Capítulo 28

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Eu estava num ônibus, apenas viajando pela cidade enquanto tentava pensar em um lugar onde poderia ficar e não seria procurada por Josh. Por algum motivo, o lugar a que ele havia me levado na noite em que comemoramos minha integração ao time veio à minha mente.

Talvez aquela ideia fizesse sentido para mim porque, pelo que eu me lembrava, aquele lugar era uma ONG de suporte emocional.

E tudo o que eu precisava naquele momento era de apoio emocional, eu não conseguia acreditar que estava tão abalada por um garoto, mas eu nunca havia me machucado tanto quanto naquela manhã.

Pesquisei o endereço na internet e paguei um uber para me levar até lá.

Consegui entrar sem problemas, mas o difícil foi encontrar Chris.

Pedi ajuda a algumas pessoas durante minha busca, mas só consegui encontra-lo quando ouvi sua voz vinda de uma salinha. Tentei adentrar o cômodo, mas um homem gigante me impediu.

- Você não pode entrar aqui - ele disse.

- Tudo bem, eu só preciso falar com o Chris. Você pode chamá-lo, por favor?

E poucos segundo se passaram até ele aparecer do lado de fora da sala e abrir um grande sorriso para mim.

- Ah... Maya, certo? - assenti e ele se virou para o homem gigante - Essa é a mina do McCord.

E eu senti meus olhos se inundarem ao ouvir aquilo. Chris percebeu, franziu o cenho e me pediu para acompanhá-lo para longe dali.

- Você tem alergia a pelo de cachorro ou gato? - eu neguei e ele me conduziu até o elevador.

Subimos até o andar dos pets e os bichinhos ficaram animados ao verem Chris. O homem se sentou no meio deles e eu me sentei de frente para ele.

- E então, Maya... O que faz aqui? - ele indagou e eu respirei fundo.

- Acho que eu estou fugindo - admiti e peguei um dos filhotinhos para o meu colo.

- De quem? - ele arregalou os olhos.

- Eu... Não sei, acho que do Josh, da escola... De todo mundo.

- Aconteceu algo de especial que te despertou essa vontade de... fugir? - ele perguntou como se soubesse exatamente o que eu iria dizer.

- Antes de te responder, preciso ter certeza de que ninguém vai ficar sabendo sobre isso...

- Não se preocupe, Josh nunca vai ficar sabendo, pelo menos, não de mim - ele mostrou as mãos - Mas e aí? O que houve?

- Hoje eu quase saí na mão com uma garota da escola porque ela me disse que o Josh está me traindo com ela - eu disse e senti um aperto no peito - Ele não me traiu, exatamente. Nós, não somos namorados, mas ele mentiu para mim e sabe que eu odeio quando quebram promessas - ele assentiu - Eu sei que estou sendo dramática, mas... Josh a primeira pessoa para quem eu entrego o meu coração. Minhas amigas me disseram para tomar cuidado por causa da reputação dele, mas eu fui cega e tola.

- E por quê?

- Porque acreditei que ele gostasse de mim também, me convenci de que talvez tudo o que eu sinto fosse recíproco, mas hoje... Judy jogou meu coração no chão e pisou.

- Espera. Mas, por que a Judy faria isso?

- Eu não acho que ela me odeie especificamente, acho que ela odeia todas as garotas que o Josh pega. E eu a entendo, mas o meu lance com Josh tava ficando sério e talvez ela tenha ficado sabendo.

Consegui abrir um sorriso quando o cãozinho lambeu meu rosto.

- Por que o seu lance com o Josh ficou mais sério? - ele se levantou, como se estivesse pronto para acabar com aquilo.

- Porque ele disse que gosta de mim.

- E por que ele mentiria? - ele perguntou e se encostou no batente da porta enquanto me esperava chegar a uma conclusão.

Aquela era uma boa pergunta, mas não era como se eu já não tivesse me perguntado aquilo durante todo o tempo que eu havia levado para chegar lá.

Talvez eu fosse só uma piada para Josh, talvez ele gostasse de contar a todos como eu era boba e como ele sempre conseguia o que queria comigo.

