Grandes expectativas e frustrações maiores ainda

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Desde que o papai saiu com o padre Cadence a mamãe não para de andar de um lado para o outro como uma barata embriagada, e embriagada é o que ela vai ficar se continuar a beber desse jeito

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Desde que o papai saiu com o padre Cadence a mamãe não para de andar de um lado para o outro como uma barata embriagada, e embriagada é o que ela vai ficar se continuar a beber desse jeito. Eu até tentei impedir que ela entrasse no escritório dele para pegar bebida, mas o que eu podia fazer além de implorar? Segurá-la, amarrá-la? Pelo amor de Deus, é da minha mãe que estamos falando.

— Será que a senhora poderia parar de beber e me dar essa garrafa? — peço pela milésima vez, cercando-a por todos os lados numa tentativa de tirar a bebida dela.

— Aquele maldito continua o mesmo imbecil de sempre, basta ela estalar os dedos para que ele vá atrás como um cão sarnento.

— Está falando do papai? — Ela se vira para mim, um sorrisinho ácido brincando nos lábios, um brilho raivoso obscurecendo seu olhar. Eu não devia dizer isso, mas sinto um pouco de medo da minha mãe às vezes, do que ela pode fazer. Quero correr pela casa e checar as janelas, me certificar de que estejam todas bem trancadas, esconder as facas e os frascos de remédio, limpar a área. — A senhora precisa descansar — digo, embora nem morto vá permitir que ela suba para o quarto nesse estado.

— Não, eu preciso é que o infeliz do seu pai se lembre que tem uma família e volte para casa.

— O papai não é um infeliz, mamãe. E deve ter acontecido algo para que ele saísse daquele jeito, talvez um problema no abrigo. O padre Cadence parecia bem aflito quando chegou, e ainda mais quando deixaram o escritório. A senhora viu o estado dele.

— Não seja idiota.

Aproveito que ela me deu as costas e checo meu celular: nenhuma ligação ou mensagem do papai. Penso em enviar um SOS, mas logo desisto da ideia. Se ele saiu daquele jeito e a essa hora, deve ter uma boa razão. Ponho o celular no bolso e me aproximo da minha mãe, colocando a mão em seu ombro.

— Por que não para de beber e tenta se acalmar? Sabe que a bebida não lhe faz bem.

Ela franze as sobrancelhas para mim.

— Não venha me dizer o que fazer. Eu sou a adulta aqui, não você — sua voz sai embolada.

— Sei que sim, mas no momento é a senhora quem precisa de ajuda. Que tal trocar o uísque por um café quente e forte? Posso acordar a Annabel e pedir que prepare um.

— Café? — Ela solta uma gargalhada seca. — Eu odeio café. — Não odeia, não. — Odeio quase tanto quanto odeio o idiota do seu pai, aquela mulherzinha e essa cidade imunda.

Normalmente a mamãe é uma pessoa das mais agradáveis e gentis, mas a coisa muda de figura quando ela começa a beber, o álcool a deixa agressiva, amarga e falastrona. E talvez eu seja uma pessoa ruim por me aproveitar da sua fraqueza para alcançar meus objetivos, mas essa é a minha chance. É agora ou nunca.

— De que mulher está falando? — Dou corda. Meu estômago revirando ante a perspectiva da resposta.

Por alguns segundos ela apenas me encara de volta, as mãos tremulas, a garrafa de uísque a centímetros da boca.

Viola e Rigel - Opostos 1Onde histórias criam vida. Descubra agora