Esta é sem sombra de dúvidas a pior e mais longa noite da minha vida. Várias horas se passaram desde que o dr. Karuma informou que o quadro do Liam se agravara e que ele precisaria ser submetido a um transplante de fígado com urgência; porém, as probabilidades de encontrarem um doador compatível àquela altura e em tempo eram quase nulas; exceto, é claro, se um familiar se dispusesse a doar.
Por um instante eu respirei aliviada, o papai poderia ser esse doador. Mas logo o dr. Karuma, que o acompanha há anos, lembrou-nos de que seu fígado não se encontra no melhor estado, por conta da bebida, e que ele teve hepatite há alguns anos. Por conta do peso e da altura, a mamãe também não pode doar. Quanto a mim... Oh, céus! Com meus quatorze anos e pouco mais de quarenta quilos, não sou sequer uma opção. E essa era toda a família que o Liam tinha por perto.
A percepção disso era desoladora. De repente senti como se estivesse despencando de um penhasco; como se o meu coração tivesse esquecido como se bate; como se uma parte de mim se desintegrasse.
Mal pudia acreditar nos meus ouvidos. A vida de Liam, do meu Liam, meu irmão querido, agora dependia de um transplante de fígado, e não havia nenhum doador disponível, menos ainda um que fosse compatível. Conforme as explicações iam deixando a boca do médico, as lágrimas enchiam mais e mais os olhos da mamãe, assim como os meus. Ao fim da última sentença ela pendeu para o lado por um instante, levando a mão à boca para abafar um grito. Não fosse pelo papai, que passou os braços ao redor dela e a levou de encontro ao peito, ela teria caído aqui mesmo, na sala de espera.
Por um longo ínterim tudo que eu fiz foi observar, imóvel e assombrada, o desespero da mamãe, as lágrimas lavando minhas bochechas e escorrendo pescoço abaixo. O dr. Karuma se afastou por uns dois segundos, só o tempo de falar com uma enfermeira, que se apressou em deixar a sala, porém voltou minutos depois com um copo de água e um comprimido em mãos. Ela estendeu o medicamento diante do rosto de mamãe e suplicou a ela que o tomasse. Mamãe, por sua vez, se manteve irredutível. Com um movimento descoordenado, afastou a mão da enfermeira e levantou a cabeça em busca do olhar do papai.
Antes que ela pudesse se recompor, dr. Karuma voltou a falar:
— Sra. Beene, o comprimido irá ajudá-la. Há muito que precisamos discutir e não conseguiremos chegar a um lugar comum com a senhora neste estado. O Liam precisa que seja forte. Tome o remédio... por ele.
Minha visão estava tão embaçada pelas lágrimas que nem vi quando mamãe pôs o comprimido na boca, quando dei por mim ela já o havia engolido e empurrava o copo de volta para a enfermeira. Durante todo o tempo ela não me dispensou um único olhar, não o fez nem mesmo ao deixar a sala para acompanhar o médico; seus sapatos chicoteando o piso lustroso, me fazendo estremecer. Papai, no entanto, lembrou que eu estava ali, de pé ao lado da fileira de poltronas brancas, com meu coração batendo fraquinho e meus olhos rasos de água. Com os olhos em mim, ele sussurrou um "Vai ficar tudo bem". Então, assim como a mamãe, seguiu no encalço do doutor.
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Viola e Rigel - Opostos 1
Teen FictionSe Viola Beene fosse um cheiro, Rigel Stantford taparia o nariz. Se ela fosse uma cor, ele com certeza não a usaria. Se fosse um programa de TV, ele desligaria o aparelho. Mas ela era apenas uma maluca expansiva e sorridente que infernizava a sua vi...