Capítulo XXVI

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— Agradeço, reverendo. A propósito, que projeto é esse?

Ângelo preferiu passar longe dessa pergunta, tanto que imediatamente lançou um olhar para Ferdinand, para que ele se responsabilizasse com a resposta. Nada mais justo, afinal, agora ele era seu superior.

— Eu acredito que nossos nomes estarão na lista de suspeitos até que o senhor encontre o verdadeiro assassino — respondeu Ferdinand, de forma evasiva, o que deixou Ângelo satisfeito e Sniffer bastante zangado.

— Reverendo, me perdoe, mas não entendo alguns segredos que giram em torno do Vaticano.

— Então, o senhor quer saber todos os segredos que, na sua cabeça, existem no Vaticano? Quer dizer que o fato de o padre Giovanni estar morto é de menor importância?

— Estou aqui para investigar a morte do padre Giovanni a pedido oficial do próprio Vaticano — corrigiu-se Sniffer. — O senhor oficializou isso, reverendo.

— Eu sei, inspetor — respondeu Ferdinand, que mantinha seu olhar firme no investigador, como se nada o abalasse. Ao mesmo tempo, Ângelo se perguntou como o arcebispo conseguia se manter tão calmo e calculista em uma situação daquelas. Realmente, o peso da idade, somado à sua vasta experiência de vida, deviam ter lhe proporcionado aquela capacidade. — O que o senhor acha de continuarmos a investigação com a abertura do laboratório de Estrôncio? 

— O senhor ajudaria muito com isso, reverendo — disse Sniffer, se mostrando satisfeito. Ângelo, ao contrário, sentiu novamente um gelo percorrer todo o seu corpo.

— Tem certeza disso, reverendo? — perguntou o Mensageiro, estalando os olhos.

— É necessário, Ângelo, que o investigador tenha acesso a algumas coisas, sem que com isso ele se desvirtue do objetivo principal. Fui claro, investigador?

— Eu não sei se entendi direito. — disse Sniffer, agora um pouco desconfiado. Era incrível como as emoções variavam rapidamente naquela conversa entre os três. — O senhor quer dizer que lá há coisas sobre as quais  não devo perguntar, pois não dizem respeito ao assassinato?

— Exatamente.

— Ora, reverendo, quem tem que concluir algo sobre isso, sou eu. Para tanto, deverei saber de tudo. — Sniffer era ardiloso o suficiente para arranjar motivos para descobrir o máximo possível. Desde jovem acreditava que o Vaticano guardava muitos segredos por trás de seus portões, e aquela era uma chance incrível de descobrir um dos lados podres daquele minúsculo país. Seria, para ele, uma realização pessoal desvender um de seus segredos.

 — O senhor não está sentado em sua casa, investigador. — Ferdinand mantinha um belo sorriso em seu rosto, mostrando todos os dentes brancos corretamente enfileirados. — O Estado do Vaticano é soberano, inclusive para este caso. Se o senhor não tem a capacidade de fechar os olhos para algumas coisas, então terei que pedir para que seja substituído.

Sniffer sabia da possibilidade de uma substituição, e era justamente isso o que mais temia. Não restou alternativa senão baixar a cabeça e concordar, guardando para si, somente, a maravilhosa ideia de que pelo menos iria vislumbrar um dos segredos escondidos entre quatro paredes. Por mais que não pudesse saber a seu respeito, pelo menos descobriria sua real existência. A descoberta dos motivos, pensou ele, poderia ser deixada para depois.

Enquanto Ângelo suava em bicas devido ao nervosismo, por mais que tentasse disfarçar da melhor forma possível, Ferdinand calmamente pegou o telefone e ligou para o chaveiro, mandando que se dirigisse até a sala de Estrôncio e a abrisse para a equipe do investigador. Quando terminou a chamada, o arcebispo abriu a última gaveta de sua escrivaninha e tirou uma pequena chave de lá de dentro, entregando-a para Sniffer.

As Últimas LembrançasWhere stories live. Discover now