Família é esse lugar cheio de gente tão sofrida e estranha que chamamos de lar. É preciso ter uma certa reserva ao criticar ou endeusar a família, afinal são antes de tudo pessoas.
Minha família é muito pequena, sempre invejei aquelas famílias enormes que falam alto e comem ruidosamente. Hoje tenho minhas reservas sobre esse modelo, não que elas não tenham sua dose de poesia, mas parece haver um custo muito alto para essa engrenagem à moda italiana seguir operando de um jeito saudável.
A forma como as famílias amam parece se nutrir de pouco oxigênio. Ter muito espaço parece criar ameaça, para garantir o amor as pessoas se sufocam, dão o que não tem e exigem o que não é possível. Se uma pessoa quer seguir carreira solo na família, fazer escolhas atípicas ou que quebrem o protocolo familiar causa um pandemônio.
O amor familiar carece de diversidade e generosidade genuína para apoiar as vidas independentes de seus próprios gostos. Tenho uma pessoa na família que é homossexual, ela não é muito bem tratada pelos pais, noto com certa tristeza que a impossibilidade de haver uma troca genuína porque uma parte desaponta a outra.
A família deveria parecer mais um celeiro de startups, um espaço para viver, interagir, amar e acima de tudo libertar. É bonito dizer que os filhos são do mundo, mas a realidade é que os pais criam os filhos como serviçais de seus mimos.
Os pais são crianças crescidas, é preciso ter clareza que idade não define maturidade é que muitos pais projetam nos filhos a realização de suas frustrações. Isso está longe de ser amor. Reconhecer esse egoísmo dos pais é fundamental para dar a si mesmo uma carta de alforria.
O ciclo da vida é lógico, os pais dão, os filhos recebem e passam a diante, para seus filhos, alunos, amigos, ONG's, para a próxima geração. Mas quando os filhos são hipnotizados pela lenda de devolver o que receberam para seus pais o resultado é que todos ficam mofando juntos nessa bolha de cegueira "amorosa".
A família é uma catapulta, se ela não lançou suas crias para o mundo então não deixou o seu legado de amor de povoar o mundo com diversidade. Se alguém quiser ser digno de sua própria família precisa passar o presente que recebeu dela em frente. Beneficiar o mundo com o amor que se recebeu...
É estranho ser reconhecido como uma autoridade no tema relacionamentos amorosos, afinal, até pouco tempo eu fui um verdadeiro desastre em matéria de me relacionar com alguém que eu amava.
Comecei qualquer interação amorosa bem tarde, aos quase 23 anos. Até ali eu tinha uma lista de pelo menos cinco garotas com quem me relacionei intensamente. Elas nunca souberam dessa relação, sendo bem honesto, dó era a palavra que tinham quando pensavam em mim. Esse platonismo todo me ajudou a entender como podemos delirar a respeito de uma pessoa e chamar isso de amor.
Meu primeiro namoro tardio terminou por minha dificuldade em me expressar com clareza e abertura genuína. O segundo, pretensamente mais adulto foi um poço de insegurança e reatividade de minha parte. Morar junto foi uma experiência rica, mas problemática, me revelei um mau administrador da rotina de casa. Falhei.
Passei algum tempo sozinho, vivendo histórias bem pontuais na tentativa de entender quem eu era e o que queria.
Aprendi que não importa o quanto eu amasse ou fosse amado se não cuidasse de minhas limitações emocionais todo o ciclo problemático dos relacionamentos antigos se repetiria. Meu prazo era sempre de quatro anos, e em três eu já morava prenúncios da falência amorosa. Por volta do último ano eu já sabia que estava irritado por não expressar meus desejos e sentimentos, agindo de modo passivo-agressivo, cada vez mais distante emocionalmente e exigente com a parceira até um pouco dela se sentir esganada e pedir arrego.
Com minha esposa estamos tendo mais sobrevida, quase cinco anos juntos, e os desafios permanecem. Com ela parece que as coisas fluem mais fácil e isso me trouxe uma revelação. Se sendo fluido ainda temos muitos desafios o que dirá das relações onde tudo já começa complicado.
A capacidade das pessoas desaguarem todas as suas insuficiências e frustrações em cima do parceiro é enorme. Se a carreira ou o trabalho não vão bem a culpa é do outro. Se o bolso, família e o sexo degringolam é a pessoa amada a responsável. Ao invés de partilhar as dificuldades e traçar uma rota de saída conjuntamente as pessoas colocam o parceiro como violão.
Essa falta de parceria diante das limitações sistêmicas (ambos se influenciam, limitam ou ampliam) do casal é o tiro de misericórdia de casais que podiam ter sido mas não foram. Se você não se coloca ao lado da pessoa tratando as dificuldades de ambos como caminhos de crescimento a relação se torna uma guerra é uma acusação sem fim.
Tomar o medo do outro pela mão com carinho, hoje me parece o melhor meio de sustentar uma relação...
Parece que tem uma única coisa que tira a espontânea vontade de fazer alguma coisa gostosa, ser obrigado a fazê-la.
A frase que me mata: "você deveria...".
Não gente, não deveria, faz porque quer, porque tem alguma emoção envolvida, porque paga as contas, mas dever de verdade não tem.
Todo dever, com exceção da escravidão, é uma escolha. É verdade que pode ser uma escolha estranha, sem recompensas claras, até abusiva, mas não há nada que seja um real dever.
Pagar as contas, por exemplos, poderia ser visto como um dever, mas podemos escolher quais contas pagar, quais diminuir, quais luxos cortar e até, em últimas instância abrir mão de quase tudo, reduzir a vida à zero, buscar alguma comunidade no meio da floresta e viver do que a natureza dá.
"Poxa, Fred, mas aí não né!"
Pois é, as escolhas tem uma implicação prática, ela anuncia sempre um tipo de privilégio ao qual podemos atender ou não.
Uma profissional que trabalha com um chefe abusivo, ele não é obrigada a seguir naquela relação. Com um pouco de suporte (que a comunidade em torno dela deveria criar) ela pode ter uma rota de fuga. Mas é difícil sair, porque há um tipo de ganho secreto, estranho, até auto-corrosivo ao qual atendemos, mesmo que seja tóxico para nós.
Não há uma obrigação absoluta, há o preço que se paga. Se você quer deixar de se sentir sobrecarregado de deveres é preciso então definir que preço que quer pagar para não carregar pesos inúteis.
As vezes para abrir mão de um peso precisamos lidar com o julgamento (tacanha é verdade) dos outros, com a incompreensão (daqueles que nunca se esforçam para compreender nada), com a perda de status (que alimentamos para fazer brilhar os olhos de pessoas que não nos influenciam de verdade), enfim, as vezes sustentamos o inferno para parecer bonito na foto.
Quando você se queixar de que algo está pesado sempre lembre que há alternativa, mas que costuma ser caro pagar, ainda que se queira pagar com a vida...
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Liberdade espiritual(espírita)
EspiritualContarei a historia de espíritos encarnado(vivos) e desencarnados(Mortos). Uma família que sofre vendo o chefe da família sendo alvo de espíritos que vivem na mundo espiritual, cometendo crimes. Como a falta de oração nos leva a ser alvo de es...