Capítulo 19

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  Ruth sentiu um frio percorrer-lhe a espinha.

- Foi a mão de Deus! Pensou. Quando iria imaginar que estava socorrendo a filha de um algoz, e que isso iria ajudar tanto assim!Josias comoveu-se, e também começou a chorar.

O dirigente se acercou dele, agora com mais intimidade e carinho, e lhe perguntou:

- Está arrependido, meu irmão?

- Sim. Estava prejudicando gente boa e honesta, para satisfazer aos projetos de vingança de Manoela.

- Vai persistir no mal?

- Não sei.

- Por que não sabe?

- É que pertenço a uma organização, com a qual estou compromissado. Mas, se esses Espíritos amigos, que conheci hoje, me ajudarem, e me protegerem, deixo tudo e vou segui-los para procurar a minha regeneração.

- Que dizem eles?

- Que me ajudam.

- Então, pode segui-los.

- Posso, antes de sair, falar com Ruth?

- Sim.

- Perdoem-me pelo mal que lhes fiz. Confesso que era eu quem guiava a mão de Manoela para escrever aquela carta, que tanto magoou-lhe o coração. Estava cego de ódio.Acabei provocando o acidente que matou meu genro, para que ele não batesse mais na minha filha, e viesse a provocar a morte da minha neta, que, no futuro,poderá me ajudar a regressar à carne. Na minha revolta, esqueci-me que, sem o marido,Neide iria ficar só. Não podia fazer nada para ajudá-la e queria descarregar,fazendo o mal, o meu desespero e o meu ódio. Quando vi que vocês, as vítimas que eu destruía, socorreram minha filha, com tanto amor, senti as mãos sujas, e compreendi o quanto era mau. Pelo amor de Deus, perdoem-me.Ruth tinha os olhos cheios de lágrimas, mas, pela cortina líquida que lhe molhava a retina, ainda pôde ver o sinal que o dirigente lhe fez, para que lhe falasse.

- Vai com deus, meu irmão. Nós te perdoamos e rogamos a Jesus que lhe dê a oportunidade de encontrar outros caminhos, de luz e de felicidade.

Josias agradeceu e deixou o médium, sendo amparado por mim e por orlando;abraçamo-lo, prometendo ajudá-lo, encorajando-o para as novas lutas.Ruth estava profundamente impressionada. Vira, de perto, as consequências da ação maléfica que dirigiram sobre seu pai, destroçando-lhe a vida que sentia ceder,dia a dia, à doença e ao desânimo. A prova concreta que recebera, da força negativa de uma ligação de ódio, e do poder restaurador de um gesto de fraternidade, eram lições que procurava interpretar, naqueles momentos de emoção, a fim de que se lhe gravassem, indelevelmente, na alma ingênua e boa.

Encerrados os trabalhos, Ruth procurou o pai, relatando-lhe todo o sucedido,abraçando-se ambos, em lágrimas.A aparente coincidência de ter ajudado a filha do principal executor da vingança de Manoela, e o alívio inexplicável que sentia agora, com a mente desperta e liberada,e com a impressão de que lhe tivessem tirado tremendo fardo de sobre os ombros,eram fatos que, aturdido, não podia avaliar integralmente.

Pai e filha estavam abraçados e felizes.José , o dedicado amigo, que havia sido o instrumento da Bondade Divina,para a solução do problema de serra, também estava exultante pelo desfecho, em nível de vida espiritual, a que tinha chegado. Vendo-o com o semblante de quem não sabia se ajustar, entre a alegria de uma vitória e o susto de uma quase queda,aproximou-se e, batendo, levemente, com a mão, em suas costas, disse-lhe:

- E então, Antonio, como se sente?

- Incrivelmente leve e feliz. Parece-me que fui aliviado de uma espécie de capacete de aço, que me oprimisse a cabeça, e de um fardo, indescritível, que me pesava muito nos ombros.

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