Que porcaria de roupa é essa que ela está usando? Não bastasse o macacão jeans que parece ter sido herdado de alguma tia avó obesa, ela ainda achou de colocar uma coroa de margaridas no topo da cabeça. Na boa, a cabeça dela parece um ninho de mafagafos.― Oi ― acena.
Eu não conseguiria acenar de volta nem se quisesse.
Às minhas costas a Sra. Talbot pigarreia, ao tempo que o sangue em minhas veias vira gelo e busco coragem para encarar meu pai.
Procure-me amanhã e me encontrará em um necrotério.
Mesmo não sendo um cara de fé começo a rezar, vai que alguém lá em cima decide me ouvir e de quebra lança um raio na cabeça da Cara de Coruja... ou na minha.
― O que faz aqui? ― a voz do meu pai corta asperamente o silêncio; o vinco entre suas sobrancelhas deixa nítido a irritação. No mesmo instante o sorriso da Cara de Coruja se converte em uma linha reta, ela para de oscilar na ponta dos pés e se vira para ele com olhos vidrados. ― Não bastou tê-lo empurrado da escada, veio tentar terminar o serviço?
A boca da Cara de Coruja se escancara e ela se vira para mim com uma expressão petrificada, parece esperar que eu diga algo, que a defenda. Por mais aterrorizante que seja a perspectiva de enfrentar o meu pai, acabo tirando coragem não sei de onde para fazê-lo:
― Ela não me empurrou da escada, pai ― resfólego. ― Eu tive uma crise de pânico e escorreguei, o senhor sabe disso. A Beene só estava tentando ajudar, foi uma sorte ela estar por perto quando aconteceu.
― Claro que sim ― ele rebate, deixando mais do que evidente que não engoliu uma só palavra do que eu disse.
Com um pigarro, o Sr. Prescott se intromete:
― Senhorita Beene, agora que já constatou que ele está bem, pode ir saindo. Não é da família e o Sr. Stantford já deixou bem claro que a sua presença aqui não é bem-vinda. ― Ele avança em direção à porta e a escancara ― Pode ir andando.
― Mas...
― Mas nada. Se não fizer o que estou dizendo vai levar uma advertência.
― Uma advertência? Não há nenhuma regra contra visitar um amigo na enfermaria, senhor, e eu sei disso porque li cada uma delas.
― Esta é a minha escola, e na minha escola eu dito as regras, mocinha.
― Isso não é nem um pouco ortodoxo, não pode inventar uma regra nova sempre que for conveniente, pelo que me consta toda regra precisa passar pelo conselho antes de ser estabelecida. E o senhor não é o dono da escola, apenas o diretor.
O Sr. Prescott revira os olhos, impaciente.
À minha retaguarda a enfermeira Talbot limpa a garganta numa tentativa furada de conter o riso, que escapa baixinho por entre seus dentes. Enquanto isso eu respiro fundo e tento me manter o mais calmo possível, atento à expressão desdenhosa do meu pai.
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Viola e Rigel - Opostos 1
Teen FictionSe Viola Beene fosse um cheiro, Rigel Stantford taparia o nariz. Se ela fosse uma cor, ele com certeza não a usaria. Se fosse um programa de TV, ele desligaria o aparelho. Mas ela era apenas uma maluca expansiva e sorridente que infernizava a sua vi...