Capítulo 38

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Acordei com a luz do sol permeando as cortinas. Há tempos a minha janela não ficava aberta e eu sabia que aquilo devia ser obra de Carmen. Me levantei para fecha-la e vi Josh dormindo, o observei em seu estado mais sereno; seu peito subia e descia calmamente.

Meu celular apitou em cima do criado mudo e eu o peguei e chequei as mensagens. Havia uma de Carmen, dizendo que ela iria ao cinema com umas amigas do trabalho.

Eu já sabia daquilo, ela não queria ir para poder ficar comigo, mas eu insisti e disse que me sentiria horrível se ela deixasse de viver a própria vida por mim. Então a mulher marcou com suas amigas de terem um dia de spa e depois assistir alguma comédia romântica boba.

Esbocei um sorrisinho ao ver que ela realmente havia ido, mas isso significava que eu estava sozinha.

Eu não via isso como um problema, então tomei um banho, comi alguma coisa e aproveitei que o sol havia enfim aparecido para me sentar no gramado de minha casa e ler algum livro.

Passei um bom tempo ali, tranquila e cumprimentando todos que passavam correndo ou passeando com seus cachorros. Mas, o tempo começou a fechar aos pouquinhos, dava para sentir o cheiro da chuva.

Eu me levantei para voltar para casa, mas meus pés congelaram no lugar quando eu vi um garoto muito parecido com Andrew passar por ali.

Ele abriu um sorriso e acenou e o meu corpo todo estremeceu. Uma garoa fina começou a cair e eu permaneci parada onde estava, as lembranças do acampamento resolveram surrar a minha mente e tudo parecia tão real.

Meu corpo começou a doer e eu caí de joelhos no chão, juntamente com as lágrimas que escorreram por minhas bochechas. Eu já estava cansada de passar por tudo aquilo, mas não era exatamente algo que eu controlava.

Os pensamentos só invadiam minha mente e me possuíam de uma forma tão intensa que parecia que cada centímetro de meu corpo havia entrado em combustão.

A chuva começou a engrossar e o vento me relembrava de quando eu estava jogada no chão da floresta, toda machucada e fraca.

Meu corpo todo tremia - de frio, medo, por causa do meu choro desesperado.

Tentei me acalmar aos poucos ou teria um ataque de pânico e ficaria ali sozinha. Reuni toda a força que eu tinha e me esforcei para levantar, embora doesse como se eu estivesse com todos os ossos do corpo quebrados.

Ouvi meu nome ser chamado e virei a cabeça na direção da voz matinalmente rouca que em outras circunstâncias me deixaria arrepiada dos pés a cabeça.

Josh.

Ele me chamou novamente e, quando percebeu que eu não sairia dali, ele veio me buscar. Seus braços me envolveram e me deram apoio e Josh me conduziu até a sua casa.

Me ajudou a subir as escadas até o seu quarto e uma expressão preocupada dominou seu rosto ao perceber o quanto eu estava tremendo.

O garoto abriu o guarda roupa e depois me entregou uma troca de roupa e uma toalha.

- Você precisa de um banho quente - ele prescreveu - Já teve uma caso de hipotermia e aposto que não quer ir ao hospital...

Fingi um sorriso e neguei.

Aceitei o kit anti-hipotermia de Josh e me dirigi ao banheiro. A primeira coisa que fiz foi encarar o enorme espelho - até porque seria impossível eu não fazer.

Eu estava um desastre.

Minha roupa grudada ao corpo de uma forma nada admirável, meus cabelos ensopados e meu rosto vermelho pelo choro.

Arranquei as peças de roupa e encarei meu corpo já despido, o ar se estaguinou em meus pulmões. Meu corpo tinha perdido toda a beleza que eu via nele antes. As marcas deixadas por Andrew já não eram aparentes, mas sempre que eu olhava meu reflexo, me lembrava daquele dia.

Dona da Bola [Revisado]Onde histórias criam vida. Descubra agora