"Parte 9"

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 Um amigo espiritual está me dizendo que a Bondade Divina permitiu que ambas viessem ligadas pelos laços consanguíneos para que, na qualidade de irmãs, pudessem apagar o passado. Infelizmente, nossa Carmem não resistiu aos mecanismos do inconsciente, e o ódio do passado levou-a ao crime. De qualquer forma, se você entende que se deve pagar olho por olho e pelas próprias mãos da vítima, nada tem a reclamar, porque está colhendo o que semeou, pagando uma dívida. E tem mais: você deve é ajudar Carmem porque há muita possibilidade de que reencarne na qualidade de sua neta, com oportunidade para que ela faça muito por você e venham a se amar, acima de qualquer interesse material, resolvendo o conflito entre ambas.

A senhora pôs-se a chorar e pedir perdão a Deus, e, tendo o sr José pedido que acompanhasse alguns companheiros que a cercavam, afastou-se do médium, que saiu do transe. A sessão prosseguia, e era vez, agora, de se apresentar um Espírito dos mais revoltados, entre os que foram trazidos para o entendimento fraterno.

Os obreiros espirituais da casa aproximaram-no de outro médium, procurando ajudar a adequação fluídica entre o médium e o comunicante, através do seu próprio concurso magnético e o aproveitamento dos fluidos dos encarnados. Tendo o sr José notado, pela vidência, que a ligação se completara, entabulou conversa com o espírito.

- Meu irmão, seja bem-vindo. Estamos aqui para ajudá-lo no que for possível.

- Perdão, mas, não dá para acreditar, uma vez que me trouxeram à força. Estou perplexo, porque nada lhes fiz, nada lhes devo, e não entendo com que direito me constrangeram a vir até aqui, atrapalhando a minha tarefa pessoal. Bela ajuda!

- Mais tarde o amigo vai entender que se trata mesmo de uma ajuda, real e valiosa. Já o conheço de vista. Notei a sua presença na casa do nosso irmão Rui, onde você se empenha em aniquilá-lo, sob o jugo de terrível vingança, que executa friamente. Fui aplicar-lhe passes para compensar e neutralizar a sua ação.

- Conheço-lhe toda a família, e não me consta que o senhor faça parte dela. De onde vem o seu interesse, para interferir no nosso caso?

- É que o nosso irmão Rui solicitou a nossa ajuda e, juntamente com ele, solicitamos a ajuda de nossos Amigos Espirituais, que, naturalmente, o trouxeram até aqui. Agora, sou eu quem pergunto: por que está empenhado em arrasar, moral, física e financeiramente, aquele irmão? Que laços terríveis tem esse ódio? Que mal ele lhe fez?

- Ah! Vejo que o amigo é inteligente: notou que ele deve ter me feito algum mal, para gerar este ódio. Claro, ele me fez muito mal, não só a mim, como a toda a minha família.

- Nesta existência? - atalhou o srJosé .

- Não. Foi na minha última encarnação, há duzentos e cinqu enta anos atrás. Durante todo esse tempo, não lhe tenho dado trégua. Algumas pessoas do nosso plano de vida, com muitos recursos espirituais, conseguiram tirá-lo, por duas vezes, das minhas unhas, reencarnando-o. A nossa ligação é muito profunda, e posso dizer que ele sente a minha falta, acostumado que está ao martírio que lhe imponho, a título de resgate do mal que me fez.

- Meu Deus! E você, não esgotou o seu ódio? Não lhe dá pena vê-lo assim vencido e atormentado, durante mais de dois séculos?

- Pena? Isso é uma coisa que ele nunca teve com ninguém, ou melhor, de uns tempos para cá, com as lições do meu ódio, ele vem descobrindo que não está sozinho no mundo, que existem outras pessoas, e que essas outras pessoas também têm família, e aspiram a ser felizes.

- Quer dizer, o sofrimento está ajudando o seu progresso?

- Infelizmente, é isso. Às vezes fico irritado e penso em deixar que role por si mesmo, porque o seu coração está muito mais para o abismo do que para a luz. Ele dá a impressão de ser humilde, porque não tem saúde e nem poder.

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