CAPÍTULO 1

35.2K 2.6K 2.4K
                                    

Assim que minha mãe pede pra eu ir ao sótão ver as coisas que não uso mais, fico receosa. Sei muito bem o que tem lá, e acho que não quero remexer o passado.

Uma lanterna me ajuda a encontrar o botão para acender a luz daquele quartinho empoeirado. Várias caixas estão espalhadas e muitas delas são coisas minhas, coisas que Tyler me deu.

A primeira que pego é uma caixa um pouco pequena e com uma caneta preta está escrito meu nome e o nome de Tyler. A abro. Nela há várias fotos nossas, desde os nossos cinco anos. Sorrio ao ver uma foto em que eu estou dando uma xícara de chá à Tyler, e o mesmo está com uma cara de tédio. Esse foi um dos nossos melhores momentos - mesmo que eu tenha obrigado ele a brincar comigo.

A outra foto que pego já tínhamos uns nove anos. Estávamos na minha casa comendo sorvete, até ele me lambuzar inteira e logo tirou a foto com seu celular: eu com a cara cheia de sorvete e ele rindo de mim. E depois disso nunca mais comi sorvete perto dele.

Quando sinto minhas bochechas queimarem e um líquido descer de meus olhos, paro de olhar as fotos que um dia eu considerei como os melhores momentos de minha vida.

Caixas e mais caixas estão à minha frente. Malditas caixas! Todos elas me fazem lembrar dele.

Foco Molly, foco.

Abro a maior caixa de todas e nela há várias bonecas minhas, almofadas, cobertores, retratos meus e de Tyler e por fim, meu antigo diário.

Antes de poder abrir meu querido amigo Hunter - diário - e lê-lo, minha mãe me chama:

- Molly! Sra. Baker está aqui!

- Já estou descendo! - Grito de volta. Coloco as coisas de volta na caixa e desço as escadas do sótão vagarosamente.

- Tyler também está! - Completa ela.

Cesso meus passos e perco a respiração. Que maldição Tyler Baker veio fazer aqui?

Respiro fundo e meus passos ecoam no chão de madeira. Desço as escadas e a primeira pessoa que vejo é a Sra. Baker com um sorriso enorme em seu rosto. E logo atrás dela, está o ser que saiu de seu ventre.

- Molly! Quanto tempo garota! Olhe como você está linda! - Diz Vivian, mãe de Tyler. Sorrio com o comentário. - Ela não está linda Tyler?

Sra. Baker é o tipo de pessoa bem-humorada, alegre e divertida. Nunca me canso de suas brincadeiras, mas essa já foi de mais!

- An... Sim, mãe. - Diz ele por fim. Ele me olha e sorri de lado.

Reviro os olhos e me viro para minha mãe.

- Hoje terá a reunião do orfanato?

- Terá sim, querida. - Fala minha mãe.

Desde pequena minha mãe gosta de ajudar os outros, posso dizer que ela é muito boa nisso. Antes mesmo de ela me ter, ela já planejava construir um orfanato. Ela simplesmente ama crianças e adora o que faz.

Vivian é sócia da minha mãe. Na verdade, Vivian é um ótima arquiteta e foi ela quem arquitetou o orfanato. E como ela é muito emotiva, entrou na onda da minha mãe e diz que não consegue viver longe daqueles projetos de gente.

- E por algum motivo - Continua Vivian - ou talvez um milagre, Tyler quis vir.

- Que ótimo! Assim poderemos arrecadar mais coisas para as crianças. Você nos ajudaria, não é Tyler?

Olho para o garoto que me olha fixamente e espero sua resposta.

- An? - Diz quando percebe que todas nós estamos o encarando. - Ah, sim. Irei ajudar.

- Já até sei o motivo. - Ri Vivi e logo depois minha mãe a acompanha.

Fico sem entender nada. Deve ser coisas de adultos. Afe!

- Mãe, vou terminar de ver as coisas no sótão...

- Ok, pode ir lá querida. - Diz. - Tyler, poderia acompanhá-la?

- Não preciso de ajuda, mãe.

- Então sendo assim - Diz o garoto. -, eu vou.

Suspiro e começo a subir as longas escadas de madeiras.

[...]

- Olha! A almofada que te dei. - Fala ele. Ainda estamos no sótão.

- É...

- Você vai dar ela para alguma criança do orfanato?

- Até daria, mas eu amo o Batman e jamais faria isso com ele.

- Você não mudou nada. - Diz ele rindo.

- E isso é bom?

- Claro que é.

- Hum...

- Eu...

O garoto é interrompido por um barulho irritante e segundos depois percebo que vem do bolso da minha calça.

- Alô? Ben?

- Molly! Grace precisa de você, ela veio aqui chorando e eu não sei como acalmá-la. Vem voando!

- Já estou indo!

Encerro a ligação e encaro Tyler que me observa atentamente.

- Você ainda está com ele?

- Ele é só meu melhor amigo, Tyler!

- Então você me trocou?!

- Não tenho tempo pra isso, qualquer dia conversamos. Tenho que ir, até mais.

Antes de fechar a porta do sótão escuto Tyler sussurrar um tchau.

AminimigosOnde histórias criam vida. Descubra agora