando discretamente com a bainha da minha camisola.

"Então posso continuar a cantar?", um sorriso inocente apareceu-lhe no rosto. O sol iluminava-lhe a pele, tornando a sua palidez natural num tom ainda mais esbranquiçado e bonito, em que o seu cabelo loiro reluzia e tomava protagonismo, sobretudo a extensa franja que lhe caia pela têmpora.

"Não.", ri-me. "Mas podes abrir a janela. Está calor aqui."

Com um suspiro de insatisfação, Michael correu a cortina de tom claro e abriu a janela, deitando um olhar curioso àquilo que se encontrava lá fora. Vi o seu tronco magro debruçar-se sobre o parapeito, enquanto os seus cabelos eram levantados levemente pelo vento quente que a estação criava. Michael virou-se ligeiramente de lado e levantou a perna, passando-a sobre o parapeito de mármore. Quando dei por mim, já ele estava sentado naquela superfície, a observar a rua deserta e a escutar os sons da natureza. Revirei os olhos e aproximei-me dele, tendo o cuidado de não fazer gestos que o pudessem desequilibrar.

"Estás a deixar-me nervosa..."

"Incomoda-te que eu esteja aqui em cima?", ele sorriu maliciosamente, balançando as pernas. "Olha! Sem mãos!"

"Michael... a sério, sai daí.", estiquei os braços e puxei-lhe a camisola às riscas, sem sucesso. Ele agarrou-se à ombreira e gargalhou quando eu tive de lhe abraçar a cintura, de forma a impedi-lo de cair. "SEU IDIOTA.", choraminguei.

"Olha.", ele proferiu, num tom pensativo. Os seus olhos estavam agora fixos nalgo acima da sua cabeça. "Nunca quiseste tocar as nuvens?"

"Que raio?"

"A sério! Nunca quiseste?"

"Sei lá...", encolhi os ombros, acabando por largá-lo. Era constrangedor, mas ele parecia não se importar. "Acho que sim."

"Eu também. Sempre quis...", suspirou. Vi no seu rosto uma expressão nostálgica tomar forma, e logo uma ideia me passou pela mente. Mordi o lábio timidamente e aproximei-me cautelosamente, desta vez enfiando a minha cabeça entre o espaço existente entre a sua barriga e a janela. Michael baixou a cabeça para me encarar e sorriu de orelha a orelha, parecendo satisfeito com a proximidade. "O que estás a fazer, sua intrometida?"

"Se eu te levar a um sítio tu prometes que não te voltas a empoleirar na janela?", sorri. Michael mirou-me de sobrolho franzido, parecendo querer refletir acerca do assunto, no entanto, passou menos de um segundo até ouvir uma resposta sair da sua boca.

"Claro.", as suas mãos voltaram a tocar no mármore frio, enquanto eu me afastava gradualmente. Foi com agilidade que os seus pés voltaram a aterrar no chão, provocando em mim um suspiro de alívio. "Então onde...?"

Não o deixei terminar a frase, pois antes que o pudesse fazer, já eu estava a correr na direção das escadas para o terceiro andar. Ambos nos ríamos enquanto corríamos como loucos, eu a tentar fugir das mãos atrevidas de Michael e Michael a tentar acompanhar o meu passo desenfreado. Já não brincávamos assim há alguns dias, e eu estava feliz por ele finalmente ter tido tempo de me vir visitar.

Quando alcancei a porta do sótão, abri-a com cuidado e escondi-me junto à parede, esperando que Michael não percebesse. Embora ele fosse um ano mais velho que eu, e consequentemente um pouco mais maduro, eu sentia-me sempre como uma criança quando estávamos juntos. Ambos completáramos doze e treze anos há menos de três semanas, e havia algo na nossa relação que começava a tornar-se ligeiramente diferente, como uma súbita vontade de o abraçar ou um súbito e inquietante aperto no fundo da minha barriga.

"Cloe?", ele chamou, divertido com o nosso jogo. Eu tentei esconder o riso, tapando a cara com as mãos, no entanto, antes que eu pudesse ter tempo de abrir os olhos, já Michael me tinha agarrado pela cintura e colado a sua cara à minha. Sentia a penugem das suas bochechas fazer-me cócegas na pele, e continuei a rir-me, enquanto ele rodopiava os nossos corpos. Tínhamos visto esta cena num filme romântico durante a tarde, antes de ele resolver subir para o meu quarto e ouvir música. No filme, o casal gostava um do outro mas não queria admitir os seus sentimentos, pois havia vários fatores que os impediam de ficar juntos, no entanto, mesmo antes do fim, o destino conseguiu uni-los, e na cena final, ambos rodopiavam à chuva, enquanto um beijo era trocado entre os dois. E, tal como no filme, Michael estava agora a mexer-me no cabelo e a encostar-me de novo contra a parede, apertando o seu corpo entre o meu de forma tentadora.

"Que me querias mostrar?", ele interrogou, recuando um passo para trás. Ajeitou a sua roupa e eu fiz o mesmo, tentando abstrair-me do momento intenso. Apontei para a janela atrás dele e Michael sorriu, indo analisá-la em silêncio.

"Observa.", sorri, saltando para cima do parapeito. Coloquei-me de joelhos e deslizei com cuidado até ao telhado da varanda do meu quarto, caindo de traseiro em cima das telhas cobertas de musgo. Michael abriu a boca de espanto e, depois de levantar os braços de forma conquistadora, imitou os meus movimentos e acabou sentado ao meu lado, com as nossas coxas a tocarem uma na outra.

"Aqui estás mais perto do céu.", afirmei, olhando-o nos olhos. "Podes tocar as nuvens, tal como sempre quiseste."



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Antes de mais quero começar por pedir desculpa pela minha ausência, mas este mês foi horrível a todos os aspetos e além de não ter tido tempo nem cabeça, o meu computador decidiu avariar e passei algumas semanas sem ele, pelo que me foi impossível atualizar mais cedo. Ainda assim, aproveitei todos os pedacinhos para adiantar capítulos à boa moda antiga, ou seja em papel, portanto vão ter a sorte de ver atualizações mais regulares (tenho os três próximos capítulos escritos) Mas desculpem, a sério! 

Quis publicar este *asleep*, que é o último, só para dar um bocadinho mais de suspense à coisa hahah, e sobretudo para me despedir destas memórias adoráveis da Cloe (não se preocupem, ela não morreu :o) 

MAS PARA ME REDIMIR, VOU POSTAR O PRÓXIMO CAPÍTULO DAQUI A ALGUMAS HORAS E FAZER DOUBLE UPDATE! vejam como sou querida :)

adoro-vos do fundo do meu <3

até já ;)

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