Capítulo 26 - Um Dia Antes Do Dia Em Que A Regina Foi Fazer A Sua Trilha

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Paulo Roberto e Helena chegaram ao Parque Nacional da Pedra Branca por volta das 10 horas. As chuvas já haviam passado, eventualmente caía uma ligeira garoa. O frio era mordaz, ele vinha com a brisa que era perseverante.

Paulo Roberto, antes de passar pela guarita, deixou o seu celular cair entre o seu banco e o da Helena.

— Pega pra mim, querida, por favor. – Helena, para fazer isso, teve que se abaixar, era o que Paulo Roberto queria. Ele não queria que os porteiros a vissem. Aliás, bem verdade, não daria nem para ver se havia alguém dentro do carro, os vidros com insulfilm não permitiam. Quer dizer, não havia necessidade de fazer o que ele fez, mas ele não queria arriscar. E tinha mais; os porteiros, como sempre, não estavam nem aí para quem entrava ou saía. Dessa vez não dormiam, se distraíam com seus celulares e bebericavam uma cachacinha.

Paulo Roberto, mais uma vez, colocou o seu Ford na vaga que havia colocado no dia anterior, entre as árvores e os arbustos. Muito gentilmente, ajudou Helena a sair do carro, abrindo a porta e segurando a mão dela. No banco traseiro, eles pegaram as mochilas. Paulo Roberto levou Helena em direção ao galpão que margeava o açude, onde, no dia anterior, havia escondido todo o material que iria usar hoje.

Chegando ao galpão, ele disse para Helena que teria que voltar no carro para pegar a teleobjetiva que esquecera no porta-luvas.

— Aguarde alguns minutos. Vou correndo e já volto. – Helena confiou. Uns minutos depois ele voltava carregando uma caixa e uma sacola grande de plástico com alças que havia pegado na mala do carro.

— O que é isso? – Helena perguntou com imensa curiosidade. — Isso não é a teleobjetiva.

— Na caixa? Não, não é mesmo... É um bolo para comemorarmos o nosso aniversário de namoro.

— Aniversário de namoro? – Helena franziu as sobrancelhas.

— Isso. Fazemos hoje...

Não me lembro disso não, pensou Helena, esse cara tá maluco...

— Sem parabéns, por favor – Helena pediu.

— É de chocolate, com calda de chocolate... – enquanto falava, Paulo Roberto ia abrindo a caixa.

— Amo bolo de chocolate – Helena, quando soube que era bolo de chocolate, esqueceu até que Paulo Roberto era maluco.

Sei disso, pensou Paulo Roberto, sei disso...

O bolo foi colocado sobre um caixote velho. E Helena cortou uma fatia com a faca que veio dentro da caixa do bolo. Esse primeiro pedaço ofereceu para Paulo Roberto, que fez questão de devolver a ela

— Você é quem merece o primeiro pedaço...

— Obrigada. Você é muito gentil... – ela nem pensou duas vezes, isso também estava previsto por ele.

Helena não chegou a dar a segunda mordida. Sua fisionomia começou a se transformar, era uma fisionomia de horror. Ela suava demais. Seus olhos se arregalaram e começaram a ficar vermelhos (eram os vasos sanguíneos que se dilatavam). Ela levou as mãos à barriga.

— TÁ QUEIMANDO, DÓI DEMAIS! DÓI DEMAIS! Pelo amor de... – não chegou a terminar a frase, tombou ao chão com os olhos arregalados, sangrando (os vasos sanguíneos dilataram tanto que vários deles estouraram). Ao cair, bateu com a testa numa pedra. O sangre se espalhou pela pedra indo ao chão, manchando o capim. Helena não sentiu nada, não viu nada.

Querida, viu como é bom ter amigos que entendem de elaborar veneno com ervas? Esse meu amigo, o Nelson, quando era jovem, aprendeu com um índio amigo dele que estava se preparando para ser o Xamã da sua tribo, uma espécie de feiticeiro, sacerdote, ou coisa que o valha... mas isso não vem o caso. O importante, querida, é que ele estava certo quando garantiu que esse preparado, feito com uma planta chamada Trombeta, mata instantaneamente, o único inconveniente, assim ele me disse, são as dores estomacais, que também, agora, não vêm ao caso, não é querida? Você, agora, não está sentido nada, está?

