Depois de uma dose de Zolpidem, a mamãe finalmente capotou. O fato de ela estar sob os cuidados de uma enfermeira teoricamente deveria me deixar mais tranquilo, mas não deixa.
Ainda estou sentindo o baque.
Ela nem quis ouvir o que o meu pai tinha a dizer, bastou ele pôr os pés em casa para que jarros e objetos de decoração começassem a voar. Só quando ela se cansou dos arremessos, a enfermeira que ele trouxe pôde se aproximar para administrar a medicação receitada pelo dr. Karuma.
É um milagre que o papai tenha saído ileso da chuva de objetos, acredito que os anos de experiência tornaram-no um expert na coisa. Às vezes, fico pensando se todos os casamentos, no fundo, não são uma droga.
Depois de um banho rápido, ele desce para falar comigo. Sento-me ao seu lado no sofá, as paredes do escritório parecem mais espessas que o normal, dando-me a sensação de que estamos ambos aprisionados.
Afrouxo o colarinho, em busca de ar.
Seus olhos estão vermelhos, como se ele tivesse chorado. É estranho vê-lo nessas condições, parecendo tão frágil e impotente. Mas quem sou eu para julgá-lo? Também choraria se não estivesse tão anestesiado pelo choque inicial.
Antes de qualquer coisa, ele quer saber como me sinto e o que exatamente a mamãe me contou. Falo a verdade, deixando de lado apenas a parte de sermos um fardo para ele, por acreditar que este não seja o melhor momento para abordar o assunto. Outras oportunidades surgirão depois que a poeira assentar. Também não sei até que ponto dá pra levar as coisas que a mamãe disse a sério, considerando que ela estava bêbada como um gambá e tende a ficar maldosa e amarga quando enche a cara.
Com cautela, ele esclarece os últimos acontecimentos.
— Sim, você tem um irmão — confirma, as palavras deixando sua boca acompanhadas de um suspiro trêmulo.
Preferiria ouvir que tenho um tumor nas bolas, seria menos doloroso.
Aparentemente, meu pai ainda não processou a informação por completo. Sei como é, estou na mesma.
Ouço seu relato em silêncio, mal respirando.
... um garoto, cuja existência ele ignorava por completo, explica, até esta noite, quando as circunstâncias obrigaram Eliza Beene a falar a verdade.
Beene, o sobrenome fica rodando na minha cabeça, o rosto de Viola Beene se projetando entre as sílabas. Nunca mais serei capaz de olhar seu rosto da mesma forma.
Minha garganta se aperta.
Esqueça Viola Beene.
Ignore sua cara sardenta.
Quando a mamãe me contou sobre o outro filho do meu pai, tive medo de ter uma nova crise de pânico, de começar a hiperventilar na frente dela e coisa e tal, o que inevitavelmente a deixaria ainda pior. Porém, aconteceu justo o contrário, em vez de surtar, eu fiquei anestesiado, minha consciência planando longe do meu corpo, todos os meus sentidos envoltos em névoa.
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Viola e Rigel - Opostos 1
Teen FictionSe Viola Beene fosse um cheiro, Rigel Stantford taparia o nariz. Se ela fosse uma cor, ele com certeza não a usaria. Se fosse um programa de TV, ele desligaria o aparelho. Mas ela era apenas uma maluca expansiva e sorridente que infernizava a sua vi...