Leitora/Dean Winchester
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Esvaziei mais uma vez a taça e novamente tornei a enche-la com o líquido escuro. A garrafa de vinho já estava quase vazia e logo precisaria ir atrás de outra.
Eu estava cansada, exausta para falar a verdade. Minha cabeça estava explodindo e a melhor ideia que tive foi vir a cozinha do bunker sozinha e encher a cara.
Passo as mãos pelo rosto, inconscientemente repetindo a mesma pergunta: Como cheguei aqui?
Bem, eu vim andando de meu quarto até aqui. Mas não digo dessa maneira, quero dizer como cheguei aqui, e com aqui me refiro ao fundo do poço.
Eu sei, isso é terrivelmente patético. Nem eu mesma consigo negar.
À cinco anos tive minha vida posta de cabeça para baixo.
Eu estava voltando para casa depois de um dia horrivelmente estressante no trabalho - eu trabalhava em um escritório de marketing -. Quando fui atacada por algo que não fazia ideia do que poderia ser.
Aquela coisa me perseguiu, me segurou e quase arrancou meu coração... literalmente falando!
E então, quando pensei que era meu fim. Sério, eu tinha certeza de que morreria ali mesmo. Eu estava errada.
Quando achei que não teria mais chances, dois caras surgiram do nada e balearam a coisa. Eu não entendi absolutamente nada, até que eles me explicaram que aquilo era um lobisomem.
Minha reação? Um quase infarto fulminante e uma crise histérica. Okay, um pouco demais, mas é a mais pura verdade. O que fariam se estivessem em meu lugar?
Naquele instante eu pensei: "Relaxa, S/n, nada disso é real. Você só esta sonhando".
Mas nada daquilo colou, pois eu sabia que estava acordada e que tudo era muito real.
Dean e Sam,- os caras que me salvaram, eles até que eram bem legais.- me explicaram que não apenas os lobisomens como toda aquela maluquice sobrenatural são reais. Contaram também que precisavam da minha ajuda para pegar o alfa do bando.
Eu não sabia o porque e também não queria saber, mas por algum motivo eu estava na mira daquelas coisas. Por isso os rapazes precisavam que eu cooperasse.
Em resumo? Acabou que o alfa era meu chefe, e o maluco estava enfurecido por eu não ter concordado em sair com ele, por isso estava transmutando todos ao redor para "me fazer pagar". Ridículo, não acham?
No fim eu estava confusa, totalmente maluca com tantas coisas que haviam a acontecido... e obviamente sem meu emprego. Foi quando Dean e Sam Winchester me perguntaram se eu gostaria de seguir com eles. Sam falou que eu era inteligente, sabia lidar com as coisas sobre pressão sem... uhm... estragar tudo. Dean não falou muito, ele apenas concordou com o irmão.
O que eu poderia fazer? Nada me prendia naquela cidade. Eu não tinha familia mesmo.
O tempo passou, e eu aprendi muito com eles. Dean e Sam eram caras incríveis e em pouco tempo se tornaram as pessoas mais importantes da minha vida. O problema veio depois. Convivendo tanto com eles, não poderia evitar me apaixonar por um deles... ou poderia?
O fato, é que eu acabei gostando de Dean. E se eu pudesse escolher, nunca teria sido ele, infelizmente ninguém pode mandar nesse tipo de coisa. Dean é um galinha, passa metade do dia em um bar e sem querer ofende-lo, consegue ser mais indeciso do que adolescente na hora de sair para uma festa.
Mesmo com tudo isso, ele também retribuiu e passamos bom momentos juntos. Até agora.
Bom, se nada tivesse acontecido eu não estaria aqui, certo?
Eu nunca tive certeza sobre o que exatamente Dean sentia por mim, e eu tentava não me importar com isso. Ele sempre pareceu muito sincero, e até quando estava com a marca de Cain ele não pareceu vacilar.
Porém, com os acontecimentos recentes envolvendo a Escuridão, não sei mais o que pensar.
E depois da caçada de hoje, eu estou completamente perdida... não apenas pela caçada, mas pelo que ouvi depois dela.
O caso era que uma mulher desesperada para recuperar o amor do marido, aceitou a ajuda da cabeleireira que por acaso era uma bruxa. Acontece que a bruxa rogou uma maldição e uma criatura que mudava de forma começou a perseguir a mulher depois de matar o marido que a traia com a babá.
Isso tudo teria sido apenas mais um caso, até que descobrimos que o monstro se transformava no desejo mais intimo da vitima. Sam e eu fomos atrás de uma.maneira de matar o monstro, que estava perseguindo Dean.
Mais tarde, depois de conseguirmos matar o monstro e a bruxa, voltamos ao motel para pegar nossas coisas e voltar ao bunker. Os deixei sozinho por alguns minutos, tempo suficiente para ouvir tudo o que não queria.
Sam perguntou a Dean sobre o que o monstro havia se transformado para ele, e Dean respondeu que foi em Amara. Aquilo doeu, muito por sinal, mas eu fingi que não tinha escutado nada, e que estava tudo bem. Afinal eu sempre faço isso.
Quando voltamos ao bunker, fui para meu quarto pensar, mas não conseguia, pelo menos não sóbria. E agora estou aqui.
Sempre fui uma pessoa intensa. Nunca soube amar pouco, ou me entregar moderadamente. Sempre me joguei de cabeça em qualquer coisa que me comprometesse. Sempre me ferrei por isso.
Voltando ao presente momento, passei meus olhos pela cozinha pouco iluminada e dedilhei a ponta da garrafa agora vazia. Pensei que quando estivesse bêbada o suficiente encontraria a solução para o problema, ou melhor, identificaria o problema. Afinal, estou assim por ele estar apaixonado por uma criatura pré-histórica, maluca e comedora de almas, ou por eu estar ao lado dele por quase seis anos e não ter sido por mim que ele tenha ficado louco desde jeito?
Minha cabeça estava girando e não era efeito do álcool, eram as dúvidas e inseguranças. Acho que nunca cheguei a comentar o quanto sou paranóica.
Levantei do banco e andava a caminho da despensa, iria em busca de outra garrafa quando tropeço em algo... ou alguém, para ser mais exata.
- Hey, S/n, cuidado! - A pessoa exclama, reconheci sendo a voz de Dean. Ótimo, era tudo o que precisava.- Você está bem?
- Estou bem - Resmunguei, ignorando-o e continuando meu caminho até a despensa, onde peguei a garrafa.
- O que faz acordada a essa hora? - Perguntou, seguindo-me enquanto voltava para o balcão.
Ergui a garrafa para que ele a visse bem e tirei a rolha, despejando o líquido na taça.
- Não sabia que gostava de vinho - Ele sorriu, se sentando ao meu lado.
- Precisava de algo mais forte que cerveja, e mais fraco que whisky - Respondi.
- Algum problema, S/n?- Perguntou, me olhando de maneira desconfiada. Seus olhos atentos sobre mim.
- Não - Falei. Eu não queria mentir, mas não sabia o que realmente se passava dentro de mim, então optei por algo que não me comprometesse.- Só... estou mentalmente exausta com tudo isso.
- Todos estamos. Mas você sempre foi a mais resistente - Ele falou.
- Aparentemente - Sorri fraco. Gostava de me fazer de forte. Me sentia orgulhosa quando era a única a manter a calma e continuar quando as coisas saiam dos trilhos.
- S/n - Dean chamou-me, seu tom eram sério. - Eu conheço você, melhor do que você imagina. Sei quando à algo errado.
Solto um suspiro profundo e deposito minha cabeça entre os braços, cansada demais para esconder alguma coisa dele. Dean realmente perceberia.
- Eu ouvi o que você disse à Sam hoje no motel - Confessei, ainda com a cabeça entre os braços e sem encara-lo. Estava até um pouco envergonhada por ter escutado a conversa deles, eu não costumava fazer isso.
Dean permaneceu um bom tempo em silêncio, eu ainda não tinha coragem de olha-lo.
