"Parte 14"

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  - Vamos, papai, tentar dialogar com Manoela. Ela talvez nos atenda .Aos apelos e desista de continuar prejudicando-o desta maneira.

- Não creio que dê resultado. Aquela moça é dura demais, para comover-se ou desistir. Além disso, tenho medo de que, aproveitando-se da sua presença, entre nós dois, fira o seu coração generoso com calúnias, como já fez na carta. No terreno em que ela está, não estamos à altura de enfrentá-la. Porque não aguardarmos a prometida intervenção acenada pelo Sr José ? Talvez isso resolva o problema.

- O senhor tem razão. Não podemos ir juntos. Vou sozinha, falar-lhe de mulher para mulher. Não custa tentar.- Não posso permitir isso. É loucura enfrentá-la. Somos muito ingênuos e não sabemos lidar com o mal.

- Não podemos esquecer, no entanto que não estamos sós,que o bem também existe.Se a coisa complicar, vou orar e pedir ajuda aos nossos amigos espirituais. Penso que não me deixarão sozinha. Por favor, papai, não me peça para desistir, nem me impeça que eu saia.

Vendo a decisão da filha que, apesar de tudo, ia se expor para ajudá-lo,enfrentando forças que, ele mesmo, não podia resistir, emocionou-se e deixou rolar algumas lágrimas.A jovem não esperou mais, deu-lhe um beijo no rosto, e saiu.Nós a seguimos. Ia sem pressa, respirando fundo o ar fresco da madrugada, indiferente aos Espíritos da noite, que passavam em bandos, cantando ou fazendo arruaças, muitos deles com garrafas de bebidas nas mãos.No percurso ia tentando alinhar seu pensamento, programar a sua atuação, diante do problema que estava logo à frente.

Chegou à casa de Manoela, que estava aberta, e a algazarra, lá dentro,era enorme.Música estridente enchia o ar, marcando o ritmo para diversos pares que dançavam,pulando e contorcendo-se para acompanharem a cadência, agitadíssima, da música.Densa fumaça completava o quadro.Ruth, diante do que via, e com o que não estava acostumada, vacilou. Pensou em recuar, deixar para outra oportunidade, quando Manoela estivesse sozinha. E se ela resolvesse ridicularizá-la, diante daquela turba, barulhenta e viciosa?Seu coração disparou. Já ia dar meia-volta, quando, a dona da casa, passando por perto, viu um vulto na porta e veio averiguar.Também ela teve medo, quando viu quem era. 

Conhecia o valor moral de Ruth e não gostaria de enfrentá-la. Precisava encontrar uma saída, e rapidamente.Paradas as duas, uma diante da outra, foi Manoela quem tomou a iniciativa.

- Minha querida, não sei se veio falar comigo; se assim for, veja que, no momento, não posso atendê-la. Estou dando uma pequena festa, e tenho a casa cheia, de amigos.Que tal se deixarmos para amanhã à noite?A jovem, que examinava a expressão espiritual da interlocutora, estava gelada de espanto e medo, diante da Manoela que se lhe mostrava aos olhos. Deu graças a Deus,quando esta lhe dispensou de pronto.

- Está bem, voltarei amanhã Manoela fechou a porta e Ruth, aliviada, virou-se e apertou o passo, para,distanciar-se dali o mais breve possível.

- Interessante - comentei -, as duas vacilaram, uma com medo da outra. Ruth não tinha condições espirituais para enfrentar a rival.

- Não se esqueça de que ela é um Espírito encarnado sujeito às garras da matéria, e que, nesse terreno, falta-lhe experiência para se impor. O maior homem do mundo pode ser derrotado por um anão, que o colha de surpresa e que use arma mortífera. Ela nunca faria qualquer mal à outra, no entanto, esta não hesitaria,um segundo,se precisasse recrutar todos os seus amigos para expulsá-la. 

Manoela está em sua casa, em campo vibratório com o qual se afina plenamente, o que não ocorre com Ruth.Mas foi bom que ela tivesse esta experiência, pudesse registrar melhor a verdadeira natureza da pessoa com quem está começando a lutar, em defesa do pai.

- Por que Manoela não se aproveitou da situação?

- Porque já teve provas de que a jovem está sendo protegida por Espíritos superiores, e, numa refrega tão injusta, eles deveriam se fazer presentes,desmoralizando-aperante os amigos.

- E o seu horrível aspecto? Manoela não se impressionou com o fato da moça examiná-la e sentir medo.

- Ela não tem consciência do seu aspecto. Aliás, é muito comum uma pessoa ser velha e ter a impressão de ser jovem, ser feia e se ver bonita, mesmo diante do espelho. 

- Você tem razão. Poucas pessoas, mesmo desencarnadas, têm plena consciência da realidade de si mesmas. Há poucos dias, fiz um curso sobre as implicações da_fantasia_mental na vida das pessoas que ficam obrigadas a viverem o _ideal e a Realidade.

Ruth entrou em casa, acompanhada por nós.Antonio repousava no sofá, e, naquele momento, estava agitado, ao que se podia deduzir, por influência da ação deletéria dos ovóides, que lhe minavam as forças e perturbavam-lhe a mente.Ruth sentou-se na extremidade do móvel, acomodou a cabeça do pai no seu colo,afagando-lhe os cabelos e, mentalmente, preparava-se para orar, a fim de pedir socorro.A medida que se concentrava, passou a irradiar viva luz, do peito e das mãos,que envolvia o pai e irradiava-se pelo ambiente.

Aquietamo-nos, buscando ouvir-lhe a súplica, para ajudá-la.Sem articular palavras, começou a rogativa

."Senhor Jesus!Socorre-nos, nesta hora de provação, quando somos obrigados a colher os frutos amargos da nossa sementeira.Nos dias de inconsciência e de maldade, plantamos desolação e ódio para satisfazermos, às vezes, meros caprichos passageiros.Desrespeitamos lares, traímos amigos, distribuímos a enfermidade e a morte, em proveito da nossa ambição e do nosso orgulho, da nossa cobiça e do nosso egoísmo,como se não existisse a Lei e pudéssemos passar impunes.É verdade que, de certa forma, gozamos com as nossas torpes conquistas, e que,agora, deveríamos pagar, ceitil por ceitil, com lágrimas equivalentes.Mas sabemos da Tua misericórdia, e ousamos pedir que nos ajude a acertarmos essas contas, que nos estão sendo pedidas, em execução forçada.Dá-nos compreensão, para entendermos que só a nossa humildade e o nosso amor podem apagar o fogo devorador da vingança, sem que tenhamos de ser reduzidos acinzas.Que os nossos algozes, de hoje, tenham piedade de nós, e nos dêem tempo para pagar-lhes, com a moeda do nosso afeto e do nosso apoio.Permite que Teus bondosos Mensageiros, que nos assistem sempre, inspirem-nos para que encontremos caminhos justos de reconciliação, e nos dêem forças para que resistamos ao mal com o bem que somos capazes de fazer.Sobretudo, Mestre, ampara meu pai, que está quase vencido, para que reaja,erga-se do seu desânimo e possa voltar a ser o sustentáculo de nós todos, que vivemos sob a sua sombra amiga e tutelar.- Ó senhor de bondade! Derrama, sobre nós o Teu Amor Infinito!A resposta não se fez esperar. 

Nesse instante, maravilhosa chuva, de gotas de safirina luz, se derramou sobre a cabeça da jovem e, dela fluía para o pai, em forma de luz da mesma cor, penetrando-lhe o organismo todo.Emocionados, deixamos a casa de Antonio, para atendermos outros compromissos de Orlando junto aos seus protegidos encarnados.   

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