Capítulo 36

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A parte mais torturante de toda a minha vida havia começado há mais ou menos três semanas, nelas eu não queria sair de casa - do meu quarto, mais precisamente.

Três semanas é muito tempo se você parar para pensar. Em três semanas é possível se apaixonar por alguém, compor uma música de sucesso internacional, engordar, aprender um pouco de algum instrumento, e tantas outras possibilidades.

Mas, a única coisa que eu fui capaz de criar naquele período de tempo foi uma monotonia dilaceradora.

A graça da monotonia é que ela só conta quantas vezes alguma coisa acontece, mas não se ela fica mais fácil ou menos dolorosa. Monotonia não significa deixar de sentir e nem o torna mais difícil, só quer dizer que você passa por tudo muitas vezes - para alguns o céu; para mim o inferno.

Minha rotina era acordar, lamentar por isso ter acontecido, me arrastar para fora da minha cama e tomar um banho demorado para tentar me livrar da sensação de estar suja.

Não funcionava.

Depois eu me deitava novamente na minha cama, assistia a alguma coisa e só me lembrava de que eu precisava me alimentar quando Carmen ou Max apareciam com alguma coisa para eu comer.

Eu estava mudando e não estava gostando disso.

Meu esforço nunca era suficiente para eu me ajudar: sorrir doía, tentar não pensar no havia acontecido só me fazia pensar mais sobre e, aos poucos eu fui me aproximando mais e mais da ponta do abismo.

Eu sentia tanto medo de nunca mais voltar a ser quem eu era, que eu nem mesmo tentava.

Em uma tarde fria eu me encontrava sentada no banco do passageiro. Ao volante estava Carmen que conversava comigo de uma forma entusiasmada demais para eu prestar atenção.

Eu reconhecia o esforço que ela estava fazendo para me ajudar também, mas ele não me comovia o suficiente.

Eu me odiava por tudo aquilo estar acontecendo, eu estava podre e estava estragando todos a minha volta aos poucos, por isso eu me fechava, não queria acabar com quem eu amava.

Mas, naquela tarde em especial eu estava bem. Há três semanas eu não sentia a paz dentro de mim.

Eu não estava sentindo nada, pensando em nada, eu só estava ali sentada no banco do carro, balançando a cabeça para Carmen não perceber que eu não estava prestando atenção em nada do que ela falava e sentindo aquela sensação que todo mundo sente quando está bem.

Estávamos voltando da uma consulta minja com o meu psicólogo, no qual meu pai insistira para eu ir.

Eu nem percebi quando chegamos em casa e Carmen estacionou, estava presa em minha bolha que nunca me pareceu tão acolhedora.

Senti a mão delicada de Carmen tocar o meu braço e depois sua voz serena me chamou. Eu assenti, desci do carro e caminhei a passos lerdos até a entrada da minha casa.

A mulher tinha um sorriso travesso no rosto e eu franzi o cenho quando ela abriu a porta e soltou uma risada.

O lado de dentro estava mais quente e eu nunca imaginei que poderia fazer frio naquele lugar, mas estavamos no inverno e, sim, havia neve nas ruas.

Percebe logo o porquê de Carmen estar tão animada.

Meus amigos estavam ali na sala da minha casa e, só quando os vi, percebi o quanto me fizeram falta naquelas três semanas.

Passei cumprimentando a todos com um beijo no rosto.

Laís ficou de pé para me dar um abraço apertado; Sarah me levantou do chão e me rodopiou, me fazendo rir e Josh em abraçou da forma mais amável que pode, fazendo questão de sussurrar em meu ouvido que eu estava linda com a minha toca da Hello Kitty e que sentira a minha falta.

Dona da Bola [Revisado]Onde histórias criam vida. Descubra agora