Capítulo 29 - O Cadáver Do Açude

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— Barbosa, foi bom você ter chegado. Recebi uma ligação do Major Aguiar... – foi comunicando o agente Assis, surgindo à porta do escritório do delegado.

— Deve ser sobre o caso do Açude do Camorim... – Barbosa, enquanto falava, pendurava o seu casaco de couro (couro sintético) no cabideiro. Ao tirar o casaco, surgiu o coldre auxiliar com a sua Glock 9 mm.

— Isso. É sobre o caso do Açude, mesmo – confirmou Assis.

— Agora? Agora só é interessante saber, por saber. Já achamos a Regina...

Assis ameaçou a acender um cigarro.

— Posso? – lembrou-se de perguntar.

— Claro que não. "A regra é clara". – brincou Barbosa, com um grande sorriso nos lábios, e depois perguntou — Quais as novidades?

— Vou resumir o que ele me contou... – Assis foi falando enquanto devolvia o cigarro para o maço — um cara casado, um tal de Paulo Roberto, era um garanhão e ninguém sabia, nem o cara que pensava ser o seu amigo mais íntimo. Esse segredo todo era porque ninguém, mas ninguém mesmo, podia saber que ele "pulava a cerca". Não podia ser pego nas suas "puladas", de forma nenhuma...

— É, normalmente o cara casado não quer ser pego, a não ser que ele queira provocar uma separação mesmo.

— Esse não queria separação de jeito nenhum. – continuou Assis, só agora colocando o maço de cigarros no bolso interno do seu blazer de linho bege. — Vou explicar: ele tinha uma vida que qualquer um pediria a Deus. Era casado com a filha do patrão. Um patrão multimilionário... filha única... multimilionária...

— Agora estou percebendo... – Barbosa sentava numa poltrona de um único lugar, forrada com suede amassado marrom-escuro, que ficava ao lado da sua mesa. E com uma mão gesticulou, insinuando para que Assis fizesse o mesmo, na outra poltrona semelhante a dele que ficava à frente. Foi o que Assis fez.

— Se o pai morrer, a filha herda tudo, claro. – continuou Assis — Consequentemente Paulo Roberto...

— É isso aí. Se ele continuasse casado, teria um futuro promissor.

— Isso. Mas ele foi ter um caso com uma chantagista. Uma secretária que foi se empregar na firma dele, não era secretária dele, não. Esse caso com uma funcionária da firma do patrão dissipava todo o cuidado que ele sempre teve. A mulher deveria ser muito gostosa...

— E esperta...

— Detalhe – continuou Assis — ela tinha documentos falsos. O nome que ela estava usando, no momento, era Helena.

— Tinha outros nomes?

— O major falou que tinha mais seis nomes com documentação falsa completa, com passaporte e tudo.

— Era uma golpista profissional...

— Isso mesmo. Dizia que morava num lugar e morava em outro.

— Sem residência. O cara não sacou isso?

— Nada. Estava fissurado demais pela mulher. Ela não devia ser gostosa, devia ser muito, mas muito gostosa, para os padrões dele.

— Você disse que ninguém sabia que ele era um paquerador?

— É isso aí. Tratava todas as mulheres com o máximo respeito. As da firma, nem falava com elas, no máximo cumprimentava. Mais um detalhe: ele tinha um apartamento fora, em Vila Isabel, e um carro usado que usava para a pegação. Ninguém sabia desse carro e, lógico, muito menos desse apartamento. O carro ficava na garagem da sua segunda morada.

— Não queria deixar nenhuma pista.

— Isso. Só que a Helena, propositalmente, engravidou.

— Claro, o golpe completo.

— Conclusão, ele resolveu exterminar o incômodo, desaparecendo com o corpo e com as pistas. Como nós vimos...

— E?

— Só que a chantagista, muito esperta, deixou gravações com uma amiga. Uma tal de Verônica. E combinou com ela, que ligaria todos os dias por volta das 20h. Se ela não ligasse uma noite. Ela ligaria na manhã seguinte. Se isso não acontecesse. A amiga tinha que ficar esperta. Se também não ligasse na noite seguinte. A Verônica poderia fazer o que acabou fazendo, colocar os vídeos nas mãos da polícia. Ela, a Helena, chegou a deixar uma mecha de cabelo, caso fosse necessário um exame de DNA.

— Pensou em tudo...

Assis não ligou para a interrupção do Barbosa e continuou:

— A drª. Sara, depois que os seus besouros fizeram a limpeza no cadáver, deixando só os ossos, fez o DNA e bateu com o DNA dos cabelos.

— Você não me disse por que eles acharam que o cadáver do açude era de Helena. Não, não precisa dizer. – Barbosa não se deixou ser interrompido, continuou falando — A data do sumiço da Helena combinava com a do aparecimento do cadáver, que tinha sido produzido na noite anterior.

— Pensando bem, os dois planejaram tudo direitinho – comentou Assis. Levantando para pegar um café na garrafa térmica que ficava sobre a mesa do Barbosa.

— Paulo Roberto planejou melhor. – interferiu Barbosa, folheando a revista Veja, da semana passada — Só teve o azar porque apareceu o cadáver, no mesmo dia que Helena sumiu. Porque, mesmo Helena deixando as provas contundentes com a amiga. Não havendo cadáver, não haveria crime. Da forma que ele preparou tudo, só daqui há anos, talvez, digo talvez, algo do cadáver aparecesse. Até lá ninguém ia ligar o fato com o desaparecimento da Helena. E, nesse ínterim, Helena iria ser dada como sumida. Já era difícil de ser localizada quando "existia".

— Apesar de quê, o Paulo ia ser o principal suspeito... – remediou Assis, provando o café e, com uma careta, o cuspindo de volta no copinho descartável.

— Perdão, esse café é de ontem. – comunicou, tardiamente, Barbosa.

— Estou vendo, está frio pra caralho... horroroso.

— Mas, como eu disse, não havendo o cadáver... – prosseguiu Barbosa.

— Porém, o objetivo da Helena, de qualquer maneira, seria alcançado...

— Ah, nisso você tem razão... – assentiu Barbosa, inclusive mexendo com a cabeça — Por causa dos vídeos deixados com a Verônica, o casamento e a carreira promissora de Paulo Roberto, estariam quebrados.

— Era isso que a Helena queria, se algo acontecesse a ela. Ela arriscou, sabia que podia morrer, mas arriscou...

— Uma louca obsessiva. Porém reitero: o azar dele foi o cadáver aparecer. Senão, mesmo ele perdendo tudo, o que para ele seria, seria não, foi lamentável, ele teria cometido um crime perfeito.

— Que glória, Hein?! – ironizou Assis.

— Poucos conseguem isso... – rebateu Barbosa sorrindo — Ele teria conseguido realizar o que planejou...

***

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