Capítulo 35

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Na tarde seguinte eu recebi alta e, finalmente, poderia ir para o meu lar com minha família, onde ninguém me machucaria.

Me despedi das enfermeiras e as agradeci por terem sido tão atenciosas, antes de sair do quarto do hospital, vestindo roupas quentes e que me mostravam menos possível, eu estava machucada.

Quando passei pela porta automática do saguão pude avistar meu pai e Max me esperando com seus melhores sorrisos falsos, eu sabia que ninguém ali estava nem genuinamente feliz.

Abracei os dois e não me queixei da dor que o abraço apertado de meu pai me causou, mas eu a senti.

Antes que eu pudesse adentrar o carro e sair daquele lugar o mais rápido possível, Carmen segurou o meu braço, delicadamente, e apontou para Laís e Josh que estavam encostados na porta do lado do passageiro do carro do garoto, me encarando de longe.

Me livrei da bolsa tiracolo que eu insistira a Carmen para carregar, a jogando no banco de trás do carro e me aproximei a passos calmos de duas das minhas pessoas favoritas.

Laís nem me esperou saudá-los com a minha voz que estava rouca naquela manhã, ela apenas me agarrou e me abraçou depois de deixar uma marca de batom na minha bochecha.

Eu agradeci por tê-la ali, ficar sozinha com Josh seria constrangedor depois do escândalo que eu havia feito. Estava um clima dolorosamente tenso entre nós.

Mas o meu momento de conforto durou por pouco tempo, pois, Lalah logo se afastou com a desculpa de ir cumprimentar minha família - Josh provavelmente, havia contado a garota e ele não costuma postergar assuntos mal acabados.

Então apenas fiquei encarando os meus pés calçados por meus All Star, até Josh quebrar o silêncio.

- Como é que você está? - ele perguntou, também com a voz rouca.

- Eu tô legal - respondi rapidamente, mesmo sabendo que depois da minha resposta o silêncio perturbador voltaria.

- Ah, isso é ótimo... - ele murmurou e forçou um sorriso de canto.

- O que aconteceu com você? - eu perguntei. Ao olhar em seu rosto pela primeira vez, pude notar um hematoma em sua pálpebra e um corte em seu lábio inferior, a sua mão também estava machucada.

- O quê? - ele perguntou fingindo não entender.

Eu então dei alguns passos e fiquei próxima o suficiente para segurar o seu rosto e analisá-lo.

- Seu olho está roxo. O que foi que aconteceu? - eu perguntei mais entretida com o fato de seu machucado não interferir muito em sua beleza.

- Não foi nada, caí de skate...

- É, e depois ele te deu um pau! Você não precisa mentir para mim, Josh... - disse eu, acariciando a sua mão machucada, sem desviar o olhar do garoto.

- Eu tô bem! Não está doendo... tanto - soltei a sua mão e revirei os olhos, brava por não ter a verdade - Eu me meti em uma briga, não foi nada de mais - ele respondeu contra a própria vontade, bufando.

A resposta não me deixou menos irritada, na verdade o meu coração deu uma descompassada grotesca ao ouvir aquelas palavras.

- Você não precisava ter feito isso, Josh... - enfiei as mãos nos bolsos. Ele sabia que eu entendia o que havia acontecido - Eu preciso ir agora, meu está me esperando pra gente ir pra casa.

Me virei para ir embora, mas antes que eu pudesse dar mais algum passo, Josh me puxou pela mão para mais perto e me abraçou. Seus braços me envolveram como uma redoma de aço que me guardaria de tudo.

Seu coração bateu rápido e ele engoliu em seco, provavelmente um bolo de lágrimas, mas eu já havia deixado algumas caírem. As sequei com a manga da blusa antes que ele pudesse ver, mas quando nos afastamos ele, com certeza, notou meus olhos marejados.

- Nos vemos depois... - ele disse.

Josh beijou a minha testa antes de eu me virar novamente para ir embora, mas desta vez eu não fui impedida.

Caminhei em direção ao carro a passos rápidos, Max abriu a porta eu o agradeci com um gesto de cabeça.

A viagem não demorou e quando o carrofoie estacionado na garagem, eu me arremessei para fora do mesmo, entrei em casa sentindo o calor acolhedor do ambiente e olhei em volta percebendo tudo em seu devido lugar.

Subi as escadas de dois em dois degraus para acelerar o processo de subida até o meu quarto e me tranquei sozinha no cômodo.

"Nos vemos depois..."

Esta foi a última frase que eu ouvira de Josh no acampamento, antes de a pior coisa da pior coisa que já me acontecera.

Eu estava na minha barraca, pronta para dormir e, de repente ela começou a ser chacoalhada, como se eue estivesse em um terremoto, mas a risada de Josh o denunciou.

Uma luz de uma lanterna se focou na entrada da barraca, que ainda estava fechada. Eu usei uma mão para impedir a luz de me cegar e deslizei o zíper abrindo a passagem para Josh.

Ele entrou e abriu um sorriso de orelha a orelha ao ver a cara mais emburrada que eu poderia fazer.

Briguei com ele (claro), por me assustar daquele jeito e o mesmo apenas ouviu sem deixar o seu sorriso vacilar e revirando os olhos algumas vezes.

Quando percebi que ele não iria prestar atenção no que eu dizia nem se eu berrasse em seu ouvido com um megafone, eu me aproximei dele e o beijei sem nenhum aviso e fui correspondida instantaneamente.

Paramos um segundo para sorrir no meio do beijo e eu me lembro perfeitamente de ele ter suspirado e sussurrado "Você é louca, Wilson" de maneira brincalhona em meu ouvido me fazendo arrepiar.

Ele explicou que havia ido lá para me desejar uma boa noite e fazer o seu discurso me permitindo correr para a sua barraca caso eu tivesse medo ou apenas uma vontade incontrolável de beijá-lo e aí foi a minha vez de revirar os olhos.

Ele sorriu e eu também antes de murmurar aquelas palavras que nunca me pareceram tão dolorosas...

Nos vemos depois.

Eu gostaria de tê-lo visto depois, naquele dia, mas eu apenas fiquei trancada em meu quarto, me torturando com aquelas lembranças infernais.

Tomei um banho demorado, para lavar cada pedacinho de pele e chorar tudo o que eu havia segurado até aquele momento.

Dona da Bola [Revisado]Onde histórias criam vida. Descubra agora