Show do Prescott

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Abro os olhos lentamente e pisco algumas vezes antes que as retinas consigam finalmente se adaptar à claridade

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Abro os olhos lentamente e pisco algumas vezes antes que as retinas consigam finalmente se adaptar à claridade.

Tento virar para o lado ao ouvir uma voz, que reconheço como sendo a do meu pai, só que meu pescoço dá um estalo e uma pontada aguda atinge em cheio a base da nuca. Meu rosto inteiro se contorce de dor e sinto a maior vontade de vomitar.

― Ei, cuidado aí. ― meu pai pede. De pé ao meu lado, ele empurra meu ombro para baixo enquanto forço o tronco para cima. ― Fique quieto.

― Meu braço ― digo num tom vergonhosamente choramingado ― O que aconteceu com ele?

Uma tipóia mantem meu braço esquerdo colado ao corpo. Antes que ele responda a lembrança da queda da escada surge na minha cabeça, assim como a da culpada por ela.

― Você teve uma crise, caiu da escada e sofreu uma fratura no braço. Não é nada sério, mas precisará fazer alguns exames ― explica. ― Como bateu a cabeça, queremos descartar uma possível concussão.

― Eu vou ter que usar gesso?

― É isso aí, garotão.

Ótimo! Excelente! Agora eu terei de usar uma droga de gesso e ainda corro o risco de ter sofrido uma concussão. Embora eu ache isso improvável, visto que não sinto dor e a minha memória nunca esteve melhor... ou esteve?

Eu me lembro que a Cara de Coruja esteve aqui mais cedo, eu fingi que estava dormindo para não ter de olhar na sua cara sardenta, mas só conseguir pegar no sono de verdade depois que ela deu no pé, e agora nem sei por quanto tempo dormi... Horas? Semanas? Meses? Vai saber. Minha cabeça está uma confusão e isso deve ser efeito colateral dos trocentos analgésicos que tomei; é isso que está me afetando, os remédios.

― Como se sente? Melhor?

Defina melhor, quero responder. Mas é o meu pai e o melhor que eu posso fazer por mim mesmo é não bancar o engraçadinho. E não é por nada não, mas ele parece um zumbi do The Walking Dead de tão acabado, vai precisar de muitas horas de descanso se quiser voltar a parecer um ser vivo.

― Sim. ― respondo, engolindo saliva amarga com gosto de remédio, o que só serve para aumentar a náusea.

Volto a insistir na ideia de me sentar e a enfermeira, que até então fingia estar alheia a nossa existência, dispara na minha direção pedindo para que eu fique quieto. Não que precise, meu pai já está com a mão no meu ombro, me segurando firme no lugar e me encarando com sobrancelhas juntas.

― Quieto aí.

No exato momento em que a enfermeira chega ao leito, o diretor Prescott irrompe pela porta e, considerando o olhar que o meu pai lhe lança, eu não queria de jeito nenhum estar no lugar dele.

Descanse em paz, Sr. Prescott. Espero que o diabo celebre sua chegada pondo mais lenha na fogueira.

O sorriso do diretor morre mais rápido que o Boba Fett em O Retorno de Jedi, e se a minha cabeça não estivesse rodopiando eu daria boas risadas da sua cara.

Viola e Rigel - Opostos 1Onde histórias criam vida. Descubra agora