Assim, não tardou para que o Mensageiro se ajoelhasse e beijasse os pés do Mestre, pois estar na presença daquela figura única era algo inexplicável, ainda mais para um jovem homem como o Mensageiro. Certamente, pensou ele, jamais alguma outra pessoa de sua época teve, ou sequer teria, a chance de estar em seu lugar.
— Sei que encontraste o que procuravas. Porém, tu te encontraste? — disse lentamente o Mestre, ao erguer pelos ombros o homem que beijava seus pés.
Ainda em estado de choque causado por aquele encontro inacreditável, tudo o que o Mensageiro possuía era uma boca vazia de palavras. Estava tão surpreso que, apesar de ter ouvido a pergunta do Mestre, não foi capaz de raciocinar o suficiente a ponto de respondê-la. Seu olhar apresentava um misto de admiração, surpresa e devotamento, tendo plena certeza de que sua expressão facial devia estar, no mínimo, igual à de um jovem humilde que vira uma Ferrari vermelha estacionada em sua garagem.
— Caraca, nem acredito... Qual é o lance, véio? — Foram as únicas palavras que o Mensageiro conseguiu pronunciar, com um sorriso extasiado estampado em seu rosto. De fato, uma eloquência de causar inveja.
— Meu irmão, tuas palavras são estranhas para mim. Não me lembro de tê-las ouvido em outras terras — disse o Mestre, visivelmente confuso com as palavras do Mensageiro.
Ao dar-se conta das gafes em relação ao vocabulário, tentou medir com mais cuidado as palavras, apesar de a emoção ainda estar ocupando de forma muito intensa qualquer pensamento.
— Mestre, perdoe este seu pobre seguidor — disse o jovem Mensageiro, com um leve gaguejo. — Peço que esqueça minha falta de compostura, mas precisamos conversar sobre um assunto muito importante. Os ponteiros do relógio, digo... as areias do tempo se vão muito rápido, e achá-lo nessas condições foi uma dádiva de Deus.
O Mestre não tinha ideia do motivo da visita, mas com sua generosidade única tentou convencê-lo a descansar e a comer um pouco, no intuito de recuperar as energias visivelmente esgotadas. Para tanto, também tentou guiá-lo ao encontro dos outros irmãos, também considerados Mensageiros – porém, mais conhecidos como Apóstolos.
— Vem comigo, meu irmão, quero que conheças os outros — disse o Mestre, empurrando sutilmente o Mensageiro pelas costas, na intenção de guiá-lo. — Todo problema ou assunto poderá ser discutido amanhã, com teu corpo já revigorado. Antes, refaz tuas forças. Sinto que teu corpo quase não suporta mais o fardo que carregas. Descansa e conta-nos sobre as terras de onde vens.
A felicidade era tanta que o Mensageiro sequer se esforçou para contê-la. Havia um sorriso exageradamente largo em seu rosto isento de rugas, o que o deixou com uma expressão de surpresa misturada com admiração.
Porém, apesar de toda a curiosidade para conhecer aqueles personagens tão famosos e importantes na historia, tinha consciência de que seu tempo era curto. Havia muito a ser tratado, e por mais gentil que fosse a oferta do Mestre para que ficasse, sabia que deveria recusá-la a fim de cumprir a segunda etapa da missão que recebera de seus superiores.
— Mestre, o bicho está pegando! — O Mensageiro estava tão perdido em sua emoção que novamente se deixou levar pelo hábito linguístico adquirido em seu trabalho. Esta era uma mania difícil de ser mudada. — Quero dizer, nós precisamos mesmo conversar. Antes de qualquer coisa você precisa me escutar.
— Escutar-te? Mas é claro... Já o fiz em outros momentos de minha vida — comentou o Mestre, com tua expressão serena e um sorriso crescendo vagarosamente em seus lábios. — Pensas que não me lembrei de ti? Vem, devemos celebrar sua chegada junto aos irmãos que ainda não te conhecem. Deves contar como fizeste para ficar mais jovem. Perdoa por não ter te reconhecido no primeiro olhar.
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As Últimas Lembranças
Historical FictionSinopse: Não se engane o leitor se, ao ler os primeiros capítulos, pensar que se trata de um tema meramente religioso. Na verdade, o livro explora uma alternativa para a historia Cristã relacionada com a traição de Judas, ao mesmo tempo em que...