Capítulo 1 - Lembranças

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A sua mão direita procurou o tronco que havia ferido a sua cabeça. Segurou-o com firmeza e, fazendo esse apoio, ela se esforçou para levantar. Tombou mais uma vez. Mas dessa vez, ao cair, conseguiu se apoiar com as mãos no chão. Estava muito tonta. Ela persistiu. Agora usando as duas mãos ao segurar no tronco. Conseguiu se ajoelhar. E, ainda apoiada no tronco, ela desdobrou uma das pernas (ficando ajoelhada somente com uma das pernas) e forçou o seu corpo para cima. Conseguiu ficar em pé. A tontura da sua cabeça ainda era sutil, porém ele vivia uma sensação estranha. Parecia haver um vazio no seu cérebro; conseguia visualizar onde estava, apesar de não saber que local era aquele e o que estava fazendo ali, nem para onde deveria ir.

O chapinhar dos passos dos seus perseguidores, sobre a lama, já era bem audível. Eles estavam cada vez mais perto. Ao escutar o som dos passos, pressentiu que tinha que se afastar, apesar de não saber o motivo. Foi o que tentou fazer: correr em frente, se afastar daquele som. Para onde estava indo, isso não sabia. Ela sentia um medo estranho, seu coração palpitava fortemente.

Conseguiu dar mais uns seis ou sete passos, no máximo. A sua corrida foi interrompida porque escorregou na lama e acabou caindo numa ribanceira. Foi uma queda feia: foi rodando, dando, inclusive, algumas cambalhotas. Isso demorou alguns segundos, só foi parar próximo de uns arbustos localizados dentro de um matagal de gramíneas com folhas de no mínimo 1,50cm de comprimento por 5cm de largura. Percebeu que ali poderia ser a sua salvação, isso, por puro instinto.

Foi, então, que procurou ir mais para dentro, por trás dos arbustos e do mato que dominava o ambiente. Ficou na espreita à espera de seus perseguidores passarem. Dali onde estava, dava para ver parte da trilha da qual acabara de escorregar. Eles teriam que passar por ali. Como era normal no seu estado atual, não tinha ideia do que poderia lhe acontecer. Só sabia que tinha que se livrar dos perseguidores.

O som do chapinhar dos seus perseguidores, dessa vez bem mais alto, passou sobre a sua cabeça. Deu para ver as pernas deles em movimentos respingando a lama para todo lado. Apesar de onde ela estava ficar bem próximo da trilha, não dava para ver mais do que isso. Estava tão próximo, a ponto de sentir o cheiro característico da lama ao ser farfalhada, com os movimentos das pernas pisando sobre ela.

Ela sentia-se aliviada: estava conseguindo se livrar dos seus perseguidores.

Parada aqueles poucos minutos, percebeu que tremia. Agora sentia a verdadeira temperatura do ambiente (na verdade, ela não atinou se tremia motivada pela temperatura, aliás, fria e úmida, ou pelos acontecimentos. Talvez os dois fatos). Porém não foi só isso, percebeu que seu corpo estava dolorido em várias partes. Sentiu, também, uma sonolência tentando dominá-la. Sabia que não podia dormir agora. Era perigoso, suspeitava disso.

Os perseguidores já tinham passado há pelo menos 5 minutos. O chapinhar deixou de ser audível. Agora era preciso se levantar. Procurou primeiro sair de trás dos arbustos. E se apoiando nos galhos dos arbustos, ela levantou-se. A sensação estranha de não saber onde estava ainda dominava a sua mente. Sabia que tinha sofrido uma leve amnésia. Procurou testar até onde tinha chegado a sua perda de memória: chamo-me Regina, minha irmã chama-se Rita, A namorada da Rita é a Tereza, a Tetê... E fazendo esses testes, procurando essas lembranças, chegou à conclusão: era uma amnésia retrógrada – não conseguia lembrar-se de fatos recentes. Sendo assim, o passo seguinte era procurar lembrar-se desses fatos. Achava, e tinha razão, que era necessário saber tudo. Por exemplo, o fato de temer ao ouvir o chapinhar, era um desses medos inconscientes que teria que tornar consciente para ela poder reagir à altura.

