Capítulo 8

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Ser vizinha de Josh era um prova para os nervos porque o meu estado de espírito sempre dependeria do estado de espírito dele e nunca o contrário.

Se ele acordasse disposto a não ser um idiota, eu podia seguir o meu dia com total conforto na minha casa. Caso contrário teria que ter muita paciência para seguir com o dia.

Essa vida era bem cansativa.

Acordei no dia seguinte ao jogo com um som alto quase explodindo os meus ouvidos. Me levantei da cama desnorteada e percebi que a música vinha do meu querido vizinho.

Aproximei-me da janela e fiquei parada com as mãos na cintura, até Josh me ver e chegar-se, debruçando no parapeito da sua.

- Será que dá para você abaixar isso?! - eu berrei por cima do som alto e ele estampou nos lábios aquele sorrisinho irritante e sarcástico.

- Eu não consigo ouvir - berrou de volta e eu revirei os olhos.

- Abaixa esse som, Josh! Para de graça - pedi.

- O quê? Aumentar o som? - ele se fingiu de desentendido e tirou o controle do bolso. Apertou o botão de aumentar três vezes.

Meu sangue ferveu.

Lancei-lhe um olhar raivoso e pulei a janela adentrando o seu quarto. Ele sorriu malicioso me olhando dos pés à cabeça. Sabia que ele estava me tirando porque eu estava com uma calça de moletom e uma camiseta duas vezes maior do que eu.

- Abaixa essa merda! - gritei, tentando alcançar o controle que ele havia estendido para o alto. Ele apenas ria de mim e me provocava mais.

Desisti, dei uma olhada rápida ao meu redor e encontrei o som. O desliquei manualmente e o tirei da tomada.

- Eu realmente desconfio da sua integridade mental, porque não é possível que você não consiga achar uma ideia totalmente egoísta ligar o som nesse volume à essa hora! - curpi as palavras e Josh me encarou, ainda com o sorrisinho, porém, com uma sobrancelha arqueada.

- Primeiro, pare de gritar porque você já desligou o som - o sorrisinho diminuiu. Ele se aproximou e tomou de mim o cabo do som e o plugou na tomada novamente - Segundo, eu posso ouvir música no volume que quiser porque eu estou passando aspirador no meu quarto e, terceiro, são duas horas da tarde. Eu considerei as suas horas mínimas de sono, portanto, o seu direito de me dar um sermão por ser um imbecil está integralmente vetado - ele me beijou na bochecha e sussurrou no meu ouvido - Agora, minha princesa, com licença que você está pisando no chão que eu acabei de limpar.

E ligou o som novamente.

Dei as costas - minhas bochechas queimando - e saí dali me sentindo patética. Eu havia sido a idiota.

Depois de voltar ao meu quarto tomei banho, troquei de roupa e fui adiantar algumas lições, embora a música de Josh me desconcentrasse.

Eu olhava pela janela de vez enquando, o via todo dedicado, limpando o seu quarto enquanto berrava algumas partes das músicas e eu apenas dava risada baixinho.

Isso se estendeu por um bom tempo.

Depois que terminou, desligou o aspirador, abaixou o som e arrancou a camiseta. Prendi o ar e fiquei imóvel para que ele não me visse o encarando.

Josh não era um cara bombado de academia; era forte, mas tinha marcas de músculos sutis e muito sensuais.

Puta merda, pensei.

Ele abriu o guarda roupa e eu apenas encarei as suas costas largas e alvas e me imaginei enchendo de arranhões.

Puta merda, puta merda, puta merda!

Ele saiu do quarto, balancei a cabeça, afastando aqueles pensamentos e tentei me concentrar em meu dever de casa, de uma vez por todas.

Alguns minutos se passaram, consegui terminar minha tarefa.

Me levantei para guardar meus livros na bolsa e quando levantei o olhar, vi Josh adentrar novamente o seu quarto. Desta vez com os cabelos úmidos e uma toalha amarrada na cintura, nada mais.

Ele me flagrou o encarando como uma tarada e então abriu um grande sorriso sem vergonha. Se aproximou da janela, meu coração batendo a milhão, e a fechou sem dizer uma só palavra.

Me joguei em minha cama e suspirei.

Ele abriu a janela novamente minutos depois e me chamou.

- Só para constar... - comecei.

- Só para constar eu sou uma delícia de homem e você não pode resistir ao meu corpo afrodisíaco - eu ri - Agora, mudando de assunto, quer ir comigo tomar um sorvete? A Laís não está convidada.

- Como ela é vingativa - eu me aproximei da janela e me debrucei, estando a apenas um metro de Josh - Tudo bem, eu não faço questão que ela vá.

- Beleza, toco sua campainha em dois minutos - ele disse e saiu do quarto.

Arranquei minha roupa, a substitui por um vestido e calcei uma rasteirinha, enquanto caçava a minha bolsa.

Corri escada abaixo e abri a porta no segundo em que Josh tocou a campainha. Ele sorriu e eu saí para o alpendre.

Fomos caminhando até uma sorveteria do outro lado do bairro enquanto conversavamos sobre assuntos aleatórios e ele me fazia rir.

-... E do que você não tem alergia, Josh? - eu indaguei, exasperada.

- Não exagera, Maya. Eu sou alérgico a morango, amendoim e camarão... e às aulas do Gutierrez - eu ri.

- A isso eu também sou. É humanamente impossível gostar aquele homem. Acho que a única vez em que ele conseguiu fazer um encontro durar mais do que quinze minutos foi quando a mulher dormiu de tédio. - ele me encarou e sorriu fraco - O que foi?

- Nada, é que você fica muito sexy quando é maldosa - eu corei e desviei o olhar. Ele apenas continuou me observando de canto de olho enquanto andávamos.

Chegamos à sorveteria e fizemos nossos pedidos. Josh insistiu em pagar e fomos para o parquinho do estabelecimento. Não havia nenhuma criança no lugar, então achamos que não teria problema.

Me sentei em um dos bancos do balanço e ele se sentou ao meu lado.

- Eu adoro essa sorveteria, tem os sabores mais improváveis do mundo - ele disse animado e eu apenas o fitei. Ele estava tão lindinho.

- Tipo qual? - ele arrastou os tênis na areia para aproximar a sua balança da minha.

- Este aqui - ele pegou um dos sabores com a colherzinha - É de panqueca com cobertura de amora, experimenta.

Ele colocou a colher na minha boca e a sensação era de tomar um café da manhã.

- Que droga, eu peguei os sabores mais clichês de todos os tempos, só faltou o meu favorito... - lamentei.

- Qual é o seu favorito? - ele perguntou e eu hesitei.

- Morango, é ridículo, eu sei. Mas me lembra a infância - eu sorri, nostálgica - Meu pai trazia um pote de sorvete de morango para eu dividir com Max todo final de semana. Eu e meu irmão nos aconchegavamos no sofá depois do jantar e tomávamos sorteve até ficarmos vesgos - ele riu.

- Então por que você não pegou de morango? - ele indagou ainda rindo e eu fiquei séria.

Arrastei meus pés para me aproximar mais dele e lhe dei um selinho. Ele me encarou com um sorriso de canto e a cabeça meio tombada para o lado, numa expressão de confusão.

- Para eu poder fazer isso sem que você morra - acariciei o seu rosto com a mão que não segurava o sorvete e ele pareceu ficar sem palavras. Seus olhos próximos aos meus, oscilando entre meus lábios e meus olhos.

Ele me beijou, sorriu e me beijou novamente e ficamos ali pelo restante da tarde até o sol de pôr.

Dona da Bola [Revisado]Onde histórias criam vida. Descubra agora