Um Olhar (COMPLETO)

Capítulo 3

DOIS ANOS DEPOIS.

Escuto o despertador tocar e bato com a mão nele.

-Meu Deus eu só queria dormir mais uns minutinhos. ~Resmungo enquanto sento na cama ainda de olhos fechados.

Vou para o banheiro e tomo um longo banho.
Visto meu uniforme de faxineira e fico em frente ao espelho.

Eu havia engordado no último ano e minhas curvas estavam mais a mostra. Lembro do tempo que passei fome e comi pouco na rua. Lembro de quase ter me matado. E logo me lembro de quando me reergui e pedi emprego em uma empresa, lembro de como me olharam com nojo. Mas dizem que na terra existem anjos e Maria foi um deles. Ela é uma velhinha maravilhosa que trabalha a dez anos na empresa e que conseguiu com que me dessem o emprego. Me ofereceu um quarto que estava para ser alugado ao lado da grande empresa porque ficaria mais fácil para mim ir cedo todos os dias e não correr o risco de ser despedida.

E assim foi, eu me esforcei e mudei minha vida totalmente. Confesso que sinto falta dos meus pais e que sinto falta de Naty também. Mas é melhor para eles me terem como desaparecida.

Meus olhos verdes estavam brilhando mais aquela manhã e meus cabelos pretos haviam crescido e já batiam em meus joelhos. Amarrei eles em um coque bem feito.

Sorri sabendo que aquele era o dia do meu pagamento e que eu ia poder fazer minhas compras do mês.
Era incrível como eu tinha amadurecido.

Olho para o relógio e vejo que se demorasse mais eu ia me atrasar, então pego minha bolsa e saio rápido.

Estava um dia ensolarado e assim que chego na porta da empresa Back vejo Maria em sua mesa de secretária recepcionista.

-Bom dia Maria! ~Falo animada lhe dando um abraço apertado e um beijo.

-Bom dia Juliana.~Ela fala sorrindo.

-Hoje vou fazer um jantar especial para nós duas.~Falo e ela revira os olhos.

Já falei que ela é uma velhinha muito fofa?

-Jantar? Comer pizza, lasanha e bolo de chocolate com refrigerante é jantar agora ?~Pergunta e eu rio alto.

Ficamos conversando mais um pouco e logo volto para o trabalho.

Lavei três banheiros e limpei sete salas de reunião. Apesar de não dar muito trabalho ainda assim a empresa era grande.

Em minha hora do almoço e fui ao refeitório que ficava ao lado, mas só conseguia pensar em meu salário.

Vários dos que ali trabalhavam já haviam tentado se aproximar de mim mas eu não deixava.

Sabe por que?
O coração é traiçoeiro e a mente burra. E já haviam ferrado comigo uma vez. Eu não ia deixar isso acontecer de novo.

Eu queria distância de todos os homens.

Eu odiava os homens.

Eles são uns idiotas.

Voltei do almoço e fui para a sala do meu chefe buscar meu pagamento mas me surpreendi ao ver que ele brigava com Maria.

-Minha resposta é não Maria. Juliana vai para a empresa de meu filho até eu resolver a crise da minha. Não estamos em condições de ter muitos empregados no momento. E se ela achar ruim mande-a ao olho da rua.~Ele fala e sai furioso da sala indo para sua reunião.

Maria sai triste.

-Esta tudo bem?~Pergunto e ela me abraça.

-Desculpa filha mas eu não posso fazer nada. ~Fala e eu sorrio.

-Tudo bem. Agora me explica o que aconteceu.~Peço e ela suspira.

-Nosso chefe o Sr.Samuel está com problemas na empresa e disse que vai precisar despedir alguns empregados. Isso inclui a você mas eu consegui garantir sua vaga para depois que tudo se acertar. Mas em compensação você terá que ficar na empresa do filho dele e ele sim é pior que o Sr.Samuel.
O rapaz é arrogante e temo que você não aguente ficar lá.

-Me escuta bem Maria. Todos esse tempo você me ajudou e sempre deu tudo certo, então não fica brigando com ele para não perder seu emprego. Não se precocupe que irei tentar nem esbarrar com esse cara na empresa. Vai dar tudo certo.~Falo e ela sorri mais animada.

O problema era que nem eu estava tão certa assim.

Naquele dia eu fui na outra empresa Back e se antes eu estava assustada agora então ia morrer.

A empresa era grande. Enorme. Gigante.

Como eu ia conseguir limpar tudo aquilo ?

Entro ainda de boca aberta e logo a recepcionista que era muito educada por sinal, me mostrou tudo e disse que a última sala que eu limparia seria a do meu novo chefe.

Ela disse que ele odiava ser encomodado.
Não gostava de ser interrompido.
Nunca falava muitos com os empregados inferiores e que era arrogante.

Mas o estranho mesmo é que ela disse que havia uma caixa azul na mesa dele onde nenhum empregado deveria tocar.

-Como é mesmo seu nome ?~Pergunto e ela abre um enorme sorriso.

-Kátia. E quando precisar de algo é só falar.~Me responde.

Ela era alta e de cabelos castanhos. Seu corpo parecia de uma modelo. Mas era simpática e isso era o que mais importava.

-Obrigada.~ Respondo lhe dando um abraço.

Comecei pelos banheiros novamente e quando deu cinco horas fui na sala do tal chefe.

Era tudo impecavelmente arrumado.

Sala grande com dois sofás pretos em um canto. Uma enorme mesa no centro.
Não havia flores por ali ou muito menos coisas coloridas.

Era tudo neutro.

Respirei fundo.
O vestido que me deram para trabalhar ali era azul e curto. Mas como eu tinha muito corpo acabou ficando apertado.
Meus seios queriam pular daquele uniforme e minha bunda estava muito mais muito apertada.

Aquela sala me dava arrepios.
Tudo era muito sombrio.

Comecei varrendo e logo fui tirar a poeira dos móveis. Ao chegar na mesa vi a tal caixa azul que parecia ser de vidro.

Não olhe na caixa de vidro Juliana. ~Meu subconciente me avisa.

Mas eu estava tão curiosa. O que haveria dentro dessa caixa que ele não deixava ninguém ver, tocar ou limpar ?

Me aproximei e vi que não estava trancanda com cadeados apenas estava bem fechada.

Não resistir.

Peguei a pequena caixa de vidro azul nas mãos e me preparei para abri-la quando uma voz rouca me fez paralisar.

- O que pensa que está fazendo?~Pergunta e tenho medo de me virar e ver quem é.

Sua anta.
Jumenta.

Você não deveria ter pegado a caixa.~Meu subconciente volta a falar.

Começo a me virar devagar e meus olhos encontram com os dele.

Não acreditei em quem eu vi.

Era ele.

Então o inesperado acontece.
A caixa escorrega de minhas mãos e se quebra espalhando o vidro e um pó pela sala.

Kátia aparece atrás dele e arregala os olhos assustada.

Ele fecha os olhos como se tivesse levado um soco mais ao abri-los vejo a fúria que se faz presente neles.

Eu estava ferrada.

Eu estava muito ferrada.