Paulo Roberto, mesmo sabendo que a sorte parecia estar do seu lado, tirou da sacola uns apetrechos, era um daqueles uniformes que apicultores usam para mexer nas colmeias. Ele vestiu rapidamente, colocou as botas sobre os seus sapatos e finalizou a vestimenta colocando as luvas de látex e o chapéu de proteção (se paramentou assim, porque viu em filmes que os criminalistas, quando estão numa cena de crime, usam coisa parecida, para não mascarar as evidências deixadas pelo assassino. Ele não queria deixar evidências) e já correndo em direção aos arbustos, onde no dia anterior havia escondido o seu "equipamento". Veio de lá com eles, trouxe tudo de uma só vez. Tinha que agir rápido.

— Paulo Roberto, Quando chegou perto e olhou para Helena esparramada no chão, falou com a falsa expressão de decepcionado:

— Querida, como os seus olhos estão horríveis. Mas, pode deixar, não vou permitir que a reconheçam. As pessoas não podem ver uma mulher tão linda, como você sempre foi, nesse estado. Deixa comigo.

– Ele falava, mas agia rápido. Não podia ficar contando com a sorte de não ter ninguém por perto.

Abriu a tela sobre o chão, colocou algumas pedras, para manter ela esticada. Jogou o plástico de obra sobre a tela. Depois colocou Helena sobre o plástico.

— Querida, agora, a primeira parte para não ser reconhecida. Você vai adorar. – cobriu o rosto dela com uma parte do plástico da obra — Não queremos que o seu sangue se espalhe por aí – Dito isso, começou a trabalhar com a marreta, sobre o plástico, tendo como alvo o crânio, principalmente na área da boca. Depois de umas marretadas, retirou o plástico que cobria o rosto, recolheu os dentes e os colocou num saco plástico (aqueles de supermercado), junto com algumas pedras. Fechou o saco com um nó e o atirou dentro do açude.

— Você, querida, não será reconhecida pela arcada dentária. Viu como penso em tudo. – Paulo Roberto sorria.

Jogou gasolina sobre o corpo inerte. Enrolou o plástico de obra fazendo um "embrulho" da jovem. Em seguida, enrolou sobre o plástico, a tela do galinheiro, ajustando-a bem e prendendo com tiras do arame que ele ia cortando com a torquês. O arame era passado pelos buracos da tela unindo as suas bordas. Fechou as bordas da tela, onde estavam a cabeça e os pés da menina, da mesma forma: com o arame passando pelos buracos.

— Assim, com essa tela, partes do seu corpo não vão ficar boiando pelo açude, pelo menos por um tempo – Ele continuava sorrindo.

Conclusão: Helena estava embrulhada com o plástico e com a tela. Paulo Roberto introduziu parte do "embrulho" num dos canos largos de cobre, que estava embaixo do galpão. Prendeu esse cano, com o arame, na tela do "embrulho".

— Dessa forma seu corpo não vai ir à tona. Nós não o queremos boiando por aí, não é mesmo?

Pegou o galão e derramou a gasolina sobre o "embrulho", inclusive na parte que estava dentro do cano.

O fogo pegou rapidamente. O temor de Paulo Roberto era se alguém percebesse o fogo ou mesmo o cheiro de queimado do plástico. Ele contava que o parque continuasse como achava que estava: vazio. 10 minutos depois, o cheiro que predominava já não era mais o do plástico era de carne queimada. Paulo Roberto esperou mais uns 15 minutos. Estava temeroso, queria terminar logo com aquilo, pegou o gancho de açougueiro e, prendendo na dela, foi puxando o embrulho para o açude. Estava pesado, o cano preso na tela ajudava a aumentar o peso. Mas logo um pequeno declive no terreno ajudou. O "embrulho", ainda pegando fogo, foi rolando em direção ao açude. Como Paulo Roberto havia visto antes, o açude naquele trecho era profundo. Logo o embrulho sumiu nas águas turvas, deixando ainda sobre ela ligeiras fumaças dançando suavemente.

Paulo Roberto tirou a sua fantasia de apicultor, colocou de volta na bolsa e junto a ela dispôs o bolo de chocolate embrulhado e bem amarrado, em dois sacos de supermercado, o restante dos seus apetrechos e uma pedra de bom tamanho. Amarrou as alças da bolsa com uma tira de arame e jogou a bolsa mais adiante. As águas do açude iriam esconder, também, por muito tempo aquela bolsa...

Paulo Roberto voltou para o estacionamento feliz. Estava livre de um problema, de um grande problema, assim ele pensava. 

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