Capítulo XIV

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— Posso saber por que diabos vocês estão causando essa confusão? — disse o ser que causara a sombra, com sua voz de trovão. Ângelo virou-se lentamente, e então pôde observar que aquele homenzarrão era um dos guardas que estava guardando o templo. Usava o uniforme característico dos centuriões, um traje muito bem adornado e de aparência pesada, que deixava claro seus músculos, principalmente os dos braços. Para melhorar a situação, o sujeito devia ter, no mínimo, 1,93 de altura. Para Ângelo, aquilo já era comparado à Torre Eiffel.

— Confusão? Que confusão? Não há confusão nenhuma aqui — tentou explicar Ângelo, gaguejando um pouco, dando-se conta de que aquilo não ia funcionar.

— Não estou interessado em ouvir o que tens a dizer — trovejou o centurião, dirigindo seu olhar maligno para os dois pobres indivíduos amedrontados. — Mexam-se!

Sem contestar uma palavra sequer, os dois caminharam à frente do guarda, indo em direção ao outro que aguardava no portão do templo. Enquanto caminhavam a passos lentos, podiam ouvir perfeitamente o barulho da armadura que completava o uniforme do guarda que os seguia, tal como o chacoalhar de sua lança junto ao metal prateado. Por um momento, Ângelo pôde jurar que estava andando em direção à sua morte.

— Estes são os arruaceiros? — perguntou o guarda que aguardava no portão, tão gigante, tão forte e tão feio quanto o primeiro. A diferença era que este mantinha uma espada embainhada próxima de sua cintura, e que havia uma imensa e monstruosa espinha em sua bochecha esquerda.

— Sim. Estavam causando confusão logo ali na frente — respondeu o Voz de Trovão.

— Escutem aqui, pequenos insetos, seria bom se não ousassem começar uma confusão na frente de um templo. — rugiu o Espinha Gigante, aproximando-se do rosto de Ângelo, ficando a menos de quinze centímetros de distância. Neste momento, Ângelo soltou um grunhido que mais pareceu um cacarejo de galinha, tamanho desespero em se manter longe daquela protuberância amarelada e imensa, que parecia que ia explodir e espirrar todo seu conteúdo em sua cara a qualquer momento. — Estamos entendidos?

— Sim, sim, estamos, claro que sim! Pode deixar que estamos, seu guarda! Por favor, nos deixe ir! — exclamou Ângelo, desesperado. Se ficasse mais tempo perto daquela espinha, provavelmente iria vomitar. Para sua infelicidade, o guarda não se moveu um centímetro sequer.

— E por que eu deveria deixá-los ir? Odeio arruaceiros.

— Cala-te, Ângelo! Pelo amor do Pai, abaixa a cabeça e obedeçe — sussurrou Judas, que estava sendo observado por Voz de Trovão.

Rapidamente, Ângelo abaixou a cabeça em total submissão, porque de fato não estava com vontade de começar uma confusão com guardas daquele porte. Judas, por sua vez, foi mais esperto. Com a ideia de mudar de assunto, a fim de distraí-los, começou a fazer perguntas inocentes e bem intencionadas.

— Mas, senhores, que riquezas existem neste templo que exigem guardas em seus portões? — perguntou o apóstolo, com o sorriso mais simpático e humilde que conseguiu estampar em sua face. — Eu e meu amigo estávamos especulando a respeito.

— Ora, nós estamos aqui para evitar que arruaceiros como vocês dois invadam e profanem o templo! — respondeu Espinha Gigante, que resolveu se afastar um pouco de Ângelo, para sua imensa alegria.

— Afinal, quem teria coragem de invadir um templo? — perguntou novamente Judas, com a mesma expressão de antes.

— Por que dizes isso? É de conhecimento de muitos que estamos procurando pelo último que entrou aqui e desafiou os anciãos! Se sabes de algo, trata de contar! — esbravejou Voz de Trovão. Era difícil definir qual dos dois causava mais medo, Voz de Trovão, com todo seu porte intimidador, ou Espinha Gigante, com sua arma secreta implantada na bochecha.

As Últimas LembrançasWhere stories live. Discover now