Se Viola Beene fosse um cheiro, Rigel Stantford taparia o nariz. Se ela fosse uma cor, ele com certeza não a usaria. Se fosse um programa de TV, ele desligaria o aparelho. Mas ela era apenas uma maluca expansiva e sorridente que infernizava a sua vi...
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Encontro meu pai sentado na beirada da cama, encarando o piso branco do quarto como quem encara um oráculo. Tão logo percebe a minha aproximação, ele levanta a cabeça e sorri para mim — dá pra ver que é um sorriso forçado: nenhum vinco ao redor dos olhos ou salto de bochechas, apenas uma tensa esticada de lábios.
Antes que eu possa dizer algo, ele aponta a poltrona ao lado da cama e pede que eu me sente.
Fico agradecido, não tinha mesmo a menor ideia do que dizer. O cara diante de mim parece qualquer coisa, menos o pai que eu costumava conhecer, seus ombros estão curvados, os olhos inchados, tão pálido que poderia se camuflar entre as cortinas.
— Como você está? — pergunta depois de uns segundos.
Desconsiderando que acabei de descobrir que tenho um irmão, que por um acaso também é irmão da única garota no mundo que não enche totalmente o saco, e ainda por cima me faz sentir um pouco menos como o monte de merda que de fato sou; que minha mãe parece disposta a acabar com todo o estoque de álcool da Grã-Bretanha e que meu pai está prestes a ser retalhado por um fóssil que respira, estou ótimo.
Mas é claro que eu não digo isso, afinal não quero preocupá-lo ou fazer com que se sinta pior.
— Melhor do que estava há algumas horas.
Ele assente, como se entendesse.
— A sua mãe já acordou?
— Sim.
— Ela não veio, não é?
— Ela está sonolenta por causa dos remédios, falou que virá amanhã após a cirurgia.
— Falou, é? — O canto de seu lábio se estica numa risadinha dura, tão real quanto os vincos em suas bochechas. — Você é o pior mentiroso que eu conheço.
— Sinto muito, pai. Eu tentei convencê-la a vir, mas...
— Eu sei. — Tão rápido quanto surgiu, seu sorriso se desfaz. — Não esperava mesmo que ela viesse, conheço a sua mãe, ela está magoada, não posso culpá-la por isso. — Ele faz uma pausa enquanto estala os nós dos dedos. — Nunca tive a intenção de machucá-la, nem a você, mas o garoto, o Liam, ele... precisa de mim. Não dá para simplesmente virar as costas e fingir que ele não existe, como a sua mãe espera que eu faça, ele é meu filho.
A emoção na sua voz me deixa nauseado.
Como um idiota saído de lugar nenhum consegue a afeição do meu pai assim, em um piscar de olhos? Até onde eu sei, ele e o tal de Liam nunca trocaram uma única palavra que seja, ainda assim, ele age como se o conhecesse, como se devesse algo àquele imbecil.
Respiro fundo, mais grogue que um gambá.
É de embrulhar o estômago.
Antes que eu perceba as palavras estão saltando da minha boca, flutuando no ar frio do quarto carregadas de mágoa e desdém: