Capítulo 20

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  - Como conseguiria despertar dessa _segunda _morte?

- O Espírito se vê fixado nos seus crimes e experimenta, indefinidamente, todas as angústias do seu desdobramento, com os quadros que seus verdugos desejam fixar,para seu tormento. Não haverá, em sua mente, espaço para mais nada, a não ser para executar algum trabalho obsessivo, quando lhe acrescentam os conteúdos que desejam infligir aos obsidiados. Nessa situação, o amigo há de convir que uma reação própria se torna muito difícil e, para que, por si mesmo, saia do flagelo,demora muito tempo. Assim, geralmente, são libertados ou ressuscitados pelos Espíritos do bem, em momentos oportunos, como o que apreciamos a pouco.

- De que modo Josias vai enfrentá-los?

- Na verdade, enquanto ele não se edificar, mudando seu padrão vibratório, para sair desta esfera de influência, junto à Crosta terrestre, não terá qualquer condição para enfrentar sozinho, a vingança da Organização. Depois, porém, como é natural, se imporá a qualquer Espírito que esteja a serviço do mal.

- Quer dizer, então, que isso levará muito tempo, até que possa trabalhar acompanhando as falanges do bem?

- Para enfrentar sozinho o poderio das sombras, sem dúvida, levará algum tempo,porque necessitará de verdadeira transformação interior. No tocante à sua cooperação,junto à equipe de Orlando, acompanhando os demais, dentro de pouco tempo, já estará atuando. Lembre-se de que, com a ajuda de seus maiores, em razão da plasticidade do corpo espiritual, poderá mudar, temporariamente, sua aparência, apenas fisionômica ou geral.

Nesse momento, o carro havia parado de fronte à porta de entrada da residência de Antonio.Descemos e entramos Mal havia varado a porta, Martha, muito nervosa, informou a Antonio que haviam telefonado, várias vezes, do Hospital onde uma moça de nome Neide foi internada em estado grave e o único endereço de referência, que encontraram com ela, foi um cartão pessoal seu. Querem que se comunique para ajudá-los a localizar a família.Antonio e filha estremeceram, estacando diante da surpreendente notícia. Quando conseguiram se refazer, deram sobre os calcanhares, e saíram novamente.Olhei para Orlando, também emocionado pelo desfecho, e ele, muito calmo, como se aquele doloroso resultado fosse muito natural, convidou-me:

 - o choque de retorno... vamos acompanhá-lo.

 - Necessitamos, caro leitor, retornar no tempo, a fim de acompanharmos os acontecimentos que envolveram nossa Manoela, até o momento, já anunciado, do retorno de Antonio sua casa, em companhia da filha, quando recebeu a notícia.Naquela tarde, depois que a jovem se viu frustrada, diante da ausência de Ruth na sua ida até a loja do ex-amante, quando esperava coroar o seu processo opressivo,derrubando, sobre Antonio, o peso da reação familiar, mergulhou em violento estado de revolta, que a irritava profundamente.Sua mente fervia. Por que Ruth não compareceu para o flagrante que ela delineara?

 Não teria lido a carta-denúncia? Não era possível, mulher alguma seria tão negligente a ponto de não ler uma carta, entregue naquelas condições.Teve ela medo de enfrentar uma prova concreta da traição do pai?Ou seria que ela não era aquele modelo de virtude, que se apregoava, e tenha achado normal a prevaricação do pai?

Essas perguntas angustiantes varavam-lhe a mente, continuamente, alimentando a sua tensão emocional.Decorreram algumas horas em casa, estirada na cama, onde costumava desembrulhara carga pesada da solidão, e, torturada pelas interrogações, com as quais procurava justificar o inesperado, que não constava dos seus planos, chorou muito para desabafar a raiva que vibrava nas suas fibras, acionada pelo ódio, que lhe emergia do coração.

Lembrava o tapa que recebera no carro, que debitava à conta de Antonio, sentiu-se humilhada e vencida, como nunca estivera antes; mas reagiria, sob o impulso de pensamentos de vingança, para se ver, de cabeça erguida enfrentando a todos e vencendo.De repente, procurou sacudir todos aqueles pensamentos, aquelas interrogações,que lhe pareceram pueris e inúteis. Tomou ligeiro banho, para se reanimar, e se reintegrar na sua verdadeira personalidade, segura e agressiva, de quem vai à luta para vencer qualquer tipo de adversário.

