Capítulo 37

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Abri meus olhos devagar, sentindo um desconforto dolorido. Demorei um pouco até recuperar a minha consciência e recobrar meus sentidos.

Primeiro pude sentir um cheiro horrível e persistente que não passava de maneira alguma. Depois minha visão se focalizou e eu pude perceber que aquele lugar era totalmente desconhecido para mim.

Era escuro, pequeno e bagunçado. Percebi que estava em um sótão e, quando tentei me levantar também percebi que eu estava presa a uma cadeira de madeira, minhas mãos e pernas amarradas brutamente.

Meu coração já estava disparado àquela altura e eu estava ficando sem ar. Eu me debatia na cadeira, com esperança de que aquilo me livraria das amarras.

Quando isso não funcionou me lembrei de ter visto em algum filme um truque para sair daquela e resolvi que era aquilo ou nada.

Consegui me levantar ainda com a cadeira presa a mim. Respirei fundo e, além do desespero, o que se passa vá por minha mente era que o que eu estava para fazer iria doer.

Dei o salto mais alto que consegui e desabei no chão, quebrando a carteira e fazendo um barulhão. Soltei meu pés sem muita dificuldade, já que as cordas estavam presas a cadeira que fora estilhaçada, mas minhas mãos haviam sido presas separadamente, então ainda estavam amarradas.

Levantei-me recuperando o fôlego e pensando no meu próximo passo de fuga, mas a portinha no chão se abriu e eu ouvi um burburio de voz.

A luz vinda do portal iluminou parcialmente o local e a sombra de um homem começou a se formar. De repente eu não estava mais sozinha e o rapaz ali também tinha as mãos amarradas.

Era Josh.

E logo atrás dele pude ver Andrew, segurando uma arma apontada para a cabeça do mesmo. Meu coração parou. Dei um pulo para trás indo de encontro com uma parede.

Andrew apontou com o queixo para que Josh se sentasse em um canto isolado e o mesmo o fez, sem contestar.

E eu não sabia que meu coração poderia bater mais rápido, até o garoto dar um passo em minha direção com arma apontada para mim. Ele percebeu o quanto aquilo me assustara e então abaixou a arma e a enfiou de qualquer jeito no bolso da calça.

Ele deu olhada em meu estado, deslizou o olhar pela cadeira estilhaçada e abriu um sorriso sádico.

- Você é uma garota muito esperta, não? - ele me olhou impressionado.

Apenas o ignorei e desviei o meu olhar para Josh que me encarava, seus olhos assustados como eu nunca vira antes.

Andrew deu mais um passo em minha direção, eu mal conseguia me mexer. Tocou o meu rosto e se aproximou o suficiente para encostar o nariz em minha têmpora e inspirar fundo o meu perfume.

Senti nojo, foi daquele mesmo jeito que tudo havia acontecido. Um toque. Um beijo roubado, o suficiente para ele arrancar minhas roupas e achar que eu queria transar com ele.

- Eu tenho uma proposta para você, Mayazinha...

Ele deslizou seus dedos pela pele de meu braço, soltou minhas mãos e entrelaçou nosso dedos.

- Você fica aqui comigo, para sempre. Será minha...

- Nunca! - proclamei e ele me acertou um tapa no rosto.

Josh deu um salto de seu lugar e tentou vir em nossa direção, mas Andrew aprontou a arma para ele.

- Vai esperar eu terminar de falar - seu rosto estava sério, o maxilar trincado e as narinas dilatadas. O um cão raivoso - Você fica aqui comigo e todo mundo tem um final feliz... Ou você vai embora... - ele fez um pausa e virou seu corpo em direção a Josh que lhe lançou um olhar de puro ódio -... E eu mato ele.

Engoli em seco.

Me senti tonta e pensei que eu fosse desmaiar. O ar me faltou quando ele agarrou meu pescoço e me empurrou contra uma parede.

- Joshua, se você der mais um passo eu juro que te mato e depois mato ela - Andrew berrou e uma lágrima escorreu em meu rosto - Agora me dê uma resposta, Maya. Você fica ou ele morre?

