Capítulo II

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A ação imediata do Mensageiro foi se sentar preguiçosamente, sentindo uma imensa dor não somente nas pernas, mas também nas costas. Depois de horas, um descanso como aquele era merecido, ainda mais porque precisava chegar até o seu objetivo principal. Porém, antes de pensar neste assunto, fechou os olhos e buscou respirar fundo, a fim de recuperar o fôlego.

“Nunca fiquei tão feliz em ver uma pedra no meu caminho”, pensou o Mensageiro. “Se Carlos Drummond de Andrade passou por uma situação semelhante à minha, não me admira ele ter feito um poema baseado numa pedra!”

Passados poucos minutos, estava prestes a retomar o seu senso de localização quando se recordou da presença de um homem ali por perto. O Mensageiro estava tão contente por encontrar um ponto de descanso, que sequer dera atenção ao sujeito. Assim, como não tinha ideia de onde estava, não custava nada buscar informações com algum cidadão local.

— Ei, homem! Você, que está sentado aí sem fazer nada, venha até aqui! — disse o Mensageiro, chamando-o com a sutileza de um lorde Inglês.

O sujeito, de barba média, cabelos negros com alguns fios brancos na altura dos ombros e pele morena bronzeada pelo sol, ergueu a cabeça calmamente, sem se deixar levar pelo pedido apressado do Mensageiro. Assim, levantou-se com a mesma calma, ajeitando sua roupa que mais parecia uma camisa larga, comprida e amassada, que chegava na altura dos pés. Não era de cor branca. Estava mais próxima do criativo tom pastel empoeirado, cor que o Mensageiro já estava começando a repudiar devido à tamanha frequência de aparição por aquelas terras.

Por um momento, simplesmente ficou parado, observando com atenção. Depois, com passos curtos, pôs-se a caminhar na direção de quem o havia chamado. Porém, ao invés de agir, apenas aguardou em silêncio, tentando entender a necessidade do Mensageiro e esperando que este se manifestasse primeiro.

— Desculpe-me, senhor. Sei que estou incomodando, mas é necessário. Onde eu estou? — perguntou, desta vez de forma mais educada. Tamanha era sua preocupação em chegar, que sequer se dera conta de que já havia chegado ao seu destino. Porém, a missão ainda residia em encontrar seu personagem principal. Enquanto isso, o estranho se sentou próximo do Mensageiro, esboçou um singelo sorriso e comentou, transmitindo tranquilidade em seu tom de voz:

— Descansa um pouco, retoma o fôlego. Verás que alguns minutos a mais ou a menos não farão diferença — disse o estranho com uma calma sobrenatural, como se já o conhecesse há muito tempo. — Agora, refaz as forças. Teus olhos me contam que tens algo para mim. Fica tranquilo, não sairei de perto de ti.

Com aquelas palavras saídas da boca do estranho, o exausto Mensageiro, que àquela altura já estava sem fôlego, quase desmaiou. Aquela aparência, aquela postura, aquela expressão denotando sabedoria, tudo o levava a crer que estava diante de seu alvo. Porém, ainda não era momento para tirar conclusões.

— Quem é você senhor?

— Meus irmãos me chamam de Mestre — respondeu o homem, esboçando um sorriso simpático. — Respira fundo, escuta o vento, o barulho das folhas, os pássaros. Enfim, descansa um pouco. Depois escutarei o que tens a me dizer.

O Mensageiro se mostrou um pouco desconfiado pela reação do sujeito. Como ele sabia que havia uma mensagem a ser entregue? Tudo estava um pouco esquisito, mas a julgar pela reação pacífica do homem, não havia mal algum em seguir o seu conselho e descansar um pouco. Do local onde estava, era perfeitamente possível ver o belo pôr do sol na direção oeste, que jogava aos céus a coloração alaranjada de fim de tarde. Era um local muito calmo e silencioso, que além de possuir uma bela vista, fazia com que as reflexões interiores predominassem na mente de seus visitantes.

As Últimas LembrançasWhere stories live. Discover now