Nos afastarmos por um tempo? Até parece que ela realmente faria isso. Eu não dava nem dois dias para que aquela Cara de Coruja sardenta voltasse a me perturbar, aquilo não passava de conversa fiada.E, sim, eu sei que não foi muito legal da minha parte tratá-la tão friamente, mas cacete, o que eu podia fazer? De jeito nenhum ia sorrir para ela e fingir que estava tudo bem, quando na verdade queria torcer seu pescoço. Viola Beene me pôs em uma saia justa dos infernos ao aparecer como uma assombração na frente dos meus amigos. A princípio pensei que fosse, sei lá, uma espécie de alucinação, resultado dos comprimidos que a velha Talbot me receitara. Mas não, a realidade esbofetou minha cara, a Cara de Coruja estava mesmo ali, seus olhões grudados em mim eram tão reais quanto o suor frio na minha nuca e as risadinhas dos meus amigos. Como num pesadelo a voz do meu pai ribombou em minha mente: Peça a ela que se afaste. Exija que lhe deixe em paz. Se ainda assim ela insistir em persegui-lo, como você diz que ela vem fazendo, daremos um jeito de fazer com que ela seja expulsa... Não me decepcione.
Suas palavras se repetindo uma, duas, três... infinitas vezes, e de repente minha mãe estava em sua poltrona, lendo alguma porcaria de Virgínia Woolf, o vento que entrava pela janela soprando seus cabelos castanhos, escondendo boa parte do rosto, enquanto me concentrava em terminar o desenho. Tinha passado a tarde inteira debruçado sobre a pequena mesa no centro da sala de estar, parando vez ou outra para olhá-la e observar a forma como sorria para as páginas de seu livro.
- Rigel, guarde isto, sim? É hora do banho. - pediu, e virei a cabeça para me deparar com seu rosto sorridente.
- Só mais um minuto, o nariz não está muito bom.
Ela parou ao meu lado e sua mão alcançou o papel.
- É o seu pai? - exclamou num tom surpreso.
Eu adorava desenhar, era provavelmente a coisa que mais gostava de fazer, poderia passar o dia inteiro apenas rabiscando e no fim ainda desejaria rabiscar mais um pouco. Ela sabia disso, mas havia tanta perplexidade em seu rosto.
- O nariz não ficou muito bom, não é? - perguntei baixinho. - Eu posso consertar se me der mais alguns minutos antes do banho.
- Não, não é isso. Seu desenho está incrível!
- Verdade?
- Eu não mentiria para você, mentiria? - disse com um de seus sorrisos gigantes.
Eu esperava que não. Minha mãe não costumava mentir para mim, quando algo não estava a seu gosto, ou quando fazia algo que a deixava triste ela sempre fazia questão de me deixar saber, não brigava ou berrava comigo, mas expunha seu ponto de vista.
- Você acha que o papai vai gostar?
- Por que não gostaria? Estou tão orgulhosa, amor. Você está melhor a cada dia, herdou o talento da Lucile, meu pequeno Da Vinci. - prosseguiu, sem tirar os olhos do desenho. - Ela também desenhava quando tinha a sua idade.
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Viola e Rigel - Opostos 1
Teen FictionSe Viola Beene fosse um cheiro, Rigel Stantford taparia o nariz. Se ela fosse uma cor, ele com certeza não a usaria. Se fosse um programa de TV, ele desligaria o aparelho. Mas ela era apenas uma maluca expansiva e sorridente que infernizava a sua vi...