Capítulo 21

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Fecho os olhos e respiro fundo. Naty estava alí. Era ela. Nesse momento meu celular começa a tocar e vejo que é Gustavo. Dane-se ele também. Desligo o mesmo e vou em direção a porta.

Bato apenas uma vez. Minhas mãos tremiam e meu coração estava a mil.

-Já vou.~Escuto a voz dela gritar lá de dentro.

Respira Juliana.

Então a porta se abre. Ela estava com a pequenina no colo e ao me ver arregala os olhos.

Sinto as lágrimas se formarem e vejo que o mesmo acontece com ela.

-Naty. ~Falo sentindo a primeira lágrima escorrer.

-Juli.~Fala e nos abraçamos forte quase esmagando a garotinha.

- Eu sinto muito minha amiga. Sinto muito mesmo.~sussurra em meio as lágrimas.

- Fome mamãe. ~A garotinha fala e nós nos afastamos.

-Venha, temos muito o que conversar.~Fala me puxando pelo braço e eu entro.

Meu celular volta a tocar porém ignoro.

-Ela é sua filha?~Pergunto e ela afirma com a cabeça enquanto sentamos no sofá de sua humilde sala.

-Noemia é o nome dela. Mas eu a chamo sempre de Mia.~Fala e a garotinha sorrir.

-Olá Mia.~Falo e ela me surpreende ao sair do colo da mãe e vir sentar no meu.

Naty sorrir e eu faço o mesmo.

Eu agora sabia porque achava que a conhecia, ela parecia muito com a mãe.

-E então dá para me explicar o por que de ter mandado ela me dar aquele bilhete e de nunca ter ido falar comigo?~Questiono enquanto Mia desmancha meu coque e começa enrrolar meu cabelo com os dedos.

-É uma longa história.~Fala e eu me lembro que só vi as duas na casa.

-Naty você se casou? Quem é o pai de Mia? ~Pergunto e ela abaixa a cabeça ameaçando chorar.

-Eu vou te contar tudo Juliana. Apenas escute tá bem?~Pergunta e eu afirmo com a cabeça.

-A dois anos atrás estávamos indo para aquela maldita festa depois que eu praticamente te obrigue a ir. A noite estava sendo maravilhosa e já havíamos bebidos algumas cervejas e tequilas. Eu então resolvi dançar até que conheci um rapaz na pista de dança. Olhos castanhos e barba por fazer. Resumindo: ele era sexy.~Ela começa a falar e me lembro de quando a vi dançar com ele.
-Dançamos muito e demos uns amassos também, nada demais... ele então me disse que havia um lugar legal que queria me mostrar e que lá poderíamos beber um pouco e dar outros amassos. Ele já estava pra lá de bêbado mas eu uma tola caì na conversa daquele imundo. Ele me levou para um quarto e me trancou na mesma. Já estava cheirando a álcool e foi quando ele começou tirar a roupa que eu entendi suas intenções. ~Fala chorando eu sinto meu coração descompassado. Não podia ser...

-O que ele fez Natálya? ~Pergunto com um nó na garganta porque eu já imagina o que fosse.

-Aconteceu Juli. Ele foi mais forte e mesmo que eu gritasse e me debatesse ele me estuprou. Foi a pior noite da minha vida minha amiga. Quando eu saí de lá na madrugada mal imaginava onde você estava ou com quem. Pensei que talvez já tivesse ido embora então fui para minha casa. Lá chorei horrores mas isso não foi o pior. Descobri que você estava desaparecida e vi Carlos ficar doido a sua procura. Ele parecia realmente te amar. Sua mãe passou mal e foi parar no hospital várias vezes. Seu pai era sempre o exemplo da calma. Eu tentei te achar e quiz denunciar na polícia mais seus pais e Carlos me proibiram e não sei o por que mas até hoje me arrependo de não ter feito.~Fala triste.

-Está tudo bem agora.~Falo segurando a mão dela e percebo que a pequena Mia já está se aconchegado em mim com cara de sono.

