The Doctor whitout name.

57 4 0
                                    

Quem sabe eu ainda sou uma garotinha

Esperando o ônibus da escola sozinha

Cansada com minhas meias três-quartos

Rezando baixo pelos cantos

Por ser uma menina má.

Malandragem – Cassia Eller.

Muitas vezes acreditamos cegamente que é preciso grandes coisas para que grandes mudanças ocorram na nossa vida, que dirá no universo! Mas a verdade é assustadoramente contraria, pequenas coisas causam enormes mudanças. Nunca acreditamos que poucas palavras possam mudar nossas vidas, e quando digo poucas, não falo de ''pequenos discursos'', ou ''curtas reflexões de professores'' por quem particularmente temos afeto, mas sim de pouquíssimas palavras mesmo!

''Amélia, temos de ir embora imediatamente!'', foi o que a garotinha ouviu no dia 5 de dezembro de 2029, tinha seis anos quando viu sua tia Alice entrar desesperada em seu quarto nas primeiras horas daquela manhã fria de inverno com os cabelos ruivos esvoaçantes e com as olheiras enormes tomando boa parte da região em baixo de seus olhos, mesmo que Amélia não estivesse acordada há muito tempo não podia deixar de notar que parecia que sua tia não dormia há dias.

Não adianta que eu tente descrever o quarto dela, ela própria não se lembra, não adianta que eu tente descrever o estado de sua tia além das poucas palavras que já usei, não adianta que tente descrever o sonho que Amélia estava tendo, ela própria lembra apenas de um flash, e esse flash foi única coisa que nunca se esqueceu de seus sonhos, a última vez que ela o viu foi naquele sonho, e foi a tanto tempo que é inútil tentar descrever o medo que ela tinha dele, mas sei que pelo menos uma coisa posso fazer, posso tentar descrever um pouco de sua vida.

A jovem Pond nunca conheceu os pais, nem viu uma única foto deles, às vezes ela pesava que eles nunca tivessem existido que eram apenas fantasmas que rondavam em sua imaginação, aqueles pensamentos sempre a perturbavam. Na ela era muito nova para ir á escola, e por algum motivo sua tia só deixava que saísse de casa na companhia dela, portanto não tinha amigos de quem sentiria falta ou que sentiriam a partida dela, e mesmo assim sentiu as palavras ditas pela mulher mais velha com grande pesar no coração, tinha coisas que pretendia fazer, ela ainda não conhecia cada canto da casa delas no subúrbio londrino, já havia muito tempo que aprendera a andar, porém á pouco tinha entrado na fase ''exploradora'', onde queria checar cada lugarzinho do seu lar, ainda não tinha feito isso, faltavam o sótão, e o escritório da sua tia, mas nem ela entendia porque aquele local constava na lista, ela estava terminantemente proibida de entrar lá (quaisquer que fossem as circunstancias), ela também queria conhecer as outras crianças da rua, só as havia visto pela janela, nos dias ensolarados elas corriam pela grama verdinha, tomavam sorvete, brincavam de toda sorte de coisas e voltavam pra casa á noitinha, Amy apenas suspirava observando-as, ela via os desenhos na televisão (e ficava muito irritada quando eles era interrompidos pelos pronunciamentos reais), comia doces, brincava com suas bonecas, observava as figuras de alguns livros que sua tia lhe dera, lia outros, desenhava roupas, customizava as suas próprias, mas isso nunca era o bastante, ela queria sair, e brincar com os outros, sua tia nunca deixou, e ela nunca atreveu-se a desobedecer sua tia.

E mesmo com todos os contras, mesmo com sua tia dizendo animadamente que no novo lar ela poderia sair para brincar quantas vezes tivesse vontade, ela não queria ir, aquela era a casa delas, tinha as marcas de crescimento dela na parede, as marcas dos sapatos no chão de quando ela tentou dançar com os saltos da tia, as manchas de desenhos feitos com giz de cera que se recusavam a sair por mais que Alice tentasse Amélia não entendia porque todo aquele empenho em tirar as marcas da parede, não estava tão feio assim, a mulher alegava que aquele tom de dourado dava em seus nervos, Amélia usou todo o arsenal de lembranças felizes para tirar aquela ideia da cabeça da tia, mas ela era cabeça dura e recusava-se a ouvi-la. O que aconteceria com tudo aquilo quando elas fossem? Outra família com certeza livrar-se-ia delas? Nunca chegou a ter uma resposta.

Doctor Who: A Blue Box, An Time Lord and A Broke Heart HumanOnde histórias criam vida. Descubra agora