- Eu fico... - lancei um olhar ao outro rapaz que negava com a cabeça - Mas quero me despedir do Josh e ter certeza de que você vai deixá-lo ir em paz...

- Feito.

Andrew me soltou e deu um murro no rosto de Josh que caiu e eu corri para acudi-lo.

Me ajoelhei a sua frente, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas, ver Josh daquele jeito era horrendamente doloroso. Segurei seu rosto e encostei nossas testas. Tendo quase certeza de que meus batimentos eram audíveis.

- Você não pode fazer isso - ele sussurrou, sua voz embargada.

- Shh... Não dificulta mais, Josh. Por favor... - eu sussurrei de volta antes de receber um beijo na testa - Tudo vai ficar bem. Você vai ficar bem...

- Eu não quero ficar bem se isso significar que você nunca mais vai ser livre ou feliz...

- Eu farei a Maya a garota mais feliz do mundo.

Então Andrew se aproximou e me levantou pelo braço de uma forma nada delicada.

- Eu não tenho o dia todo, Maya - ele esbravejou.

Respirei fundo, tomei coragem e, em um movimento falho, estendi minha mão para pegar a arma no bolso do rapaz. Ele previu minha ação, pegou a arma antes e, sem nenhuma compaixão, atirou na cabeça de Josh.

O barulho da arma ecoou pelo local e eu caí de joelhos no chão de madeira e comecei a chorar desesperadamente.

Acordei. Sentei-me em minha cama, sentindo puro pavor. Meu rosto estava molhado de suor e lágrimas e eu hiperventilava, em um ataque de pânico.

Não podia mover um músculo sequer, meu batimento acelerado, minha cabeça latejando e uma sensação de vazio se estabilizou em meu peito.

Eu tentava me acalmar, mas meu choro baixo só aumentava, e a minha visão se embaçava mais a cada respiração falha.

Eu não percebi Josh entrar pela janela, mas quando o vi se aproximar e se ajoelhar a minha frente, minhas habilidades motoras pareceram voltar instantaneamente.

Pulei encima dele o abraçando com toda a força que eu tinha, apertava meus braços ao redor de seu pescoço, provavelmente o enforcando, mas eu não conseguia me conter.

Um alívio consolador se instalou em minha alma, Josh estava ali comigo.

Eu respirava com muita dificuldade, mas não podia deixar de apertá-lo mais. Ele se desvencilhou delicadamente de meus braços por um segundo e segurou meu rosto com a maior doçura e calma que alguém poderia.

- Maya, calma - ele disse com sua voz rouca - Respire, por favor. Respire - ele disse inspirando para que eu o imitasse - Vamos lá, respire. Isso... - ele sussurrou e tudo o que eu podia ver eram seus olhos brilhantes em meio à escuridão de meu quarto.

- Você está aqui... - eu disse ainda chorando - Eu pensei que tinha te perdido, Josh. Eu pensei que tivesse te perdido pra sempre... - eu o abracei novamente - Isso seria a pior coisa a me acontecer. Pior até que o que aconteceu no acampamento.

Eu disse com a voz falhando. Josh apenas me apertou entre seus braços e uma sensação de segurança, que eu não sentia há algum tempo, voltou parcialmente.

- Promete que eu não vou te perder. Promete, Josh. Eu não posso perder você...!

- Você não vai... Eu sempre vou estar aqui. Mas, você tem que me prometer que eu também não vou te perder...

Eu não respondi, apenas o abracei mais forte. Ele ficou ali comigo até eu me acalmar. Mais uma vez.

Se levantou para voltar ao seu quarto quando eu já esteva deitada, eu segurei a sua mão o puxando de volta para mim.

- Fica aqui, comigo... - eu pedi abrindo os braços e ele apertou a minha estrutura contra a sua de uma forma que eu jamais poderia imaginar que fosse gostar tanto.

E assim dormimos.

Levei um tempo até adormecer novamente, mas aproveitei estes minutos para sentir o cheiro de Josh e me apaixonar ainda mais por ele.

Dona da Bola [Revisado]Onde histórias criam vida. Descubra agora