Eram mais de vinte e uma horas, quando saiu de carro, fazendo os pneus cantarem e arrancarem fumaça do asfalto, descarregando raiva nos pés. Deu algumas voltas pela cidade para distrair-se. Os quadros, no entanto, eramos mesmos de sempre, e, naquela hora, o trânsito era irritante, pelas seguidas paradas e a velocidade reduzida. Encaminhou-se para a rodovia estadual, que passava perto.Queria gozar as emoções da velocidade e o vento fresco, na noite, que entrava, abater-lhe no rosto como costumava fazer quando se sentia excitada, sacudida pela cólera.

Por que deprimir-se? Talvez amanhã o seu plano retomasse o curso normal que estava esperando. Era apenas uma questão de tempo, Antônio  não aguentaria a opressão que lhe infligia, por todos os lados.La nessa certeza que, de alguma forma lhe era consoladora, sentindo o vento fresco acariciando-lhe o rosto e agitando-lhe os cabelos, quando, de repente,algo pareceu oprimir-lhe a cabeça, roubando-lhe a visão. Assustou-se, quis reagir, mas sentiu-se paralisada. Foi uma fração de segundos, que se seguiu de tremendo estrondo esmagamento do carro contra seu corpo.Bateu, com o carro, atrás de um caminhão carregado de telhas. Entrou por debaixo da sua pesada carroceria e o auto se encolheu, no impacto, formando um monte de ferro e chapas, enrugados e retorcidos.Pedaços de vidro, do para brisas, lhe cortaram o rosto e o pescoço, provocando algum sangramento. 

As suas pernas, no entanto, até a altura do joelho, estavam comprimidas no meio da massa metálica informe em que se tornou seu automóvel. O volante lhe oprimia o peito, mantendo-a presa de encontro ao encosto do banco.Ante o impacto, que foi violento o motorista do caminhão procurou o acostamento para ver o que havia ocorrido, arrastando o veículo que se lhe grudara na traseira.Os veículos, que circulavam pela estrada, trataram de parar, a fim de socorreras possíveis vítimas.

Manoela sentia horrível e intensa dor. Seu corpo físico ofendido estava desmaiado, mas seu Espírito estava desperto, conquanto aturdido pelo inesperado desastre que a surpreendia.Sentiu as pernas presas, retidas no meio das latas e plásticos amassados. Num segundo, procurou avaliar as consequências daquele dano e, sem querer, se lembrou do que planejara contra Antonio, pretendendo levá-lo para uma cadeira de rodas. Seria o choque de retorno, do qual havia sido prevenida e não acreditara? 

Mas - pensou- agora não era hora de cogitar disso. Precisava de socorro urgente, porque perdia sangue por muitos pontos e, sozinha, jamais conseguiria sair dali.   Ouvia pessoas, correndo e falando alto, emocionadas, como se estivessem tomadas pelo desespero. Um homem olhou pela janela do carro e recuou aterrado.

- Aqui tem uma moça e está presa entre as ferragens. Quem providencia o Corpo-de-Bombeiros?- Eu posso, sou da cidade, sei onde está localizado e cuidarei dessa parte -,disse um jovem, subindo em seu carro e disparando dali.

Num instante, compacta multidão rodeava o carro acidentado, desesperada por fazer alguma coisa, apiedada da situação da jovem.

- Qual o estado da moça? - perguntou alguém.A pessoa que estava mais próxima da janela, olhou, rapidamente, e informou:

- Está desmaiada, ou morta, porque seu corpo está largado.

- Respira?- Respira.

- Vou para frente, e passo na cidade indo até o hospital providenciar uma ambulância e socorro médico - disse uma jovem que chorava, emocionada, pelo quadro desolador que presenciara.À medida que os minutos passavam, e pareciam eternidade, porque a dor, em suas pernas, era imensa, Manoela ia readquirindo a consciência de si mesma, apesar do corpo destroçado.Quis chorar alto, gritar para que viessem que estava viva e providenciassem,mais depressa, o socorro desejado, mas, estava paralisada. 

Nada respondia aos seus estímulos mentais.Um pensamento atravessou-lhe a mente: terei morrido?

Não, alguém disse que ela respirava, apesar de não sentir isso. Logo não estava morta. Estarei morrendo?Isso era possível, porque não comandava o corpo.


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