Capítulo 24 - Dois Dias Antes De A Regina Ir Fazer Sua Trilha...

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Eram por volta das 17 horas quando Paulo Roberto, com seu Ford, chegou ao estacionamento do Parque da Pedra Branca. Ele conhecia muito bem aquele parque. Gostava de ir ali para espairecer as ideias, meditar. Foi ali que ele concebeu a maior parte dos planejamentos para o seu trabalho.

Depois do comunicado da Helena sobre o filho que estava para vir, ele passou a ir com mais frequência. Tinha esperança de, ali, encontrar a solução para o problema que o afetava agora, o problema que ele deixou acontecer. E não deu outra: ali ele teve a ideia para se livrar do problema, e começaria a colocá-la em prática nesse momento.

Até o tempo continua do meu lado, pensou Paulo Roberto.

Ele tinha razão, para os propósitos dele, até o tempo, o clima, continuava do seu lado. Por isso ele designou esse período para resolver o seu problema. Era um tempo chuvoso, vez ou outra um temporal forte caía na região. O serviço de meteorologia havia acertado: tempo instável com chuvas esparsas. E o Parque da Pedra Branca foi escolhido para essas pancadas de chuvas esparsas. Sendo assim, o estacionamento do Parque da Pedra Branca, o próprio Parque, estava completamente vazio. Era isso que Paulo queria.

Na guarita do portão da entrada, os porteiros dormiam a sono solto. Até isso favoreceu os planos dele. Pois ele pôde entrar e passar pela guarita sem ser visto. Paulo Roberto, por via das dúvidas, estacionou bem distante da guarita. Ainda deixou o seu carro atrás de umas árvores e arbustos, para que ninguém o visse se porventura alguém chegasse por ali, o que era quase impossível que com aquele tempo chuvoso alguém aparecesse no Parque. Nem se os porteiros (que deveriam ser os seguranças do Parque) saíssem da guarita e atravessassem o estacionamento indo na direção daquela "floresta", veriam o seu carro. Mesmo com o tempo bom, eles raramente faziam esse percurso. Eles se achavam porteiros, não mais que isso. Sabe por que os porteiros estavam dormindo àquela hora? Simples assim: porque o tempo estava chuvoso e, consequentemente, um frio vindo com uma névoa, abateu-se pela região. Eles, com o intuído de se aquecerem, começaram a tomar umas doses de cachaça. Um deles já havia trazido uma 51, para esse propósito. O frio não passou, mas eles, mesmo com o frio que acontecia, acabaram adormecendo. Uma coisa eles não se esqueceram de fazer: trancar as bordas e as janelas da guarita.

Paulo Roberto descarregou da mala do seu Ford: uma tela de galinheiro medindo aproximadamente 2 m por 1,50 m, um galão de 5 litros contendo gasolina, um plástico preto de obra (que muitos chamam de lona – mas lona é outra coisa. Esse material era de plástico mesmo), medindo aproximadamente 2 m por 4 m (que normalmente é a largura desse material), um rolo de arame de aço com espessura (ou fio, como costumam chamar) de 0,25 mm, um torquês (certamente para cortar o arame e/ou a tela), uma marreta pequena e um gancho de aço para açougue (desses que se usam nos açougues e abatedouros para pendurar os animais abatidos). Esse material, tirado da mala do seu carro, ele levou, aos poucos, para um galpão que ficava próximo à margem do açude. Esse galpão era sem paredes, onde a cobertura de telhas de amianto era sustentada por canos galvanizados. Ele ficava escondido pelos grandes números de árvores, arbusto e mato que circundava o açude, Paulo Roberto resolveu aproveitar esse fato e esconder o seu material atrás de uns arbustos e dos matos. Depois de colocar todo o material escondido, ele se distanciou um pouco e observou se o material poderia ser visto por alguém que passasse por ali.

— Perfeito! – o material ficava completamente escondido. Só poderia ser descoberto se alguém fosse fuçar o mato. Coisa improvável, como foi dito, com esse tempo raramente alguém apareceria por ali, mesmo se o tempo fosse favorável a visitas, não era provável que alguém fosse se meter por dentro daqueles arbustos e matos, não haveria por quê. Se o intuído fosse fazer alguma necessidade fisiológica, ali não era um lugar indicado: o mato e os arbustos eram muito compactos.

Paulo Roberto foi caminhando em direção ao estacionamento. Não aguentou e, mais uma vez, deu uma olhada para trás, queria confirmar se tudo estava nos conformes, mesmo.

Paulo Roberto estava radiante, tudo corria às mil maravilhas. Convencer Helena a fazer a trilha foi fácil. Ela tinha paixão por fazer trilha. Chegava a viajar para outros estados para fazer uma trilha qualquer. Mesmo com o tempo ruim ela não ligava, achava mais excitante. E era disso que ela mais gostava: excitação, fazer a adrenalina trabalhar. Ainda mais que ela ia fazer a trilha da Transcarioca que ela ainda não tinha feito, chegou a comentar:

— Como pode, morando aqui no Rio e ainda não fiz essa trilha maravilhosa. – A euforia dela foi enorme, quando, uns dias antes, Paulo fez o convite:

— A Transcarioca tem 180 km, começa na barra de Guaratiba e termina aos pés do Pão de Açúcar, na Urca – Helena falava sem parar. Quando ela gostava de alguma coisa ficava naquele estado de entusiasmo — Mas temos 25 trechos que podem ser percorridos de forma independente.

— Nós vamos começar no Parque Nacional da Pedra Branca – interrompeu Paulo Roberto. Porém Helena nem prestou atenção no seu comentário, continuou com a sua dissertação, ainda mais que ela já sabia disso e adorava o Parque.

— Seu trajeto total cruza por seis unidades de conservação, nas zonas Oeste, Norte e sul da cidade...

Paulo Roberto ficou só como se estivesse escutando, ele também gostava de fazer trilha, porém, no momento, nada daquilo interessava. O interesse dele em marcar essa trilha num dia chuvoso não era pela trilha, sequer pela aventura de fazê-la num dia chuvoso, o interesse era outro bem diferente, e ele ficava exultante, pois ela nem desconfiava. Coitada...

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