O Sr Antônio, não sabia onde enfiar a cabeça para esconder o rosto, e a sua vergonha, dos olhos da filha. Não tinha coragem de fitá-la.As lágrimas lhe corriam pela face, ardentes e abundantes, enquanto lia aquela denúncia torpe e deformada. Tremia, e o papel chegava a farfalhar em suas mãos.Marta acompanhava-lhe as emoções, procurando dissimular as suas. Fazia uma força terrível para não cair em pranto também, abraçar o pai e enxugar-lhe as lágrimas,que falavam, mais do que quaisquer palavras, da sua tristeza e do seu arrependimento.Longos minutos correram, que pareciam eternidade, até que seu pai se recompusesse,tomando o leme de si mesmo, depois de rolar nos vagalhões da sua vergonha,diante da filha, que tanto amava, e que tanto o amava também.
- É verdade, minha filha, confesso que errei. Não culpo a ninguém, assumo toda a responsabilidade pelo que fiz. Fraquejei, e estou pagando alto preço por isso.Tenho tentado desligar-me do problema; isso porém, não tem sido fácil. A gente cai num segundo, e parece que demora séculos para levantar-se. Perdoe-me, querida. Posso avaliar a sua tremenda decepção, e acho justo que você esteja revoltada. Foi bom que acontecesse assim. Que alguém provocasse este entendimento, pois não sabia como agir, como pedir socorro a alguém...
O senhor Antonio não pôde continuar. As lágrimas jorravam-lhe dos olhos, aos borbotões; seu peito parecia estrangular-se, pela vergonha e desespero que lhe possuíam,inteiramente.Dobrou a cabeça sobre a escrivaninha e chorou com fortes e repetidos soluços.Ruth comoveu-se. Alisou os cabelos, que começavam a ficar grisalhos e, sem poder conter-se chorou, abraçada à cabeça paterna.O quadro era comovente, e nos arrancou lágrimas, também, ao coração.
- Que menina valorosa! Mereceria este sofrimento?
- Sim, amigo. Ninguém carrega cruz alheia. Embora não se relacione com os personagens do instante, Marta, no passado, deixou a família e comprometeu a existência dos seus membros, assumindo pesada responsabilidade perante a vida. Conheço-lhe o valor e sei que vai ser fator decisivo na recuperação do genitor, que caiu nas malhas de intrincado processo obsessivo. Isso apagará sua culpa pretérita,aliviará seu coração. Veja que até de uma aparente infelicidade podemos tirar proveito.
- Esse proveito de Ruth, por si só, não justifica o erro do psi dela?
- claro que não. O erro do nosso amigo é compromisso seu, como a perseguição de Manoela corre por sua conta. Isso não impede que a jovem, doando do que é seu, do seu amor, alivie a alma de compromisso pretérito. Aconteceu porque aconteceu, e ela sai ganhando porque faz por merecer. Estamos, aqui, dentro dos estritos limites da lei, que manda dar, a cada um, segundo as suas obras.
- Como vai ela ajudar o pai, daqui para a frente?
- Com o nosso apoio, vai ajudar o genitor a tomar algumas decisões importantes,no que respeita à ajuda espiritual de que necessita. Penso que devemos começar inspirando-a para que procurem, de novo, nosso amigo José , pedindo-lhe ajuda. Este desencadeará, desde o plano físico, o processo de assistência, que livrará Serrado assédio dos seus terríveis obsessores. Aguardemos.
Pai e filha continuavam abraçados e chorando, num desabafo necessário para expurgar os seus medos e angústias.Em dado instante, Antonio deu-se conta de que a filha, enquanto dividia as suas lágrimas, passava-lhe a mão na cabeça, ternamente, o que era evidência de que ela não o condenava, não o repelia. Diante disso, se recompôs, enxugou as lágrimas,ergueu a cabeça da menina, que chorava, olhou-a nos olhos, e disse em tom suplicante:
- Minha filha, preciso da sua ajuda! Ajude-me, por favor, a resolver este drama!
- Conte comigo, papai.
- Não sei o que fazer, por onde começar...
- E se formos juntos conversar com o senhor José ? Talvez nos indique algum caminho.Afinal, ele tem ajudado tanta gente a resolver problemas piores.
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Liberdade espiritual(espírita)
SpiritualContarei a historia de espíritos encarnado(vivos) e desencarnados(Mortos). Uma família que sofre vendo o chefe da família sendo alvo de espíritos que vivem na mundo espiritual, cometendo crimes. Como a falta de oração nos leva a ser alvo de es...