O que Regina não lembrava era que, enquanto o Barbosa ia fazer a transferência do Alemão, do hospital para a prisão Bangu 1 ela tinha marcado uma caminhada, com três colegas da faculdade: Sônia, Bernadete e Camila. Iam fazer uma "trilha", como costumavam chamar, no Açude do Camorim, que fica no Parque Estadual de Pedra Branca, num trecho da Mata Atlântica.

Regina foi toda preparada, só não sabia que no local, havia chovido forte recentemente, o chão era pura lama. Foi um vacilo. Tinha que ter sabido, me informado – se censurou. O fato de os caminhos estarem enlameados, não era nada que não pudessem contornar. Não era fator para prejudicar a caminhada. Ela só tinha que ser feita com mais cuidado.

Ao sair de casa, Regina vestia uma calça Jeans com stretch; coturnos pretos; uma camisa de malha branca de mangas compridas; um boné; óculos espelhados e luvas meio dedos em couro (ela passou a usar luvas de couro, pois numa trilha que fez há algum tempo suas mãos sofreram vários arranhões). Nas costas, levava uma mochila cargueira contendo: protetor solar e repelente, lanterna de cabeça – com pilhas reservas; lanches; ficou na dúvida, mas resolveu levar os óculos de visão noturna e a lanterna de cabeça, com pilhas reservas – a dúvida era porque ela não pretendia passar a noite na floresta, mas nunca se sabe – pensou; 2 litros d'água (ela sabia que havia fontes água limpa, por onde fosse passar – mesmo assim levou Clorim, para purificar a água); chinelo (pra volta); capa de chuva; uma caixa de fósforos; álcool gel; um kit de primeiros socorros; um canivete suíço (era um Victorinox Swisschamp Xlt – uma ótima peça, de grande utilidade) e, é claro, não esqueceu o seu Samsung, novo, com a bateria recarregável (ela tinha uma iPhone, e resolveu se desfazer dele por vários motivos que não vinham ao caso agora).

Elas sempre faziam uma trilha diferente da que era organizada pelo grupo local. Uma trilha mais selvagem, mais emocionante, porque era por dentro da floresta. Essa trilha demorava de 2 a 3 horas, dependendo do terreno. Com o terreno enlameado, como estava, era seguro demorar no mínimo 3 horas.

Uma das meninas, a Sonia, resolveu dar uma parada para fazer xixi. Vai fazer xixi no mato – brincaram. A turma toda continuou andando, com passos mais lentos, esperando por ela. Quando, de um momento para o outro, escutaram um chapinhar rápido, era Sonia que vinha correndo e quase sem fôlego, não pela corrida, mas pelo nervosismo. Esse nervosismo a fez demorar um pouco para se expressar até que ela conseguiu falar:

Vêm uns 5 caras armados, aí atrás...

— Apesar de a caça ser proibida por aqui, não serão caçadores? – disse Regina.

— Não, não, não. Não, eles estão atrás de nós

— Por que você acha isso? – indagou Bernadete.

— Escutei nitidamente um deles falar: aquelas putas vieram por aqui...

— Xiiii! Eles estão falando de nós mesmo. – fez piada Camila, sem saber o verdadeiro perigo que elas passaram a correr nesse momento.

Regina, sem saber se explicar, sem saber o motivo, desconfiou que eles estivessem atrás dela. Não deu nem para ela planejar algo, os elementos surgiram, de súbito, parecia que um passe de mágica os tinha materializado a uns dez metros delas. O coração da Regina e das colegas trepidaram. O medo tornou-se geral.

— Corram! Corram! – gritou Regina, deduzindo que ela era o alvo. As colegas ficaram sem entender nada. Foram pegas de surpresa. Só se deram conta de que tinham que obedecer a Regina quando escutaram o primeiro tiro.

Regina ainda deu uma última ordem:

— Desçam para o açude, rápido. – mal formulou essas palavras, outro disparo foi ouvido. Regina queria que eles fossem atrás dela, já que ela era o alvo. Não queria que suas amigas fossem envolvidas. Foi aí que começou a perseguição inexorável.

Regina tinha razão ela era o alvo.

***

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