Capítulo 15

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  Entramos num dia decisivo, no processo de assistência junto à família de Antônio.Quando chegamos ao seu estabelecimento comercial, logo depois que abriu as portas, lá encontramos Josias e seus asseclas, preparando-se para perturbar o movimento de vendas.A nossa intervenção provocando briga e tumulto entre os obsessores, deu ao seu chefe a certeza de que haviam Espíritos do Bem interferindo no seu trabalho. Por isso,decidiu permanecer, ele mesmo, à testa da empreitada.A um sinal de Orlando, e fora do campo de percepção dos inimigos declarados,fizemos-nos visíveis, e nos acercamos do desolado Josias.

- Bom dia, - disse-lhe Orlando, amavelmente.

- bom dia; quem é você?

- Sou um amigo. Chamo-me Orlando, e este é nosso irmão Celso.

- Que deseja aqui?

- Sou amigo de Antoniuo e pretendo ajudá-lo.

- Perde tempo e pode se dar mal.

- Acredito no diálogo e no entendimento.

- Não estamos interessados.

- Queremos a sua ajuda.

 - Minha ajuda? Não vê que estou comprometido a fazer exatamente o contrário do que pretende?

- E o que ganha com isso?

- Vivo integrado numa organização muito forte, que me dá autoridade, proteção e assistência.

- Isso é tão pouco!

- Para mim é o bastante. Domino toda esta região.

- Mas não é dono de si mesmo e, pessoalmente, está estacionado, assumindo grandes compromissos e comprometendo o futuro.

- E quem é dono de si mesmo? Sempre estamos sob as ordens de alguém.

- A subordinação não é prejuízo. O que deve nos interessar é a sementeira quenos cabe, e a conseqüente colheita.

- Isso é problema meu.

- Realmente. Mas, poderíamos nos ajudar mutuamente.

- Mutuamente?

- Sim. Você nos ajudaria na solução do problema Antônio  e Manoela, e nós ajudaríamos a você, em qualquer problema que possa ter, necessitando da ajudados Espíritos superiores, entre os quais temos grandes amigos.Josias vacilou. Olhou espantado para Orlando, olhos bem abertos, alongou-os para todos os lados, como quem espreita se há alguém na área de provável percepção,engoliu em seco, e disse, baixinho:

- Agora tudo muda de figura. Tenho um problema muito sério para resolver, que eu mesmo não tenho forças para deslindar. Talvez aceite negociar, mas, exijo que primeiro vocês me ajudem a solucionar a minha dificuldade, para que, depois, eu ajude a resolver a sua.

- Tudo bem! O que devemos fazer?

- Tenho uma filha encarnada, que se chama Neide, no último mês de gestação,mas, que, ao que tudo indica, vai desencarnar, juntamente com seu rebento, minha neta,se não for socorrida a tempo. Ela estava casada com um homem violento.neta é Espírito amigo que deverá esperar-me, no futuro, para receber-me como filho.Essa gestação, portanto, é a chave de meu futuro, e não pode fracassar. Acontece que Paulo, meu genro, vinha maltratando muito minha filha e, além disso,ligou-se a outra mulher, porque a gravidez não lhe permitia o prazer pleno. Numa noite,bateu-lhe muito e, com medo que viesse a prejudicar a criança, me enfureci.Quando,raivoso, saiu de casa, na sua moto, ganhei-lhe a garupa e o envolvi. No primeiro cruzamento, cobri-lhe os olhos com fluido deletério, que sempre temos, e o infeliz se espatifou num caminhão que cortava sua frente, vindo a perder o corpo físico.Cego pelo ódio, não havia pensado que minha filha necessitava dele, para atenderas necessidades do lar e do seu estado. A morte do marido lhe causou tremendo choque, pelo medo de ficar sozinha, e levou-a para cama. O marido desencarnado,inconsciente do que lhe aconteceu, foi atraído pelos seus pensamentos e se colou a ela sugando-lhe as poucas energias que acumula com a sua vida de pobreza. 