-Mas um mês depois foi que eu quiz morrer. Eu descobri que estava grávida Juli. E o pior era saber quem era o pai.~Fala e seu choro aumenta. A pequena se assusta e abraço Natálya de lado tentando acalma-la.

Meu coração não ia aguentar ouvi o resto.

Meu celular volta a tocar e eu ignoro.

-Eu comecei fazer exames e escondi dos meus pais a minha situação. Sabe o que é você planejar se casar, ter filhos com a pessoa que ama e derrepente ver isso acontecer na sua vida?~Questiona com amargura.

-Imagino o quanto foi difícil minha amiga. Mas você se superou não foi mesmo? Tem o seu lar, sua doce Mia. ~Começo a falar e ela sorrir olhando a filha.

-No início eu me perguntava se eu estava pronta ou se eu ia conseguir criar uma criança, olhando para ela e lembrando de tudo. Então fui ao encontro de meus pais e eles não me apoiaram ao saber que  eu estava grávida e mal sabia quem era o pai. Tive que saí do meu emprego por causa do mal estar que a gravidez me trouxe e vi minha vida desmoronar bem diante dos meus olhos. Sem emprego, sem apoio, sem nada.~Fala com raiva na voz.
-Então eu tive que vender minha casa e resolvi me mudar e acabei vindo parar aqui. O Aluguel era barato e eu trabalho em um restaurante lavando os pratos aqui perto.

- Sinto muito Naty. Sinto muito mesmo...

-Não sinta Juli. Quando eu completei os noves meses eu já amava Mia com todas as minhas forças, eu estava disposta a lutar por ela. Então no dia dela nascer lembro que estava voltando do restaurante quando senti as dores e caì no chão e um belo rapaz que saia de dentro de um táxi ao ver meu estado veio me ajudar.~Ela fala e da um pequeno sorriso como se lembrasse.

A essa altura Mia já dormir em meus braços com os dedos enrolados em meus cabelos.

-Um rapaz? Um belo rapaz?~Questiono de sobrancelha erguida e ela sorrir.

-Ele me ajudou a ir ate um hospital. Ficou nervoso e sem saber o que fazer enquanto eu gritava lá, o coitado parecia ter apenas um ano a mais que  eu. 19. Ao chegar afobado no hospital ele atropelava as palavras e o médico achou que ele era o pai. Então o fez assistir meu parto. Tem como ser mais constrangedor ?~Pergunta e ambas sorrimos. Então o olhar dela se torna meigo.

-E então minha pequena nasceu e até o tal rapaz se emocionou. Foi lindo Juli. Foi mágico. Só que eu fiz algo que me arrependo até hoje.~Fala abaixando a cabeça.

-O quê?~Pergunto.

-Eu saí um dia do hospital sem avisar ao tal rapaz e voltei para minha casa sem agradecer. Eu sei que foi tolice Juli mas eu era imatura e mal sabia o que era responsabilidade. Então esses dois anos depois eu te vi e passei a te observar de longe. Sempre alegre. Na Praça uma vez e outra pintando a casa com um homem gatão. Eu achei que você estava bem de vida e tive vergonha de que soubesse meu estado. Mas depois de muito te observar eu tomei coragem e fiz minha pequena lhe da aquele endereço. Se você viesse tudo bem e se não eu acho que nunca teria coragem de ter ido falar contigo. ~Fala e eu a abraço quase voltando a esmagar Mia.

Ah se ela soubesse o que eu passei.
Ambas choramos abraçadas e eu percebi que nunca devia ter reclamado da minha vida e sim aproveitado.

Naty tinha uma marca do passado em sua filha e ainda assim a amava e Eu? Eu tinha me reeguido e tinha pessoas que me amavam. Tinha Maria e tinha Gustavo que por mais que eu estivesse chateada com ele eu sabia que ele estaria lá caso eu precisasse.

Então por que eu ainda não tinha dado o devido valor que essas pessoas mereciam?

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