"Parte 4"

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Eram quase dezessete horas, quando nos aproximamos da casa onde residia Manoela, a personagem principal do drama sob a nossa observação. De repente, um Espírito, com ares de debochado,chegou-se à janela e gritou para a turma, que estava na vizinhança, gesticulando para que viessem. Num instante, a gangue, estacionada nas cercas, em louca correria, invadiu a casa, causando-me espanto. Orlando, acostumado a passar através entre esses espíritos, em razão do seu trabalho assistencial, mantinha-se sereno e, quando se completou a invasão, convidou-me para entrar.

- Vamos, a casa está liberada a todos. Prepare-se, no entanto, para presenciar algo que, posso apostar, você nunca chegou, sequer, a pensar que seria possível ocorrer. Essa turma está querendo divertir-se.

Entramos, O ambiente era horrível. Um cheiro dominava, causando incomodo. A multidão de Espíritos, que tomou a casa, se apinhava em um cômodo, mais no fundo, que, de longe, dava a impressão de ser um quarto de banho. As emanações mentais, daquele grupo desvairados, era algo indescritível e deprimente. Sentia dificuldade para manter-me em pé ou locomover-me. Orlando percebeu-me o despreparo.

- Vamos, anime-se. Embora deprimente, esta é uma cena comum no dia-a-dia das pessoas levianas e inconseqüentes, que se entregam às paixões doentias. É falta de educação invadir a intimidade de quem quer que seja, contudo, estamos em missão de estudos, que poderá vir a ser muito proveitosa esclarecendo as pessoas para que cenas como esta,limitam cada vez mais. Ninguém nos vê, de maneira que você pode estudar o fato pelo ângulo que quiser.

"Aproximei-me da porta de espaçoso banheiro, completamente lotado pelos Espíritos invasores, restando apenas um pequeno círculo central, como fora um palco, onde uma bela e jovem mulher se movia, em gestos obscenos, sensuais, abraçada por um Espírito de feições horríveis. O espetáculo era horroroso. A jovem se deslocava em passos sensuais, passando a mão pelo corpo nu, procurando excitar-se. Tinha as pálpebras cerradas, como quem sonha, mergulhado em extraordinária fantasia de prazer. A multidão estava estática, em silêncio, integrando-se na sensualidade do momento. Faltam palavras para retratar o quadro terrível, que se desdobrava diante dos meus olhos, nascidos dos desejos desenfreados daquela jovem. A sua mente irresponsável devia estar tentando fixar a imagem de algum homem, da sua predileção, contudo, era criatura de aspecto quase animalesco, que lhe servia e desfrutava as emoções Quando o espetáculo parecia atingir seu clímax, Orlando tocou-me o braço, convidando-me para sairmos".

- Meu Deus! - exclamei -, nunca pensei presenciar cenas tão estranhas! Nunca imaginei tais conseqüências, como resultado dos devaneios sensuais de uma jovem!

- Que quer você, meu amigo? Se a dona da casa mantém a porta aberta, e atrai aqueles que estão na mesma faixa vibratória, na qual deliberadamente se coloca, o resultado está coerente com a realidade. Quem quiser conviver com Espíritos puros, que procure melhorar as próprias condições morais. Pela mesma lei, quem se compraz em mergulhar no pântano das emoções grosseiras, que se prepare para conviver com os Espíritos das sombras. É a lei da atração, ou da afinidade vibratória. A Humanidade invisível, que povoa a terra, e esperas mais abaixo dela, se nutre dos Espíritos encarnados, sugando-lhes as energias vitais, arrastando-os para que lhes satisfaçam os vícios de toda espécie, sorvendo as emanações mentais deletérias, que geram imagens de vida momentânea e peso específico, que são para eles indispensável alimento. Esse é o motivo principal da luta da sombra contra a luz. Cada pessoa espiritualizada, é como se fosse uma vaquinha a menos no curral, para lhes fornecer o leite insubstituível. Imagine uma população na proporção de cinco para um, de desencarnados e encarnados, e verá, desde logo, o que representa, para a sombra, o potencial de cada ser encarnado, ser, teoricamente, compartilhado por cinco.

O raciocínio era lógico demais, contudo, sentia pena daquela mulher, jovem e bonita, entregue a si mesma, e incapaz de conter os seus impulsos. De repente, abriu-se a porta do banheiro e Manoela, vestindo luxuoso roupão de banho, saiu, um tanto abatida, em direção ao quarto. A turma seguia-lhe os passos, e tudo fazia crer que invadiria, também, a intimidade do quarto de dormir. Quando a jovem passou por nós,Orlando estendeu a destra, e imperceptível raio magnético se interpôs à frente da multidão. O primeiro Espírito invasor, chocando-se com a barreira magnética, dando a impressão de que sofrerá o impacto de uma descarga, pulou para trás, a exclamar, surpreso:

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