No plano físico,ela não tem a quem recorrer. No plano espiritual, eu, que provoquei o tremendo problema, criminoso que sou, pedi socorro à Organização, à qual sirvo com destaque,em face de alguns conhecimentos que acumulei. A fixação mental de minha filha é muito grande, e não conseguimos apartar os dois. A Organização me assegurou que de um momento para outro, poderiam negociar com algum _anjo, numa troca de obséquios, e solucionaria meu problema. Já que apareceu a oportunidade, faço o negócio diretamente.

- Onde mora sua filha?

- Aqui perto, quase junto à casa de Antonio.

- Leve-nos até lá.

Seguimos os três, e, percorridas algumas quadras, entramos por um corredor, que levava aos fundos, a acanhado quarto e cozinha, onde uma jovem mulher, deitada em cama rústica, ardia em febre e chorava baixinho, em evidente estado de extrema fraqueza.

Orlando aproximou-se, tocou os ombros de Paulo, que estava agarrado à esposa doente, e disse-lhe, com acento de ternura:

- Paulo, meu filho, acorde, saia desse pesadelo. Ouça a minha voz, e volte-separa mim.O moço, sob a forte influência magnética da mente de meu instrutor, moveu-se vagarosamente, soltou os braços com os quais enlaçava a esposa, e, pouco a pouco foi se virando, até que conseguiu encarar Orlando.

- Você me conhece? - perguntou, a custo.

- Sim. Mas o que aconteceu com você?

- Creio que, não sei como, bati com a moto num caminhão e me machuquei muito.Preciso de ajuda.

- Quer que nós o conduzamos a um hospital?

- Por favor!

Orlando tomou-o nos braços, como se fosse um próprio filho, concentrou-se,envolvendo o jovem nas vibrações da sua vontade poderosa e do seu coração magnânimo,e, em instantes, Paulo relaxou e adormeceu.Recebi o fardo inesperado, e, segundo suas instruções, parti conduzindo o moço ao seguro posto de socorro que tínhamos em esfera próxima.Quando regressei Orlando já havia conseguido debelar a febre de Neide que,sem a ação nefasta do esposo, parecia mais calma e necessitada de repouso.

- Celso, vá, por favor, até a casa de Antonio e fique atento, ao lado de Ruth,até que ouça um alarido nesta porta. Quando isso acontecer, procure conduzir a jovem até aqui, pois, pretendo que ela assuma o socorro de Neide, encaminhando-a para o hospital. Vou fazer a moça gritar, pedindo socorro.Não demorou muito, e ouvi os gritos angustiados de Neide parecendo sair de terrível pesadelo. Os vizinhos se agitaram e correram, para ver o que era. Envolvi Ruth,e, a sua curiosidade natural, facilitou-me o trabalho. Esta abriu passagem entre as senhoras que acudiram, e, ao ver a jovem na cama, em condição de gestante,comoveu-se.

- Onde está seu marido?

- Meu marido morreu, há dois meses.

- E seus pais?

- Já não tenho pais, pois morreram.

- Você não tem ninguém?

- Ninguém.

- Permite que a leve para um hospital?

- Não tenho dinheiro algum para pagar a conta.

- Isso a gente arruma. Posso levá-la a um hospital?

- Quem é você?

- Sou Ruth Silva, e vivo aqui ao lado.

- Se você puder me ajudar, me ajude, pelo amor de Deus, pois não quero que meu

filho morra.

A jovem bondosa pediu às senhoras presentes, que procurassem higienizar Neide,trocar-lhe a roupa, e, se possível, preparar-lhe a mala para que a levasse ao hospital,enquanto iria tirar seu carro da garagem. E saiu célere.Eu havia me esquecido de Josias. Procurei-o e o divisei num canto, tremendo de emoção, quieto como se fora uma estátua e não estivesse compreendendo nada do que estava se passando.De repente, Ruth entrou apressada e, ajudada pelas vizinhas acomodou Neide no banco do seu carro, e partiu.Quando o carro dobrou a primeira esquina, voltamos ao aposento, e encontramos Josias chorando copiosamente.

- Meu Deus! Não é possível. Essa moça, que eu procurava destruir, pega minha filha nos braços e a socorre! Que caminhos do destino!   

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