Capítulo XI

11 0 0
                                    

Ainda era de tarde quando Ângelo saiu de sua casa em direção à Academia de Ciências, setor dentro do Vaticano onde ficava o escritório de Giovanni. Não fosse pelos longos anos em que o Mensageiro vivera naquele lugar, poderia facilmente se perder por entre os corredores acinzentados e parecidos, sem qualquer detalhe atrativo. 

Após passar pela Guarda Suíça e atravessar longos corredores, Ângelo decidiu dar uma passada na alfaiataria para entregar as largas vestes ao padre costureiro, mais conhecido por todos como padre Walter Westebem. Ângelo costumava brincar com o padre, dizendo que o nome era muito apropriado a ele devido às circunstâncias, mas ultimamente não tinha muito o que agradecer quanto ao tamanho e caimento de suas novas vestes.

— Padre Westebem, como está o senhor? — disse o Mensageiro, entrando no salão da alfaiataria, que tinha um agradável cheiro de tecido mofado, ironicamente falando. O salão não era dos maiores, mas tinha diversos apoios de aço para roupas e duas máquinas de costura antiquadas, sem contar o sem número de cabides e tecidos dobrados, de colorações tão vibrantes que poderiam servir de vestes para um funeral. 

— Tudo bem, Ângelo. O que posso fazer por você? — respondeu o padre com um tom de voz entediado, erguendo os olhos por sobre os óculos, não se mostrando muito alegre por ter sido interrompido em sua costura.

— Essa roupa aqui, padre... — respondeu, entregando-lhe a peça já lavada e dobrada. — Ela está errada. Olhe para esta que visto, por exemplo. É do mesmo tamanho desta outra que lhe entreguei, mas perceba que há algo de errado: o capuz é enorme! Você está de brincadeira comigo! Na verdade, essa roupa me faz parecer o Luke Skywalker! Tem como modificá-la? Não gosto de ficar sendo notado na rua o tempo todo.

— Modificar? — perguntou o padre, mantendo a mesma expressão entediada de outrora.

— Sim, talvez o tamanho... Ou o estilo, sei lá.

— Está lavada? — perguntou novamente, reparando no cheiro.

— Claro, padre! Sou eu, né! Eu cuido muito bem das minhas coisas.

— Que é você, eu sei — respondeu Westebem, desdobrando a roupa para analisá-la melhor. — Por isso perguntei se está lavada.

— Como assim, padre? As pessoas falam muita besteira a meu respeito. Cuidado, pois nem tudo é verdade! — exclamou o Mensageiro, abrindo os braços.

— Sei... Se for o seu desejo, posso até consertar, mas somente quando tiver tempo. Tudo bem? — E então, com todo o cuidado de um ogro, Westebem atirou para uma bancada próxima a roupa de Ângelo, voltando sua atenção à máquina de costura.

— Pode ser, padre, mas me avise quando estiver pronta.

Westebem apenas resmungou alguma coisa que Ângelo presumiu ser um “sim”, e então saiu da alfaiataria para se dirigir à sala de Giovanni, levando consigo seu relatório. Quando estava se aproximando, já do corredor pôde ouvir alguns sons saindo através da porta entreaberta.

— Licença? — perguntou o Mensageiro, batendo três vezes na porta.

— Entre, Ângelo, entre — disse Giovanni, que parecia estar organizando os livros de sua estante. — Feche a porta e sente-se.

Ângelo obedeceu, reparando que o escritório estava mais bagunçado do que o normal. E muito mais sujo, também. Presumiu que Giovanni estivesse realizando uma limpeza.

— Como está indo nesta primeira missão oficial, Ângelo? — perguntou, deixando a bagunça de lado para se sentar em uma cadeira livre.

— Bem, podemos classificar em dois tipos de problemas. Os primeiros podemos chamar de “técnicos” — disse Ângelo um pouco constrangido, logo sendo interrompido por Giovanni com um expressivo “Como assim?”, antes que pudesse continuar a falar: — Então, todo mundo sabe que o Mestre foi encontrado e aprisionado no Monte das Oliveiras, certo?

As Últimas LembrançasWhere stories live. Discover now