- Eu sinto muito... - Dean fez uma pausa.- Escuta, não é como se eu a amasse. Eu não sei exatamente o que sinto por ela.
- Não quero que se explique, Dean - Digo, erguendo a cabeça, porem ainda não o encarando. - Você não me deve nenhuma explicação. Eu estou assim por minha causa... eu estou muito confusa nesses últimos meses. Acho que só deixei a tensão vencer por alguns instantes.
Eu estava arrependida por ter deixado que ele me visse naquele estado. Se tem algo que sempre detestei, era que me vissem fraca.
- S/n, você sabe que não precisa bancar a durona, não para mim.
- Não estou bancando, eu sou durona - Sorri fraco. Eu.precisava escapar dali logo, era a única maneira de não precisar ter aquela conversa e me sentir ainda pior.
Ele me acompanhou no sorriso apagado. Levantei-me, sem dizer mais nada, já me preparando para voltar ao quarto e não sair por uns dois dias. Dean segurou meu braço, com mais delicadeza que o normal.
- Não gosto de ve-la assim, S/n. Odeio saber que esta sofrendo, ou confusa. Sei que em parte isso é culpa minha, nunca deveria ter permitido que entrasse nessa vida. Mas eu prometo à você, não vou mais deixar que você se machuque.
Recuo de volta até ele e pouso uma mão em seu ombro.
- Eu amo você, Dean. E confio em você - Abaixei a cabeça por uns segundos, evitando contato visual.- Só não posso mais ficar assim, vivendo dessa maneira, dependendo de você. Eu não me reconheço mais.
- Está me dizendo que você vai....- Ele parou de falar, já sabendo minha resposta mesmo antes que eu dissesse.- Não, S/n, você não pode ir. Eu preciso de você, nós precisamos. Sam... eu...
- Eu não posso ajudar ninguém - Falei, me afastando, já pronta para voltar ao meu futuro ex-quarto.- Eu não sei mais quem eu sou, Dean. Não tenho mais um propósito. Eu me tornei uma sombra do meu amor por você, e essa sombra está acabando comigo.
Me virei, antes que ele percebesse que eu estava chorando e andei depressa até o quarto. Eu iria embora. Quase acreditei naquilo, como tomo uma decisão como essa tao de repente? Eu perdi o juízo? Estamos no meio de uma guerra contra a escuridão, e eu simplesmente resolvo ir embora!
Não tenho tempo para brigar comigo mesma agora, também não posso voltar atrás, porque aquilo é exatamente o que eu quero. Pelo menos agora.
Fechei a porta e comecei a arrumar minhas coisas, eu sairia ao amanhecer. Recusei a ceder e abrir a porta quando Dean bateu por quase meia hora, até que ele se cansou e desistiu.
Não consegui dormir nada nas próximas horas que viriam, apenas esperei que o relógio batesse um horário aceitável para que eu fosse.
~~Eram seis da manha quando finalmente sai do quarto. Nunca pensei que deixaria esse lugar assim, de maneira tão estranha.
Olhei de um lado a outro do corredor vazio, não queria ir embora, não mesmo, mas o que eu faria?
Joguei a bolsa sobre o ombro e atravessei o corredor, fazendo o possível para não pensar mais em nada. Passei a noite toda pensando, se fizesse isso por mais un minuto ficaria louca.
Quando coloco os pés na biblioteca, respiro fundo, preparando-me para ir.
Cruzo o comodo, subindo as escadas sem fazer nenhum barulho e saindo para a manhã fria....Continua....
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✓ 𝐒𝐍𝐀𝐏𝐒𝐇𝐎𝐓 | 𝐒𝐔𝐏𝐄𝐑𝐍𝐀𝐓𝐔𝐑𝐀𝐋
FanfictionSnapShot foi um gênero que criei baseado no conceito da OneShot, com a diferença que vem com no máximo 1300 palavras. São estórias interativas em que a leitora se inclui nas situações e interage com os personagens originais. Por serem mais curtas, s...