- Chris... Eu posso passar esta noite aqui? - ele sorriu com cumplicidade.

- Tá legal, você pode. Desde que avise seus responsáveis - ele ofereceu e eu assenti.

E então passei a noite ali, em um dos quartos que eles tinham reservados para emergências.

Apenas fiquei encarando a vista e cozinhando meus sentimentos calmamente. Eu me sentia uma criança feita de tola, com o coração espatifado.

Chris havia ido me visitar mais tarde naquela noite, me entregou o meu jantar e me desejou uma boa noite.

Quando saiu para o corredor, pude ouvir o nome dele ser chamado pela última voz que eu gostaria de ouvir naquele momento.

Josh.

- O que você está fazendo aqui a essa hora, irmão? - Chris perguntou e então o ouvi xingar um palavrão baixinho.

Pensei que talvez ele pudesse me denunciar, então abri uma frestinha na porta e espiei o que estavam falando. Christian segurava Josh pelos ombros e parecia preocupado.

- Escuta, irmão... Você tem que respirar fundo. Puxa pelo nariz e solta pela boca - ele riu para descontrair - Você já teve ataques de pânico antes. Vamos lá, olha para mim.

E eles respiraram juntos em silêncio, até Josh se acalmar.

- Ela sumiu, Chris - Josh disse com a voz fraca - Não está na casa dela e nem na da amiga, não atende o telefone e...

- Cara, se acalme...

- Não dá pra eu me acalmar! - ele respondeu, um pouco mais alto do que esperava, eu supus - São dez horas da noite, a última vez em que a vi foi na escola há doze horas; lá fora está fazendo quase sete graus e ela estava com um vestido hoje de manhã. Um vestido!

Por um segundo me senti culpada por fazê-lo se preocupar daquela forma. Josh sofria de ansiedade e estava dirigindo pela cidade a minha procura de noite, enquanto tinha um ataque de pânico.

E mesmo assim eu estava possessa apenas por ouvir a sua voz.

- E eu nem pude falar com ela de manhã, ela desapareceu e deve me odiar agora - Chris me lançou um olhar, sabendo que eu estava vendo e eu senti meu coração se apertar - Eu sei que posso estar fazendo uma algazarra tremenda, mas... A Maya é muito especial para mim e eu não quero... Eu não posso ficar sem ela.

E foi neste momento em que eu empurrei a porta, contrariando a razão. Josh parecia estar acordado e de pé por intervenção divina, parecia exausto e seu rosto ainda estava vermelho nos ponto de expressão.

Ele me olhou por alguns segundos, quase não acreditando nos próprios olhos.

- Maya! - ele deu um passo em minha direção e eu recuei - Você está bem? - ele ignorou meus protestos silenciosos e me abraçou forte, afundando seu rosto entre meu pescoço e meu ombro.

Eu quase retribuí o abraço, mas eu não conseguia não tratá-lo com frieza.

- Estou - me desvencilhei dele e me pus ao lado de Chris que me lançou um olhar de condescendência, embora parecesse reprovar o que eu estava fazendo.

- Josh, irmão - ele chamou - Acho melhor ir para casa...

- Você vem comigo, Maya - ele tentou pegar a minha mão mas eu a puxei antes de ser alcançada.

- Não, Josh - minha voz saiu embargada e eu lutei contra as lágrimas veementemente - Eu vou ficar.

Os ombros dele caíram, cansados e ele assentiu calmamente antes de dar alguns passou para longe, sem mudar a direção de seu olhar.

- Então, ok - ele concordou, comprimiu os lábios e puxou o ar - Boa noite... marrentinha.

E então ele deu as costa e caminhou até o elevador. Corri para o quarto, com as lágrimas pulando para fora, antes mesmo de eu adentrá-lo.

Deitei na cama, sentindo um vazio dolorido no peito. Acabei adormecendo de tanto chorar e minha cabeça parecia pesar cinco vezes mais.

Dona da Bola [Revisado]Onde histórias criam vida. Descubra agora